Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Tomas Santos Lopes de Freitas (UFJF)

Minicurrículo

    Licenciado em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente mestrando em História pela mesma instituição. Iniciou seus estudos no cinema ainda na graduação, em um projeto de iniciação científica intitulado “O mundo do trabalho em narrativa fílmica”. Estuda na pós-graduação a recepção internacional, com ênfase na crítica norte americana, de Cidade de Deus e Que Horas Ela Volta?, procurando entender como mudanças sociais dos governos Lula impactam a recepção fílmica estrangeira.

Ficha do Trabalho

Título

    As visões de Brasil pela crítica estrangeira de Que Horas Ela Volta?

Resumo

    O presente trabalho pretende analisar as visões de Brasil presentes na crítica internacional – especialmente de língua inglesa – de Que Horas Ela Volta?. Objetivamos perceber se as transformações sofridas pelo país a partir de 2002, principalmente nos governos Lula, influenciam a recepção do longa, legitimando-o como um retrato “legítimo” da sociedade brasileira que vê a classe média ascender e novos setores sociais atingirem a Universidade pública.

Resumo expandido

    O presente trabalho tem como base de análise críticas cinematográficas estrangeiras do filme Que Horas Ela Volta? (2015, dir. Anna Muylaert) e, de forma mais específica, as visões de Brasil intrínsecas a elas. Tomando-as como objetos históricos e documentos significativos de seu contexto de produção, defendemos que sua aclamação se dá em partes devido à mudança na forma como o país é visto no exterior – possibilitando-o de ser enxergado como um retrato acurado da sociedade. Até então, filmes como Cidade de Deus (2002, dir. Fernando Meirelles & Katia Lund), que trazem marcadamente um retrato de miséria e marginalização, eram hegemônicos na produção brasileira que circulava internacionalmente. Defendemos neste projeto que o filme de Meirelles e Lund consolidou, no mercado internacional, um horizonte de expectativas que já dizia a priori os elementos e temáticas de um longa-metragem que se propusesse a retratar o Brasil “de fato”. Eduardo Valente, no texto “Quais as imagens do Brasil lá fora?”, já ressalta que Cidade de Deus passa a ocupar espaço de destaque no imaginário estrangeiro, criando categorias de julgamento que embasarão análises de outros longas no futuro. Em relação a seleção para festivais (a maior vitrine de filmes de língua não-inglesa), por exemplo, Valente afirma que os filmes selecionados a partir de 2002 “partilham, em maior ou menor grau, de algo que se pode esperar de uma imagem do cinema brasileiro, e principalmente do Brasil, construída lá fora.”. (VALENTE, 2010, p. 34).
    Randall Johnson, do UCLA’s Department of Spanish and Portuguese, é outro autor que segue nossa linha de análise. Ao escrever sobre “O Cinema Brasileiro visto de fora”, salienta que há uma tendência da crítica internacional de “situar os filmes em termos do seu próprio conhecimento e, não necessariamente, em termos da realidade brasileira representada” (JOHNSON, 2010, p. 140). Johnson apresenta uma tabela de todos os filmes lançados comercialmente nos Estados Unidos de 1998 a 2008, apresentando a bilheteria de cada um, bem como as notas dadas por sites agregadores de críticas. Ele nos mostra com clareza a persistência e aceitação da temática consolidada por Cidade de Deus: filmes como Antônia (2006, dir. Tata Amaral), Cidade dos Homens (2007, dir. Paulo Morelli) e Carandiru (2003, dir. Hector Babenco) figuram entre as dez maiores bilheterias e angariaram mais de 60% de aprovação da crítica.
    A década de 2010, contudo, pode ter representado uma mudança neste cenário. O país alcançou o posto de 6ª economia do mundo e passou por um período de democratização e expansão do ensino federal e de programas estatais organizados de combate à fome e distribuição de renda, saindo do mapa da fome da ONU em 2014. Nesse processo, constitui-se uma nova classe média. No tocante ao ensino superior, observa-se um substantivo aumento no número de cursos e vagas oferecidos e de ingressantes no terceiro grau.
    O cinema brasileiro, em muito ajudado pelo barateamento da produção e pela facilidade das novas mídias, também parece ter se modificado, principalmente a partir da década de 2010: novas relações sociais e atores políticos começam a ganhar destaque na tela. A classe média surge como protagonista em diferentes longas, que, diferentemente do que acontecia durante a década anterior, ganham rodagem e aclamação internacional.
    Que Horas Ela Volta é um marco neste sentido. Não só diz de um Brasil extremamente contemporâneo – uma ascendência social gerando um novo tipo de conflito de classes; a permanência, mesmo neste cenário de transformação, de relações arcaicas; o movimento de democratização do Ensino Superior; a inserção do Nordeste em um cenário de acessos antes hegemonizados pelo eixo Sul-Sudeste – como é recebido internacionalmente como um exemplar que retrata legitimamente o país.
    Com isso, indagamos: Se a crítica estrangeira atribuiu relevância e deu enorme destaque ao Brasil da miséria e da violência, como se comporta em relação a essa nova conjuntura?

Bibliografia

    ALMEIDA, Leandro et al. Democratização do acesso e do sucesso no ensino superior: uma reflexão a partir das realidades de Portugal e do Brasil. Avaliação, Campinas; Sorocaba, SP, V. 17, N. 3, P. 899-920. Nov, 2012
    BENTES, Ivana. Da estética à cosmética da Fome – Jornal do Brasil, 08 de julho de 2001. Caderno B, p.4.
    GOMES, Regina. A Crítica de Cinema Como Objeto Histórico e Retórico: o Caso do Filme Carandiru de Hector Babenco. In: Anais do IX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Região Nordeste – Salvador – BA, 2007.
    JAUSS, Hans Robert. Toward an Aesthetic of Reception. Traduzido por Timothy Bahti. Minneapolis – University of Minnesota Press, 1982.
    MARSON, Melina Izar. Cinema e Políticas de Estado: da Embrafilme à Ancine. – São Paulo: Escrituras Editora, 2009.
    VALENTE, Eduardo. Quais as imagens do Brasil lá fora? In: Cinema brasileiro: anos 2000, 10 questões, 2010. Realizado pelo Centro Cultural Banco do Brasil.