Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Cássio Oliveira (UFG)

Minicurrículo

    Professor da Universidade Federal de Goiás vinculado à Faculdade de Informação e Comunicação e ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar (Mestrado e Doutorado) em Performances Culturais, da Faculdade de Ciências Sociais. Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais com pesquisa na linha de Estética e Filosofia da Arte, possui também mestrado em Comunicação e Cultura. Suas áreas de investigação são cinema e performances, com atenção aos gêneros artísticos e formas narrativas.

Ficha do Trabalho

Título

    A performance dos atores em Auto da Compadecida

Seminário

    Corpo, gesto e atuação

Resumo

    Trata-se de uma análise fílmica interessada na performance dos atores no filme Auto da Compadecida (Guel Arraes, 2000). Aventamos a hipótese de que Auto da Compadecida desenvolve um terceiro esquema em relação aos padrões levanta-e-fala e caminha-e-fala, definidos por David Bordwell em seus estudos sobre o cinema narrativo clássico. Por meio do esquema que poderíamos chamar de vira-e-fala, o filme de Guel Arraes cria soluções para a continuidade intensificada no limite entre cinema e televisão.

Resumo expandido

    O objetivo dessa comunicação é discutir a tese de que a consolidação da continuidade intensificada como um padrão de decupagem no cinema narrativo das últimas décadas interferiu de maneira significativa na performance dos atores. O momento iniciado pela intensificação da continuidade representa um deslocamento do estilo cinematográfico em relação ao modelo de participação dos atores na construção das cenas que vigorou no período histórico do cinema clássico (Bordwell, 2013a, 2013b), ocasionando a superação de esquemas usuais de mise en scène em prol de novas estratégias que privilegiam os planos próximos dos rostos dos atores.

    Essa nova condição implicou pelo menos duas consequências que vamos comentar em nosso trabalho. Em primeiro lugar, a aproximação aos rostos dos atores estimula um trabalho de interpretação que recorre constantemente a expressões faciais vistas de modo efêmero pelo espectador, uma vez que, na continuidade intensificada, a duração média dos planos diminui. Em segundo lugar, a abundância dos planos de rosto restringe consideravelmente o campo visual das cenas, reduzindo ou eliminando a profundidade do espaço. A identificação das características comuns ao estilo do cinema narrativo das últimas décadas, especialmente no que diz respeito à produção mais afeita ao consumo massivo, normalmente inclui e enfatiza estes dois aspectos (Bordwell, 2006).

    A nossa proposta é encaminhar a discussão sobre continuidade intensificada e estilo em direção a aspectos complementares que contribuam para um aprofundamento do tema. Para tanto, tomaremos como estudo de caso o filme Auto da Compadecida, dirigido por Guel Arraes e lançado no Brasil no ano 2000. Por meio de uma análise fílmica de aspectos intrínseco da encenação cinematográfica, levaremos a cabo uma problematização do cinema de continuidade intensificada em função das possibilidades de performance dos atores em relação a fatores como o enquadramento, a duração dos planos e o cenário.

    Ao eleger este objeto de análise, defendemos a hipótese de que o filme de Guel Arraes desenvolve um esquema de decupagem e atuação que reflete o modelo da continuidade intensificada, inclusive no sentido de produzir uma alternativa ao modo clássico de encenação, baseado, segundo David Bordwell (2008), em dois padrões: “caminha-e-fala” e “levanta-e-fala”. Na nossa interpretação, Auto da Compadecida teria se fundado em um esquema de performance dos atores que poderíamos denominar de “vira-e-fala”, estabelecendo assim um parentesco com a terminologia adotada por Bordwell. O principal fator distintivo desse padrão é que os atores estão constantemente virando as costas para a câmera enquanto falam, havendo uma utilização intensiva do raccord de movimento (match on action).

    Nossa abordagem de Auto da Compadecida levará em conta questões tipicamente ligadas à apreensão deste filme pela crítica cinematográfica, sobretudo as que dizem respeito à distinção entre o cinema e a televisão (Figuerôa, 2008) no contexto batizado por Henry Jenkins (2008) de cultura da convergência. A tese de que o filme é um produto híbrido que repercute as condições atuais do estilo cinematográfico, mas também do estilo televisivo, parece-nos merecedora de maiores desdobramentos, de modo a superar a cisão entre pontos de vistas radicalmente opostos que marcaram as reações instantâneas, tanto positivas como negativas, ao filme de Guel Arres (Jabor, 2000; Gardnier, 2000).

Bibliografia

    Bordwell, David. A Arte do Cinema: uma introdução. São Paulo: Editora da USP, 2013a.

    ______. Figuras Traçadas na Luz: a encenação no cinema. Campinas (SP): Papirus, 2008.

    ______. Sobre a História do Estilo Cinematográfico. Campinas (SP): Editora da Unicamp, 2013b.

    ______. The Way Hollywood Tells It: story and style in modern movies. Los Angeles: University of California Press, 2006.

    Figuerôa, Alexandre. Uma vida de mão dupla: cinema e televisão em Guel Arraes. In: Figuerôa, Alexandre; Fechine, Yvana. Guel Arraes: um inventor no audiovisual brasileiro. Recife: CEPE Editora, 2008.

    Gardnier, Ruy. Xuxakespeare ou Cinderela Bacana. In: Contracampo, 2000. Disponível em: . Acesso em: 13 maio 2018.

    Jabor, Arnaldo. O Auto da Compadecida é o novo cinema brincante. In: Folha de São Paulo. São Paulo: 26 setembro 2000.

    JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Tradução de Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2008.