Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Alexandre Silva Wolf (FAE / UTP)

Minicurrículo

    Possui graduação em Bacharel em Artes Cênicas – Habilitação: Direção pela Faculdade de Artes do Paraná (2006). Especialista em História da Arte Moderna e Contemporânea pela Escola de Música e Belas Artes do PR (2009). Mestre em Comunicação e Linguagens, linha de pesquisa Cinema, pela Universidade Tuiuti do Paraná (2012). Doutorando em Comunicação e Linguagens, linha de pesquisa Cinema, pela Universidade Tuiuti do Paraná (2018). Professor da FAE centro Universitário em marketing e comunicação.

Ficha do Trabalho

Título

    Os diálogos intratextuais de Woody Allen em Roda Gigante.

Resumo

    É uma prática conhecida o uso do texto de um outro, na praxis da construção de filmes e roteiros, para a construção de uma nova obra comunicacional, sendo este caracterizado frequentemente, nos estudos de cinema, como intertextualidade. O norte-americano Woody Allen vai além e apresenta em seu último filme, “Roda Gigante” (2017), um diálogo que pode ser entendido como intratextual com outro de seus filmes, “A Rosa Púrpura do Cairo” (1985) a partir do roteiro e escolhas do cineasta.

Resumo expandido

    É uma prática conhecida o uso do texto de um outro, na praxis da construção de filmes e roteiros, para a construção de uma nova obra comunicacional, sendo esta caracterizada frequentemente, nos estudos de cinema, como intertextualidade. Fica claro, a partir desses estudos, que a presença desses intertextos não deve ser entendida como mera repetição pois a partir de novos contextos, o texto alheio ganha novo significado. Essa possibilidade se dá fundamentada pelo dialogismo de Bakthin, que entende que todo homem constrói sua linguagem a partir de diálogos de outro e com outro. José Luiz Fiorin entende que “todos os enunciados no processo de comunicação, independentemente de sua dimensão, são dialógicos” (FIORIN, 2008, p.19), determinando assim que para se construir um discurso leva-se em conta o discurso do outro que está inevitavelmente presente no seu também. Podemos reafirmar isso a partir do pensamento de Júlia Kristeva que estabelece que a intertextualidade acontece onde “o enunciado poético é um subconjunto de um conjunto maior que é o espaço dos textos aplicados em nossos conjuntos” (KRISTEVA, 1974, p. 174).
    Entendendo como evolução dos conceitos oriundos do dialogismo, Harold Bloom, em seu livro “A Angústia da Influência” (1973), apresenta como os poetas se comportaram ao longo dos séculos renovando a escrita e a língua, “descolando-se” da influência de poetas anteriores a eles. Ele nos mostra que o poeta “novo” bebe na fonte da tradição, buscando uma “inovação” a partir de uma “transgreção” do que é entendido como tradicional. Vemos aí um diálogo com a conceituação de Kristeva (1974). Para Bloom, um dos possíveis movimentos propostos por esses diálogos, trata-se da intratextualidade entendida como o diálogo entre os textos, como dois ou mais textos se interpenetram e influenciam um ao outro em suas formulações estéticas, em seus significados, tratada por ele como “Relação Intrapoética”. Para ele “ poetas fortes quando enfrentam a tradição, quando enfrentam aos seus precursores ou antecessores, aos quais “roubam”, saqueiam, mas também transfiguram ou recriam” (BLOOM, 2002, p.128).
    O cineasta norte-americano Woody Allen apresenta em seu último filme, “Roda Gigante” (2017), um diálogo que pode ser entendido como intratextual. A trama se desenvolve ao redor de Ginny, uma mulher madura, possui em torno de 40 anos e trabalha em uma lanchonete. Ela é casada com Humpty, um mecânico sem muitas expectativas para sua vida, preocupado em manter a operação de um carrossel. Ginny tem um caso com um salva-vidas, Mickey, um estudante de literatura. Todos vivem Coney Island e Ginny e Humpty moram em um apartamento acima de um parque de diversões, sobre uma barraca de tiros e diante de uma roda gigante. Aqui encontramos o ponto de diálogo do diretor e roteirista com outro de seus trabalhos: “A Rosa Púrpura do Cairo” (1985).
    Esse longa é ambientado no período da Grande Depressão. Cecília, uma garçonete desiludida por um casamento fracassado, consegue uma fuga de sua realidade sonhando com os filmes que assiste. A protagonista é a encarnação do indivíduo descontente que não consegue forças para levar adiante uma mudança em sua vida de uma forma radical. Os conflitos e as dificuldades que pontuam as relações humanas e amorosas aparecem de forma muito intensa no filme e a dolorosa escolha entre a realidade e a ficção atinge diretamente o espectador. Além dos pontos em comuns dos roteiros, encontramos a presença de um parque de diversões onde Cecília se abriga nos momentos em que seu personagem preferido do filme, exibido no cinema diegético, foge da tela. Aqui o parque de diversões funciona como um refúgio contra a realidade, em contraposição com o parque de “Roda Gigante” que na realidade oprime a personagem principal. A intratextualidade, diálogo do autor com ele mesmo, se mostra fortemente como fonte da criação desse produto novo e totalmente criativo do diretor e roteirista, provando ser uma ferramenta de consolidação poética.

Bibliografia

    BLOOM, Harold. A angústia da influência: uma teoria da poesia. Trad. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Imago, 2002.
    FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática,
    2008.
    KRISTEVA, Julia. Introdução à Semanálise. Trad. Lúcia Helena França. São
    Paulo: Perspectiva, 1974.
    Filmes:
    ALLEN, Woody. A Rosa Púrpura do Cairo. 1985.
    ALLEN, Woody. Roda Gigante. 2017.