Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    CRISTIANE MOREIRA VENTURA (IFG)

Minicurrículo

    Cristiane Moreira Ventura é professora no Instituto Federal de Goiás (IFG), Câmpus Cidade de Goiás, docente do Bacharelado em Cinema e Audiovisual e coordenadora do Técnico Integrado em Produção de Áudio e Vídeo (2016-2018), mestre em Estudos de Linguagens (CEFET-MG), bacharel em Letras (UFMG). Realizadora audiovisual, pesquisa e desenvolve trabalhos de cinema expandido e documentário.

Ficha do Trabalho

Título

    Sentir com: o espectador empático das instalações em realidade virtual

Resumo

    Em tempos de hiperconectividade, de excessos de informações, como afetar o espectador, causando empatia às realidades sociais e sensoriais alheias? A partir das obras de realidade virtual Carne y Arena (virtualmente presente, físicamente invisible) de Iñárritu, e Notes on blindness: into darkness de Peter Middleton and James Spinney, analisamos como as tecnologias potencializam o “sentir com”, na experiência sensorial, constituindo outros níveis de compreensão e empatia com e do outro.

Resumo expandido

    O desejo de imersão em outra “realidade”, seja por meio de ficção assumida ou de narrativas em torno de experiências pessoais, é uma constante na humanidade. Há enriquecimento e transformação a partir das histórias escutadas. As diversas formas para construção realidades – oralidade, visualidade, escrita, música, permitem o acionamento de um jogo de ilusão, em que ocorre a suspensão do entorno objetivo, empiricamente compartilhado. Na contemporaneidade, a hiperconectividade e o excesso de informações parecem condicionar o padrão de percepções, pois é constante a demanda por aprimoramento das técnicas e tecnologias capazes de afetar e ampliar os sentidos, modulando um novo comportamento perceptivo e uma nova forma de compreender as múltiplas realidades.

    O cinema em Realidade Virtual (VR) tem se tornado foco de investimentos, algumas produções já começam a reverberar em importantes festivais de cinema e arte. Em 2016, em Amsterdam, foi aberta a primeira sala de cinema VR do mundo. No VR o público é com que “tragado” para dentro imagem, imerso naquele ambiente, anulando-se quase que completamente seu contato com a realidade factual. . Conforme Oliver Grau, quando o observador está imerso em um espaço de alta resolução, de ilusão de 360 graus, é quase impossível manter alguma distância da obra ou objetivá-la (GRAU, 2007, p. 231)

    Para além de um fetichismo tecnológico e saciedade de um prazer estético, alguns artistas tem se valido do VR para promover reflexões importantes em torno de questões sociais, políticas, afetivas, físicas e emocionais das minorias. As obras em VR analisadas, vão além de comunicar, representar a condição humana de outrem, sentido o que é do outro como se fosse seu, como poeta fingidor de Pessoa. Elas permitem ao visitante transitar nesse espaço narrativo dos imigrantes ilegais, sentir na pele o que é passar pela situação perigosa, humilhante ao atravessarem as fronteiras em México e Estados Unidos guiados por “coites”, sofrendo também as violentas abordagens militares, que é o caso de Carne y Arena (virtualmente presente, físicamente invisible) do diretor Alejandro G. Iñárritu, exibida durante o Festival de Cannes, em maio de 2017. Posteriormente a instalação foi montada na Ciudad de México.

    Já em Notes on blindness: into darkness, de Peter Middleton e James Spinney, lançado no festival de Sundance de 2016, o público pode vivenciar a experiência psicológica e sensorial de cegueira do teólogo John M. Hull (1935-2015). A obra foi concebida a partir dos diários gravados em áudios por John, que narra suas dificuldades, medos, sonhos angústias e transformações sofridas pela perda da visão, assim como a aceitação desta condição. Além da instalação em VR, os diretores realizaram um documentário híbrido que se envereda nos campos da memória, da ficção, da poesia e do ensaio, onde John (em seus áudios) reflete sobre o processo de amadurecimento acerca de sua condição de cego, largado da nostalgia das imagens.

    Ambas obras artísticas analisadas na comunicação possuem um caráter humanístico e partem de registros do real, utilizando experiência vividas. Em Carne y Arena, Iñárritu, se vale das entrevistas realizadas com imigrantes e posteriormente realizou um convívio com essas pessoas, resultando num trabalho de doc-ficcional. Da mesma forma ocorre em Notes on blindness, em que os diretores utilizaram a própria voz de John para criar a instalação e o documentário.

    Tendo em vista o percurso da espectatorialidade, dentro do contexto da arte contemporânea, das instalações audiovisuais, verificamos como o espectador anteriormente passivo torna-se interativo, performático, caminhante, torna-se empático, podendo aproximar-se mais das subjetividades alheia, torna-se empático ao experimentar no próprio corpo, aspectos da realidade do outro, estando assim em devir.

Bibliografia

    COUCHOT, Edmond. A tecnologia na arte: da fotografia à realidade virtual. Porto
    Alegre: Editora UFRGS, 2003.

    CRARY, Jonathan. Técnicas do observador: visão e modernidade no século XIX. Rio de
    Janeiro: Contraponto, 2012.

    _______________. Suspensões da percepção: atenção, espetáculo e cultura moderna. São
    Paulo: Cosac & Naify, 2013.

    DUBOIS, Pillippe. A questão da forma-tela: espaço, luz, narração, espectador. In:
    GONÇALVES, Osmar. (Org.) Narrativas sensoriais. Rio de Janeiro: Editora Circuito, 2014.

    GRAU, Oliver. Arte Virtual: da ilusão à imersão. São Paulo: Senac, 2007.RANCIERE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

    SANTAELLA, Lucia. Corpo e comunicação: sintoma da cultura. São Paulo: Paulus, 2004.

    __________, Lúcia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitive do leitor imersivo.
    São Paulo: Paulus, 2004.