Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    João Luiz Vieira (UFF)

Minicurrículo

    Professor Titular do Departamento de Cinema e Vídeo e Coordenador do PPGCine-Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense. Pesquisador, curador e conferencista.

Ficha do Trabalho

Título

    Alguns ramas: a onda anamórfica chega ao Brasil

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    Anos 50 e a novidade das telas largas e sua novas imagens e sons animam o mercado exibidor no país. Primeiras exibições nos principais centros e a conversão das salas de cinema. A disputa pelo primeiro filme em formato panorâmico realizado no Brasil e suas inesperadas consequências para o que, uma vez mais, seria um sopro de ânimo para o desenvolvimento, sempre, de uma indústria nacional.

Resumo expandido

    O anúncio de inauguração de um novo cinema no Rio, na segunda metade dos anos 50, o Cine Jussara, localizado no bairro do Jardim Botânico, não deixa dúvidas. Além do ar renovado e das poltronas estofadas, um outro atrativo anunciado com estardalhaço, se apresenta como o ítem melhor divulgado no anúncio: sua tela panorâmica, capaz de acomodar uma variedade ampla de formatos que inclui sequencialmente, da esquerda para a direita, uma lista com os nomes CinemaScope, Mexiscope, Ultrascope e Totalscope. A impressão que se tem é que a sala seria dotada de diferentes telas, projetores e lentes, especificadas para cada formato de filme. Nesse quarteto presente no anúncio do Jussara, tinha lugar, inclusive, para um formato panorâmico oriundo e identificado com uma produção nacional, sua cultura e seu povo, o México.
    Tal como na passagem do cinema silencioso para o sonoro, a introdução de um novo formato de imagem, maior e mais larga horizontalmente do que o formato mais quadrado consagrado pelo cinema desde seu início e até a metade do século passado, trouxe um período de renovação de salas de cinema ao redor do mundo pressionado pela indústria dominante norte-americana que, desde o final dos anos de 1940 sofria intensa competição com a nascente e imediatamente popular televisão. Primeiro com o Cinerama (1952), formato espetacularmente grandioso mas de alto custo, tanto em termos de produção quanto, especialmente, de exibição, com sua complicada projeção a partir de três projetores sincronizados e som estereofônico de múltiplos canais. Além de, pelo menos três projecionistas, o sistema precisava empregar um engenheiro de som para equalizar e também sincronizar som e imagem em uma quarta cabine, além das três individuais para cada projetor. Menos de um ano após a estréia do Cinerama, a Fox já lançava algo radicalmente mais simples e mais viável para os cinemas se adaptarem com orçamentos mais viáveis.
    Paralelo a essa renovação do mercado exibidor, em diferentes contextos nacionais, a produçãp também foi afetada.
    Em pesquisa em andamento, cuja parte inicial já foi apresentada no SOCINE 2015, centrada na produção e exibição do filme Redenção (1958), de Roberto Pires, até então considerado o primeiro filme brasileiro em formato panorâmico, rodado em Salvador e arredores entre 1956 e 1958 no pioneiro sistema Igluscope, o presente trabalho amplia questões e traz para o debate uma disputa da primazia pelas grandes imagens no cinema brasileiro.
    Dois filmes estreados em 1958, dirigidos pelo mesmo Alberto Severi, O circo chegou à cidade, com produção de Primo Carbonari, o “Mike Todd” brasileiro, anunciado com estardalhaço como exibido em “Super Amplavisão 33” (?) e “O capanga” também festejado como “a primeira produção brasileira em Cinescópio” e estrelado por Fada Santoro e Alberto Ruschel (este ainda sob a fama de “O cangaceiro”) parecem competir no páreo do ineditismo anamórfico. Vale relembrar aqui que “Redenção”, apesar de ter sido rodado anteriormente, só teve sua estréia oficial no Cine Guarany, em Salvador, em 6 de março de 1959. Os outros dois filmes estrearam respectivamente em 28 de abril de 1958 (“O circo chegou à cidade”) e 21 de julho de 1958 (“O capanga”). Em outubro de 1957, jornais cariocas informavam que no Rio já existia um circuito de CinemaScope composto por 17 salas, enquanto que em São Paulo, o número chegava a 30, quase o dobro, portanto. Era essa a quantidade de salas existentes nas duas maiores cidades do país e que motivavam produtores a investir nas novas tecnologias, apostando ingenuamente que esse mercado absorveria as primeira experiências panorâmicas brasileiras.
    A pesquisa em questão também deverá esclarecer se, à exceção de “Redenção” os outros dois filmes citados foram realmente filmados com lentes anamórficas ou foram, apenas e mais uma vez, resultado de contrafações–máscaras que redefiniam as janelas quadradas para composições horizontais projetadas com lentes especiais.

Bibliografia

    BELTON, John, HALL, Sheldon e NEALE, Steven. Widescreen Worldwide. Herts-England, 2010.
    MEUSY, Jean-Jacques. Le CinémaScope: entre l’art e l’industrie. Paris, Association Française de Recherche Sur L’Histoire du Cinéma, 2003.
    VIEIRA, João Luiz. “A floresta e a cidade: o Rio como paisagem imersiva”, in KUSHNIR, B. e VIEIRA, J.L. Rio: 450 anos de cinema. Rio de Janeiro: emtempo/FAPERJ, 2015.