Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    DANIELA ZANETTI (UFES)

Minicurrículo

    Professora adjunta do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades (PÓSCOM-UFES). Coordenadora do grupo de pesquisas Cultura Audiovisual e Tecnologia (CAT). Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). daniela.zanetti@gmail.com

Ficha do Trabalho

Título

    Territorialidades audiovisuais: narrativas sobre um desastre ambiental

Resumo

    Considerando as práticas audiovisuais como dispositivos de produção de territorialidades, o artigo traz análises de vídeos de caráter documental disponibilizados no YouTube que tratam das consequências ambientais e sociais provocadas pelo rompimento de uma das barragens da empresa Samarco em Mariana, Minas Gerais (MG), em novembro de 2015. Os materiais audiovisuais examinados têm como foco os modos como esse desastre, que poluiu todo o Rio Doce, afetou diversos territórios e grupos sociais.

Resumo expandido

    As atuais plataformas de compartilhamento de vídeos on line são ambientes propícios para o surgimento de uma multiplicidade de discursos, gerados a partir de diferentes materiais audiovisuais. Para além dos vídeos de vloggers, o YouTube também reúne uma grande variedade de vídeos documentários, de diversos formatos, que trazem para o centro de suas narrativas minorias sociais ou grupos excluídos e suas demandas por reconhecimento e visibilidade. A partir disso, o artigo apresenta um estudo sobre materiais de caráter documental (em geral curta e média metragens) disponibilizados na plataforma YouTube e que tratam das consequências ambientais e sociais do rompimento de uma das barragens da multinacional Samarco em Minas Gerais, ocorrido em novembro de 2015. Este desastre ambiental causou o vazamento de uma lama tóxica que poluiu o Rio Doce, afetando várias cidades e comunidades de Minas Gerais e do Espírito Santo. A pesquisa traz análises de um conjunto desses vídeos com o propósito de identificar as “vozes” que conduzem essas narrativas (NICHOLS, 2005), as estratégias de construção imagética (GARDIES, 2007) e os discursos gerados por esses materiais, de maneira a evidenciar as formas de apropriação dos territórios – afetados pela “lama da Samarco” – a partir de narrativas audiovisuais. Considera-se que o território é a “produção a partir do espaço”, e que a apropriação e o uso de um espaço por parte dos atores sociais resultam em processos de territorialização (RAFFESTIN, 1993). Partindo do pressuposto de que “ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação)”, os atores sociais “territorializam” o espaço (1993, p.143), entende-se que as práticas de produção audiovisual também funcionariam como dispositivos capazes de estabelecer territorialidades. Tais práticas são, em essência, uma forma de “apropriação” dos espaços, que podem ser recriados, realçados, modificados, etc., para compor novas narrativas e, no caso dos materiais em estudo, promover disputas simbólicas. A pesquisa identifica distintos modos de visibilidade de comunidades e grupos sociais que foram diretamente atingidos pela tragédia socioambiental provocada pela mineradora Samarco em novembro de 2015, responsável por poluir o Rio Doce com rejeitos de mineração devido ao rompimento de uma de suas barragens em Mariana (MG). A busca inicial feita no YouTube a partir de palavras-chave, selecionou, dentre os materiais audiovisuais documentais encontrados, aqueles que tratavam especificamente de temas relativos ao “desastre da lama da Samarco” e o modo como isso afetou comunidades localizadas ao longo do Rio Doce. Foram priorizadas produções “independentes”, ou seja, não vinculadas a grandes empresas de mídia. Os materiais audiovisuais analisados dão visibilidade a processos de desterritorialização – e uma consequente disputa por territórios – geradas pelo desastre provocado pela Samarco e aos deslocamentos físicos e simbólicos sofridos pelas comunidades afetadas. As obras, em geral, reúnem diferentes atores sociais das comunidades retratadas, representativos de diversos segmentos sociais (pescadores, comerciantes, moradores, autoridades locais, representantes de organizações, visitantes etc.), ressaltando a imagem do nativo, do sujeito “local”, para tentar ressaltar um discurso que endossa a dimensão da tragédia, das perdas materiais e simbólicas que os moradores sofreram. Evidencia-se, sobretudo, a imagem e a fala do sujeito comum, ordinário, e de como seu cotidiano foi afetado (CERTEAU, 2013).

Bibliografia

    CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. 20ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2013.
    GARDIES, R. Compreender o cinema e as imagens. Lisboa: Texto & Grafia, 2007.
    NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus Editora, 2005.
    RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ed. Ática, 1993.