Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Everaldo Asevedo Mattos (UFBA)

Minicurrículo

    Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da FACOM/UFBA e bolsista do CNPq. Graduando do Bacharelado Interdisciplinar em Artes, com concentração em Cinema e Audiovisual, pelo IHAC/UFBA. Pesquisador do Núcleo de Análise Fílmica do Laboratório de Análise Fílmica (Pepa). Bacharel em Direito pela UCSal – Universidade Católica do Salvador.

Ficha do Trabalho

Título

    “New Queer Cinema” e traços de heroísmo no cinema gay de Karim Aïnouz

Resumo

    Propõe-se a análise, à luz dos enunciados da teoria “queer” e do “New Queer Cinema”, da representação da sexualidade dos protagonistas homossexuais dos filmes “Madame Satã” (2002) e “Praia do Futuro” (2014), ambos roteirizados e dirigidos pelo cineasta brasileiro Karim Aïnouz, bem como o possível enquadramento da construção narrativa da jornada destes personagens sob os moldes do herói monomítico/clássico ou do herói moderno/anti-herói, de forma a ressaltar o valor simbólico desta representação.

Resumo expandido

    Nascido em Fortaleza, em 1966, o diretor brasileiro Karim Aïnouz mudou-se para Nova York em 1989, onde iniciou um mestrado em Teoria do Cinema na New York University e teve contato com o movimento que viria a ser cunhado por B. Ruby Rich como New Queer Cinema, oriundo de um desejo de diversos realizadores audiovisuais de buscar repensar a representação de personagens homossexuais no cinema, “fazendo algo novo, renegociando subjetividades, anexando gêneros inteiros, revisando histórias em suas imagens”, conforme referido pela própria Rich em seu ensaio que acabou por dar nome a esse mo(vi)mento. Flagrantemente influenciados pelos estudos queer, diversos cineastas desta época passaram a levar para as telas de cinema representações de personagens LGBT que negavam os estereótipos até então presentes nos filmes e denunciados em obras como o ensaio Stereotyping (1977), de Richard Dyer, e o livro The Celluloid Closet (1987), de Vito Russo. No Brasil, a denúncia destes estereótipos na filmografia nacional foi largamente consolidada por Antônio Moreno, com o lançamento, em 2001, de seu livro A personagem homossexual no cinema brasileiro. E foi a partir da experiência acumulada em seu contato com todas essas referências teóricas e com os próprios filmes que viriam a ser reconhecidos como exemplos seminais do New Queer Cinema, a exemplo de Veneno (1991), de Todd Haynes, no qual atuou como assistente de elenco, eletricista e assistente de edição, e de Swoon – Colapso do Desejo (1992), de Tom Kalin, no qual atuou como assistente de edição, que Karim Aïnouz compôs aquele que viria a ser seu primeiro longa-metragem como roteirista e diretor, Madame Satã, e imediatamente se consolidou como um dos expoentes da teoria queer do cinema, reverenciado, inclusive, por Robert Stam em sua obra Introdução à Teoria do Cinema.
    Neste contexto, entende-se importante analisar a representação da sexualidade dos protagonistas homossexuais dos filmes “Madame Satã” (2002) e “Praia do Futuro” (2014), ambos roteirizados e dirigidos por Karim Aïnouz, à luz dos ensinamentos da teoria queer e do New Queer Cinema, bem como o possível enquadramento da construção narrativa da jornada destes personagens sob os moldes do herói monomítico/clássico ou do herói moderno/anti-herói, ressaltando e reforçando, assim, o valor simbólico desta representação, no contexto do cinema gay brasileiro. Com apenas estes dois longa metragens protagonizados por personagens LGBT em seu currículo como diretor, Aïnouz parece ter conseguido retratar um espectro da diversidade do homem homossexual e de suas lutas heroicas, externas e internas, para ser e viver sua sexualidade perante sua família e perante uma sociedade que insiste em estereotipá-lo e marginalizá-lo. Influenciado por seus aprendizados durante sua estada em Nova York no momento em que se consolidava o New Queer Cinema, Aïnouz buscou, através das jornadas de João Francisco, em Madame Satã, e de Donato, em Praia do Futuro, ressignificar as possibilidades de representação de personagens gay em filmes brasileiros, envolvendo suas trajetórias numa aura de possível heroísmo, na tentativa de trazer outros olhares acerca do universo de pessoas que constantemente enfrentam violências e discriminações em razão de sua identidade, expressão de gênero, orientação sexual.
    A partir desses pressupostos, portanto, objetiva-se enxergar as citadas obras e seus protagonistas como representativos de um cinema gay brasileiro do século XXI, distinto daquele analisado, no século XX, por Antônio Moreno e contemporaneamente alicerçado numa tentativa de ressignificação da representação de seus personagens. Além disso, busca-se também identificar atitudes, olhares e o uso de recursos fílmicos que indiquem traços de um latente heroísmo nas vivências, enfrentamentos e experiências de João Francisco e Donato e que apontem um potencial diferenciado de valor simbólico heroico a ser buscado na representação de personagens LGBT no cinema brasileiro atual.

Bibliografia

    BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e a subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
    CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces. São Paulo: Editora Pensamento, 2004.
    FEIJÓ, Martin Cezar. O que é herói. São Paulo: Brasiliense, 1984.
    GONZÁLEZ, Mario. A saga do anti-herói: estudo sobre o romance picaresco espanhol e algumas de suas correspondências na literatura brasileira. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.
    MORENO, Antônio. A personagem homosexual no cinema brasileiro. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2001.
    NAGIME, Mateus. Karim Aïnouz e o New Queer Cinema. In: MURARI, Lucas; NAGIME, Mateus (org.). New Queer Cinema – Cinema, Sexualidade e Política. Brasil: LDC, pp. 132-139. 2015.
    RICH, B. Ruby. New Queer Cinema – Versão da diretora. In: MURARI, Lucas e NAGIME, Mateus (org.). New Queer Cinema – Cinema, Sexualidade e Política. Brasil: LDC, pp. 18-29. 2015.
    STAM, Robert. Introdução à Teoria do Cinema. Campinas, SP: Papirus, 2003.