Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Adriano Del Duca (PPGCINE/UFF)

Minicurrículo

    Graduado em Ciências Sociais pela UNESP/FCLAr (2007) e em Cinema e Vídeo pela UNESPAR/FAP (2018).
    Mestrando em Cinema pelo PPGCINE/UFF.
    Professor de Sociologia no C. E. Almirante Álvaro Alberto, em Paraty-RJ desde 2015.
    É também roteirista, diretor e produtor audiovisual tendo realizado curta-metragens digitais e em bitola super-8 (Destaco: Digito ergo sum – 2009; Não Importa, 2012; Golpe no Iguaçu, 2015).
    Educador audiovisual em oficinas realizadas pelo SESC Paraty na região costeira em 2017.

Ficha do Trabalho

Título

    Prata Palomares (1971): censura e tropicalismo no contexto pós-1968

Resumo

    O filme Prata Palomares (André Faria, 1971), realizado no contexto emblemático do pós-1968, tem elementos estéticos e históricos marcantes da produção cinematográfica deste período. A obra de ficção é produto da experimentação cinematográfica coletiva do Teatro Oficina no final dos anos 1960. Censurado em 1971, permaneceu bloqueado para exportação até 1977 e para a exibição nacional até 1979. Desconhecido, é uma das expressões contundentes do cinema brasileirona virada para os “anos de chumbo”.

Resumo expandido

    Prata Palomares (André Faria, 1971) é um marco do cinema brasileiro apesar de desconhecido. É uma produção independente, em diálogo com o movimento do Tropicalismo e com a estética chamada de “marginal”, própria do final da década de 1960 e início dos anos 1970. É conseqüência direta da profissionalização do Teatro Oficina em São Paulo, que ao longo de toda a década de 1960, constituiu uma vanguarda dramatúrgica no contexto do teatro brasileiro.

    No filme, dois guerrilheiros em fuga de uma revolução derrotada escondem-se em uma igreja abandonada de um lugar chamado Porto Seguro. Um deles decide se passar pelo vigário que a comunidade esperava enquanto o outro prepara meios para prosseguirem a fuga. No entanto, envolvidos por uma figura mística, misto de santa e prostituta, acabam se envolvendo com as disputas políticas locais. Em meio ao conflito entre o povo do local e a Família de Branco (estrangeiros poderosos) o falso padre enlouquece e assume uma personalidade messiânica. Diante de torturas, assassinatos, e de seu conflito psicológico, o guerrilheiro trai seus objetivos revolucionários e instaura o “Paraíso Agora”, a alegoria de uma república caótica que remete ao subdesenvolvimento político e econômico dos países periféricos.
    O filme carrega em si o emblema das lutas de 1968, desde a tematização política presente na alegoria da revolta popular, característica do período, bem como proposições estéticas radicais que dialogavam com a postura estética esboçada por Jean Luc Godard, Glauber Rocha e outros cineastas que se engajaram, e também às suas obras, na crítica aos regimes políticos, ao sistema de representações da sociedade burguesa e ao próprio aparato produtivo do cinema industrial.
    Este contexto de efusão de idéias e de respostas políticas ao momento histórico reverberou sobremaneira no cinema e no teatro brasileiro. Terra em Transe, O Rei da Vela, a Tropicália, o cinema marginal, surgiram como respostas à experiência da sociedade brasileira e o peso de suas expressões ecoou em inúmeras obras do início da década de 1970, compondo um cenário de engajamento político e estético que é fundamental para compreensão da cultura ao longo desta década.

    O ‘golpe dentro do golpe’, como ficou conhecido o Ato Institucional n°5, de dezembro de 1968, aposentou juízes e intelectuais, fechou o congresso, cassou mandatos políticos, extinguiu o Habeas Corpus, oficializou a repressão à resistência armada através de prisão e torturas, e recrudesceu os mecanismos de censura. Mas ao mesmo tempo o ano de 1968 foi marcado pelo emblema das lutas juvenis em todo o mundo. O protagonismo jovem na política e na produção cultural também é evidente no contexto brasileiro. Esta contradição é a base material da qual foram forjadas novas experiências políticas e estéticas que influenciaram a produção de grupos como o do Teatro Oficina. O tropicalismo, recusando a ideia de uma resistência político-cultural meramente nacionalista, e através da incorporação de elementos da cultura pop, da televisão e dos meios de comunicação de massas, estabeleceu um diálogo franco com o protagonismo juvenil, inspirando-se em lideranças políticas e artísticas deste cenário efervescente da juventude.

    Formulado no olho do furacão desta efervescência da cultura brasileira, por figuras que dialogaram com a Tropicália e transitavam entre o Cinema Novo e as artes visuais, o filme Prata Palomares é uma expressão embotada destas tendências estéticas. O processo de censura de que foi alvo, impedindo sua projeção no cenário internacional, também dimensiona sua importância neste contexto: liberado, o filme seria uma potente intervenção política em diálogo com as vanguardas destacadas naquele período.

    A presente pesquisa, ainda em andamento como projeto de dissertação de mestrado no PPGCINE/UFF busca refletir sobre os sentidos do que seja o Tropicalismo no cinema, bem como relacionar a censura ao filme Prata Palomares ao contexto repressivo à produção cinematográfica no Brasil.

Bibliografia

    FERRO, Marc. Cinema e História. Tradução Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
    NANDI, I. Teatro Oficina, onde a arte não dormia. Rio de Janeiro: Faculdade da Cidade Editora, 1998.
    PINTO, Leonor E. Souza. O cinema brasileiro face à censura imposta pelo regime militar no Brasil – 1964/1988. Disponível em: www.memóriacinebr.com.br/ consultado em 20/01/2017.
    PRATA Palomares. Direção: André Faria. VEGA-I Filmes, Brasil,1971. (100 min), NTSC, color.
    RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV. São Paulo: Editora Record, 2000.
    VALENTINI, Daniel M. Uma leitura da censura ao Teatro Oficina nos anos 1960. Verinotio – Revista on-line de Filosofia e Ciências Humanas. ISSN 1981-061X. Ano XI .abr./2016 . n. 21.
    XAVIER, I. Alegorias do subdesenvolvimento. São Paulo: Brasiliense, 1992.
    _________. Sertão Mar, Glauber Rocha e a estética da fome.São Paulo: Cosac&Naif, 2007.
    _________. Cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001.