Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Juslaine de Fátima Abreu Nogueira (Unespar)

Minicurrículo

    Doutora em Educação, com mestrado e licenciatura em Letras. Dedica-se aos Estudos do Discurso Cinematográfico, especialmente em conexões com a teorização pós-estruturalista de Gênero e Sexualidade e da Educação. É professora adjunta no curso de Cinema da Universidade Estadual do Paraná, onde participa do grupo de pesquisa Cinema: criação e reflexão – Cinecriare (Unespar/CNPq). Também coordena o Núcleo de Educação para as Relações de Gênero do Centro de Educação em Direitos Humanos (Unespar).

Ficha do Trabalho

Título

    MULHERES CINEASTAS E ESTÉTICA DA EXISTÊNCIA: TESSITURAS DA OBRA-VIDA

Resumo

    Esta trabalho debruça-se sobre a filmografia de duas cineastas – Agnès Varda e Petra Costa – e suas conexões com a produção de um pensamento ético-político-estético que persegue a elaboração da vida na e como obra de arte. Para tanto, busca-se amparo nas contribuições de Foucault sobre estética da existência, mobilizando a questão sobre como a arte e a vida corporificada podem reverberar, indissociavelmente, uma atitude que busca criar outros modos do viver consigo mesma e do viver-em-comum.

Resumo expandido

    Esta comunicação insere-se em uma pesquisa sobre a obra de algumas cineastas, a fim de tentar cartografar seus pensamentos cinematográficos, bem como identificar pistas de como estes reverberam nos corpos e nas experiências destas mulheres artistas, em suas existências singulares e coletivas. Desse modo, no escopo deste trabalho, toma-se como fonte de investigação os filmes Os catadores e Eu (1999) e As Praias de Agnès (2008), produções de Agnès Varda, bem como Olhos de Ressaca (2009) e Elena (2012), de Petra Costa, buscando conexões entre a produção artística e o pensamento político-estético manifestados por estas duas cineastas (em entrevistas, depoimentos, artigos) – uma de origem europeia, outra latino-americana, situadas em tempos diferentes da vida, uma na velhice, outra na juventude -, notadamente no tocante ao que tais manifestações podem sinalizar sobre uma busca pela elaboração da vida na e como obra de arte. Para tanto, esta pesquisa busca amparo nas contribuições de Michel Foucault sobre estética da existência, entendida aqui como um trabalho de subjetivação que é tanto a realização de uma crítica do mundo existente, quando o convite a construir um mundo-outro. A aposta é que, potencialmente, as produções realizadas por mulheres têm apontado para uma atitude estética cuja busca tem se materializado de modo indissociável de uma atitude ética, em que vida e arte não se separam, configurando uma exigência que poderíamos dizer ético-político-estética da mulher-artista e sua inserção no mundo. Neste espectro, este trabalho mobiliza-se pela interrogação sobre como a arte e a vida corporificada ressoam, indissociavelmente, uma atitude que busca criar outros modos de existir, ecoando radicalmente em outros modos do viver consigo mesma e do viver-em-comum. Em outras palavras, inquieta-nos refletir como uma atitude epistemológico-artística realizada por mulheres cineastas pode constituir-se numa outra relação consigo, instauradora de uma manifestação da verdade que se materializa no próprio corpo-artista e no próprio corpo-artístico.
    A contemporaneidade tem apontado para um amadurecimento importante de um modo de pensar feminista que tem se movimentado num questionamento das mulheres sobre seu estar no mundo, sobre os regimes político-normativos que interceptam seus corpos e suas vivências e, portanto, esta caminhada feita por mulheres, em toda a multiplicidade das suas experiências, suspeita-se, pode estar gerando uma nova reivindicação ética, localizada neste encontro que insiste numa certa exigência de coerência e inseparabilidade entre a vida-artista, a atitude vivida consigo e o outro, e a vida-artística, a atitude ecoada na obra de arte, distanciando-se dos argumentos hegemônicos que têm validado a arte pela arte. A hipótese, portanto, que sustenta esta pesquisa é a de que há um encontro entre uma filmografia protagonizada em muito por mulheres cineastas, suas escolhas estéticas e sua linguagem fílmica fulgurando um pensamento e uma teorização que apontam para a construção de uma ética-estética da existência, ou seja, que sinalizam, no sentido foucaultiano, a atitude de pensar a própria vida como obra de arte e, neste sentido, apontando possibilidades de resistência, uma vez que tais filmes têm significado a busca por uma narrativa de si, na condição do escancaramento de experiências femininas múltiplas que têm buscado uma (re)invenção de si e da relação com o mundo e outro por meio de uma tessitura da vida na obra de arte e como obra de arte.

Bibliografia

    BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

    FOUCAULT, Michel. Ditos & Escritos. Vol. V. Ética, Sexualidade, Política. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.

    ______. A coragem da verdade. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

    RAGO, Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013.

    ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Sulina; Editora da UFRGS, 2011.

    YAKHNI, Sarah. Cinensaios de Agnès Varda: o documentário como escrita para além de si. São Paulo: Hicitec Editora/Fapesp, 2014.