Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Emilia Santos (UNICAMP)

Minicurrículo

    Mestranda pelo programa de Multimeios da UNICAMP, com a pesquisa O sexo contra os dogmas, na simpatia da bitola, um prelúdio queer superoitista em JMB, é graduada em Artes Visuais pela Belas Artes de SP (2008) e desenvolve seu trabalho artístico e pesquisas voltados para saberes sobre as relações de gênero, identidade e sexualidade em diferentes suportes artísticos. Tem com áreas de interesse: estética, teoria queer e feminista, contracultura e superoitismo brasileiro.

Ficha do Trabalho

Título

    O sexo contra os dogmas na simpatia da bitola superoitista de JMB.

Resumo

    A fricção entre os corpos e linguagens que marcaram o superoitsmo nos anos 70, carregam em suas mise-en-scène características transgressoras e propostas estético-políticas que tensionam as hegemonias cinematográficas. Em Pernambuco, rompendo as fronteiras entre as representações artísticas, política e pornografia, JMB realiza obras que em sua forma e conteúdo contribuem para os questionamentos sobre uma corporalidade queer dentro do super-8 brasileiro e suas representações.

Resumo expandido

    Observando pelo filtro dos filmes Vivencial I (1974), Toques (1975), Esses moços pobres moços ricos moços (1975) e Jogos Frugais Frutais (1979), realizados por Jomard Muniz de Britto (JMB) em sua maioria contando com a parceria do grupo de teatro Vivencial Diversiones em Olinda-PE, nota-se que as proposições estético-políticas existentes na mise-en-scène geram radicalidades que chacoalham concomitantemente as hegemonias cinematográficas, os corpos, as mentes, as linguagens artísticas e as bitolas nos famigerados anos 70, sugerindo novas formas de representações de um “jeito de corpo” que hoje podemos entender por queer.
    Aproveitando esteticamente da “precariedade” do super-8 para produzir um vasto e impuro material fílmico, revisitando os horizontes da intertextualidade cinematográfica e suas rupturas entre fronteiras, o superoitismo em sua mise-en-scène provocava novos olhares para os grandes dilemas da intelectualidade trazidos pelo Cinema Novo, cunhados por Glauber como a estética da fome, que se reverberam e se ramificam com o cinema Marginal, e que exaltados pelos realizadores superoitistas buscam o alargamento destas problemáticas propondo temas como novas sexualidades, corporalidades, drogas e a decadência da moral burguesa.
    Estes questionamentos contra a moral e os “bons costumes” aparecem nas obras supracitadas revelando uma enorme potência para se pensar as relações de gênero e sexualidade dissidente em Pernambuco da década de 70, perguntamo-nos de que forma se desenvolve essa multiplicidade de linguagens e estética? Como se constrói essa batalha simbólica? De que forma se contrapõem ao modelo hegemônico do mercado e da indústria cultural em Pernambuco nos anos 70? De qual forma enfrentam os códigos e os comportamentos conservadores no Nordeste? Como podemos pensar em um prelúdio queer em Pernambuco? Esses questionamentos nos incitam a pensar nos filmes sobre sua forma, seus signos e códigos suscitando uma análise formal, textual e semiológica buscando as rupturas com os cânones cinematográficos e em seus contextos político-sociais, partindo das reflexões sobre os estudos culturais, os estudos subalternos, as relações trazidas por Foucault e problematizadas por Judith Butler e Paul Preciato. Buscamos nas pesquisas de Teresa de Lauretis relações sobre o impacto causado na autoimagem provocado pelo cinema, nos auxiliando a refletir sobre as radicalidades propostas nas obras de JMB, relembrando o que Susan Stong propõe em sua obra Contra a Interpretação (1996) que: no lugar de uma hermenêutica, precisamos de uma erótica da arte. (Ibid. p. 39).
    Dessa forma, a finalidade de entender como o corpus da pesquisa participa da preservação, na contemporaneidade, de um poder, tal como Foucault o analisa, que produz discursos de verdade pelos quais “somos julgados, condenados, classificados, obrigados a tarefas, destinados a uma certa maneira de viver ou a uma certa maneira de morrer, em função de discursos verdadeiros que trazem consigo efeitos específicos de poder” (FOUCAULT, 2008,p.180). Através de análise fílmica das obras supracitadas busca-se refletir sobre os signos, códigos que rompem com os cânones cinematográficos e com as representações normativas dentro do “cinema experimental” “pós-tropicalista” superoitista brasileiro.

Bibliografia

    BESSA, Karla, “Um teto por si mesma”: multidimensões da imagem-som sob uma perspectiva feminista-queer”, ArtCultura, Uberlândia, 2015.
    BUTLER, Judith. Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
    FIGUEIRÔA, Alexandre. O Cinema Super 8 em Pernambuco: do lazer doméstico à resistência cultural. Recife: Fundarpe. 1994.
    FOUCAULT, M Microfísica do Poder. Tradução de Roberto Machado. 28 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2008.
    GOULART, Sonia “Cinema e artes plásticas: os caminhos do experimental nos anos 70”. In: Cinema brasileiro: três olhares. Niterói: EDUFF, 1997.
    MACHADO JR, Rubens, Cidade e cinema: duas histórias a contrapelo nos anos 70. IN: III Seminario Internacional Politicas de la Memória 2011.
    PARENTE, André, Narrativa e Modernidade: Os cinemas não narrativos do pós-guerra, Campinas, SP, 2000.
    SOTANG, Susan, Contra a Interpretação, in Against Interpretation: And Other Essays, Picador USA, 2001.