Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Luisa de Castro Coimbra (UFMG)

Minicurrículo

    Doutoranda em Artes, na linha de cinema, pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Mestre pelo programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, com estágios sanduíches na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e na Universidad Nacional del Litoral – UNL , em Santa Fé, Argentina. Graduada em Comunicação Social – Rádio e TV pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC.

Ficha do Trabalho

Título

    Vadiação e Dança de Guerra: a capoeira no cinema

Seminário

    Cinema comparado

Resumo

    A partir dos documentários Vadiação (1949), de Alexandre Robatto Filho e Dança de Guerra (1968), de Jair Moura o que propomos é observar tanto no enredo, como nos procedimentos estéticos adotados, de que forma a capoeira aparece na narrativa e o que a sua abordagem nos diz sobre as relações entre quem filma e quem é filmado. O que pretendemos com esse gesto aproximativo é perceber possíveis diálogos e as relações de alteridade que se estabelecem entre as obras.

Resumo expandido

    Sem que se perca a singularidade de cada obra, por filmes em relação, possibilita compreender as especificidades de cada um. Importa para o trabalho aqui apresentado o entendimento de que as obras estão em relações de alteridade com outras e que interessa ao pesquisador não apenas seu exame, mas observar de que maneira está situada no mundo, que companheiros encontra, a relação com a produção contemporânea, com seus antecedentes e como prefigura um porvir” (SOUTO, 2016).

    A partir dos documentários Vadiação (1949), de Alexandre Robatto Filho e Dança de Guerra (1968), de Jair Moura o que propomos é observar tanto no enredo, como nos procedimentos estéticos adotados, de que forma a capoeira aparece na narrativa e o que a sua abordagem nos diz sobre as relações entre quem filma e quem é filmado. O que pretendemos com esse gesto aproximativo é estabelecer possíveis diálogos entre as obras. Nesse sentido, seguimos inspirados pelos escritos de Ismail Xavier (2007), quando diz que “a melhor análise é aquela que enriquece a percepção das diferenças, dos conflitos, da mútua negação existente entre estilos alternativos” (p. 14). Segundo o autor, caracterizar um trabalho é também dizer sobre o que ele não é, marcando, assim, os pontos de transformação.

    Com a verba advinda de filmes de encomenda e de seu ofício como dentista, Alexandre Robatto Filho conseguia os meios financeiros que tornaram possíveis registros como Vadição, ou seja, trabalhos mais autorais, cujos temas ele escolhera filmar, empregando uma elaboração documental diferentes dos filmes de cavação que realizou ao longo de sua trajetória como cineasta. O storyboard, assinado pelo artista plástico Carybé, ganhou vida em uma das salas do Teatro Castro Alves, provocando o deslocamento de uma expressão cultural tradicionalmente apresentada nas ruas. Parece-nos significativo o gesto de transpor para dentro de um teatro uma manifestação pública. Desse ato, não perdemos de vista as facilidades obtidas quando se delimita um espaço de ação, no qual se pode controlar as variáveis de luz e melhor seguir o roteiro pré-estabelecido. Para além dos aspectos de ordem técnica, a potência desse deslocamento se manifesta, tanto pelo viés de uma tomada de consciência sobre a importância do documento que se fazia naquele instante – com a presença de jogadores e mestres importantes no processo de descriminalização da capoeira – como também materializa as relações estabelecidas entre realizador e personagem, uma vez que Robatto Filho, não pertencia àquele universo ali retratado. O não pertencimento também fica exposto pela montagem fílmica. Distante, a câmera registra as ações dos jogadores, as habilidades dos tocadores e o público que assiste, no entanto, quando um dos participantes olha diretamente para a câmera, se estabelece uma aproximação: assumindo o papel de um dos jogadores, a câmera adentra a roda e cai na ginga com os ágeis capoeiristas, recebendo os golpes, balanceando-se nas esquivas. O gesto final retoma o distanciamento, investindo novamente o olhar daquele que vê de fora – mas com interesse –, demarcando o lugar de quem se move pelas fendas capazes de promover o intercâmbio de vivências tão distintas.

    Já Dança de Guerra foi dirigido por Jair Moura, que além de pesquisador era também capoeirista. Sem deixar de mostrar o que acontecia durante a roda, o curta-metragem – numa abordagem mais ampla – apresenta a capoeira inserindo-a no contexto da cultura afro-brasileira. Pelas imagens vemos os aspectos musicais, a religiosidade, a cadência e os passos de samba e também o jogo sendo praticado na rua, em locais públicos, como a Rampa do Mercado e o Cais do Porto. Pelo conhecimento e experiência de quem filma, a narrativa ganha relevo, investindo o registro fílmico em um caráter simbólico que visa, para além de documentar, evidenciar as relações políticas, culturais e sociais envoltas na prática da manifestação.

Bibliografia

    OLIVEIRA, Josivaldo P; LEAL, Luiz Augusto P. Capoeira, Identidade e Gênero: Ensaios sobre a história social da Capoeira no Brasil. Bahia: EDUFBA, 2009.

    RISERIO, Antônio. Uma história da Cidade da Bahia. Rio de Janeiro: Versal, 2004.

    SETARO, André; UMBERTO, José. Alexandre Robatto Filho: pioneiro do cinema baiano. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1992.

    SOUTO, Mariana. Infiltrados e invasores – uma perspectiva comparada sobre as relações de classe no cinema brasileiro contemporâneo. [Tese de Doutorado]. Belo Horizonte: FAFICH-UFMG, 2016.

    XAVIER, Ismail. Sertão mar: Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo: Cosac & Naify, 2007.