Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Geraldo Blay Roizman (USP)

Minicurrículo

    GERALDO BLAY ROIZMAN, 1965, é cineasta e artista plástico desde 1989, Arquitetura e Urbanismo pela PUCCAMP 1987, Mestrado em Artes Visuais UNESP/SP intitulado “Mário Peixoto, um olhar fenomenologico“ de 2003. Doutorando desde março de 2015 no Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais, Linha de Pesquisa: História, Teoria e Crítica na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

Ficha do Trabalho

Título

    Edgard Navarro e o Corpo do escracho

Seminário

    Corpo, gesto e atuação

Resumo

    Se fossemos localizar O Rei do Cagaço, 1977, dentro do universo cinematográfico de Edgard Navarro, ele faria parte, de forma mais geral, do chamado surto superoitista no Brasil, e do grande ciclo de filmes realizados em Super-8 na década de 70 que participaram de festivais da época, especificamente das chamadas Jornadas de Cinema da Bahia, e que possuíam, em geral, um forte teor provocativo ao mesmo tempo poético e político, e principalmente um sentido muito preciso de despojamento.

Resumo expandido

    A flexibilização da linguagem possibilitada pela novidade da bitola nos anos 1970. seria a maior característica desses filmes provocadores, estimulados pelo contexto das Jornadas de Cinema na Bahia e O Rei do Cagaço faz parte, como o próprio diretor nomeia, da chamada “tríade freudiana”, junto com Alice no país das mil novilhas, de 1976 e Exposed, de 1978. Essa qualidade provocativa se tornaria mais do que uma peculiaridade, um verdadeiro estilo, a partir de um agudo sentido estético de experimentação. A utilização original da câmera Super-8 como produto de consumo para o lazer doméstico, na mão de artistas e poetas, vai adquirindo olhares mais inquietos sobre a cidade e sua fauna urbana, sobre as locações turísticas, descobrindo aos poucos as potencialidades expressivas da bitola. A questão mais importante, principalmente no caso de Navarro, será epatér la burgeoisie, ou surpreender a expectativa e romper com um comportamento dito respeitável. A questão do corpo, neste sentido, se apresentaria neste momento histórico como eixo fundamental de quebra de padrões no que tange à possibilidade da manutenção da existência do individual, do particular e o superoitismo veio juntar este engajamento ao universo cinematográfico de democratizar o processo artesanal ao nível do faça você mesmo, libertador, portanto, de esquemas de produção num momento do país de explosão da tensão entre forças sociais conservadoras e libertárias vinculadas á contracultura, ao tropicalismo, ao sexo drogas e rock and roll, ao comportamento outsider, hippie, a loucura e a psicodelia. O escracho nas imagens e na locução livre serão utilizados por Navarro de uma forma prosaica, contrastados com imagens de gestos corpóreos subversivos relativos à ordem social e que funcionarão portanto, como destutelamento neste momento repressivo do país sobre ainda sobre égide da ditadura civil-militar. Procederá Navarro de forma surpreendente neste filme, enfim, como uma forma perversa polimorfa escrachada, uma conspurcação lírica e suja de atingir o aparelho repressivo de um país conservador até a medula na sua patológica e falocêntrica retenção anal histórica, através do descobrimento do corpo sublimado da infância na vida adulta, libertando-se, desta forma, ao evacuar o próprio tempo histórico expelido como excremento.

Bibliografia

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