Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Fabrício Basílio Pacheco da Silva (UFF)

Minicurrículo

    Fabrício Basílio é graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense e mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM/UFF), tendo como tema o fantástico no cinema brasileiro contemporâneo. Em 2016, produziu o curta-metragem Vazio do Lado de Fora, selecionado para o 70º Festival de Cannes. Em 2017, ministrou a disciplina Territórios do cinema fantástico, como estágio docência para a graduação de Cinema e Audiovisual da UFF.

Ficha do Trabalho

Título

    Espectros do real: silêncios e fantasmas em três cinemas insólitos

Seminário

    Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados

Resumo

    Partindo do filme Fantasma (2006), de Lisandro Alonso, esse trabalho tece relações entre cinema de fluxo e literatura fantástica, comparando o filme de Alonso com duas narrativas também locadas em salas de cinema: o conto El Espectro, de Horacio Quiroga e o filme Adeus, Dragon Inn (2003), de Tsai Ming-Liang. Para isso, tensionamos as obras a partir de dois eixos: a relação entre figuras e espaços insólitos e a presença de silêncios narrativos como catalisadores de hesitações perante o real.

Resumo expandido

    Partindo do filme argentino Fantasma (2006), de Lisandro Alonso, esse trabalho procura tecer relações entre literatura, cinema latino-americano contemporâneo e outras cinematografias mundiais a partir da análise de elementos insólitos. Para isso, promovemos um cotejo entre cinema de fluxo (BOUQUET; 2002; OLIVEIRA JUNIOR, 2013) e literatura fantástica (ROAS, 2014; CAMPRA, 2016), propondo comparações entre o filme de Alonso e mais duas narrativas também locadas em salas de cinema: o conto El Espectro, de Horacio Quiroga e o filme Adeus, Dragon Inn (2003), de Tsai Ming-Liang. Proposição que não é feita ao acaso, já que em mais de uma oportunidade Alonso relatou a influência de Quiroga em seus filmes e que, além de abrigarem elementos do cinema de fluxo (mise en scène e narrativa rarefeitas; desdramatização da cena, montagem não interessada em estabelecer relações de causa e efeito e gosto pelo plano de longa duração), o filme de Alonso é abertamente inspirado no longa de Ming-Liang. O conto de Quiroga se inicia e termina no Grand Splendid de Santa Fe em Buenos Aires, e é narrado por um fantasma que conta como, ainda vivo, foi levado ao seu estado insólito ao se relacionar com a viúva de seu melhor amigo, o ator Duncan Wyoming: aos assistirem repetidas vezes ao penúltimo filme do ator, os personagens percebem que gradualmente a imagem deste abandona a lógica da projeção e volta seu olhar de reprovação para o casal, que em desespero acaba morrendo. Após isso, todas as noites os fantasmas vão ao cinema procurando pelo filme ainda não lançado de Wyoming. Em Adeus, Dragon Inn acompanhamos a última sessão do cinema de rua Grande Teatro Fu-Ho em Taiwan. Aqui a câmera de Ming-Liang apresenta longos planos, muitos destes sem motivação narrativa e que se prestam a contemplação dessa última exibição, alternando trechos do filme diegético com a movimentação dos personagens dentro da sala e em passeio pelos interiores escondidos do prédio, o que produz a sensação de que o mesmo é mal-assombrado. Dando mais ênfase ao período que antecede a exibição de um de seus filmes no Complexo Teatral San Martín, em Buenos Aires, Alonso insere os protagonistas de seus dois primeiros filmes – Misael Saavedra, de A Liberdade (2001) e Argentino Vargas, de Os Mortos – em um espaço repleto de interiores labirínticos, de corredores escuros, elevadores barulhentos, salas desarrumadas e camarins de portas que abrem sem motivo.As três obras partem de espaços similares e produzem estranhamentos pela criação de espectros a partir da permeabilidade entre imagens cinematográficas e fantasmagóricas. Porém, estas se vinculam ao insólito por meio de recursos variados, o que analisaremos a partir de dois parâmetros de comparação: a relação entre real e sobrenatural por meio de figuras e espaços insólitos, e a presença de silêncios narrativos como catalisadores de hesitações perante a realidade. Assim, enquanto El espectro potencializa a existência de fantasmas e o filme de Ming-Liang trabalha com códigos de um espaço sobrenatural (tempestade, escuridão, goteiras, escombros) e a hesitação perante a existência de fantasmas (TODOROV, 2008), o filme de Alonso produz um estranhamento perante as ações dos personagens, mas não trabalha declaradamente com possibilidade de fantasmas. Além disso, nos interessa refletir como os silêncios na narrativa e na montagem, oriundos tanto do fantástico quanto do cinema de fluxo, são capazes de gerar gestos de desarticulação de um realidade empírica em ambos os filmes. Diante disso, objetivamos demostrar como Fantasma faz uso de recursos da literatura fantástica e do cinema de fluxo, mas os atenuam, gerando uma atmosfera de estranhamento e produzindo um filme menos vinculado ao sobrenatural do que as obras de Quiroga e Tsai Ming-Liang.

Bibliografia

    BOUQUET, Stéphanie (2002). Plan contre flux. Paris: Cahiers du Cinema n. 566.
    CAMPRA, Rosalba. Territórios da Ficção Fantástica. Rio de Janeiro: Dialogarts Publicações, 2016.
    OLIVEIRA JR. Luiz Carlos. A mise en scène no cinema. Papirus editora: Campinas, 2013.
    PRYSTHON, Angela. Paisagens sonhadas: imaginação geográfica e deriva melancólica em Jauja. In: Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação – Compós – 2015. Disponível em: http://www.compos.org.br/biblioteca/prysthon_2836.pdf Acessado em: 30/03/2017.
    QUIROGA, Horacio. El Espectro. In: Todos los Cuentos/ Horacio Quiroga: edición crítica. São Paulo : ALLCAXX/ Edusp, 1996.
    ROAS, David. A Ameaça do fantástico. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
    SARTRE, Jean-Paul. Aminadad, ou o fantástico considerado como uma linguagem. In: Situações I – críticas literárias. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
    TODOROV, Tzvetan, Introdução à Literatura Fantástica, São Paulo: Perspectiva, 2010.