Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Amanda Brum de Moraes Ponce Devulsky (UERJ)

Minicurrículo

    Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro na linha de pesquisa Processos Artísticos Contemporâneos. Bacharel em Audiovisual pela Universidade de Brasília. É também realizadora dos trabalhos Tente não existir (21º Festival Luso Brasileiro de Cinema), Fantasma cidade fantasma (Cinélatino 30º Rencontres de Toulouse), A outra caixa (Mostra Itinerante de Videoarte Feminista Bienal Miradas de Mujeres). Curadora do Cine Cleo e coeditora do Verberenas.

Ficha do Trabalho

Título

    Com Aleta Valente de Jogo de cena a Ex_Miss_FEBEM

Resumo

    Este trabalho pretende reunir, apresentar e discutir de uma perspectiva relacional as trajetórias da artista Aleta Valente em sua experiência com imagens de si mesma desde sua participação como personagem no longa-metragem Jogo de cena (2007), de Eduardo Coutinho, até Ex_Miss_FEBEM (2015-2017), obra realizada por ela a partir de postagens de fotografias e vídeos na plataforma Instagram.

Resumo expandido

    O presente trabalho propõe focar as trajetórias da artista Aleta Valente entre sua participação como personagem do documentário longa-metragem Jogo de cena (2007) e o seu trabalho Ex_Miss_FEBEM (2015-2017). Interessa aqui pensar possibilidades entre uma forma cinema (com seus devidos desvios) e um uso das plataformas digitais como produção artística, considerando discussões sobre gestos de autorrepresentação bem como a compreensão de um avanço “da representação à experiência” (BRASIL, 2010, p. 192) que revela uma dimensão performática da imagem.
    Em janeiro de 2015, Aleta Valente dá início ao trabalho Ex_Miss_FEBEM através do Instagram, desenvolvendo de forma experimental uma obra que acontecia no compartilhamento de suas próprias fotografias e vídeos e que se desdobrava nas interações com os outros usuários da plataforma e também em ações fora do ambiente online. Sua personagem possuía condições em comum com ela mesma: jovem mulher, mãe solteira, “Made in Bangu”. Em suas imagens e ao redor delas, afluem questões relacionadas ao corpo feminino, ao desejo, à tecnologia, ao fracasso, à precariedade, ao meme, ao escândalo, à vulnerabilidade; a dimensão biopolítica brotava dos entrelaçamentos estéticos. Nesse trabalho de difícil definição, era propiciada a inserção subjetiva do espectador em um espaço que deliberadamente confundia e para onde convergiam conceitos de “realidade” e de “ficção”, usando da contemporânea necessidade de construção de identidade por meio da difusão da própria imagem, que marca o capitalismo cognitivo, como uma costura a ser subvertida. Ao longo do período de atividade e mesmo depois do fechamento da conta em janeiro de 2017, o aspecto relacional do trabalho agregou a ele o aprofundamento de conflitos que seguiram tendo reverberações.
    O primeiro momento em que Aleta Valente teve imagens de si dentro de uma dinâmica de grande visibilidade foi em sua participação em Jogo de cena (2007), de Eduardo Coutinho. Após atender ao panfleto com o anúncio de chamada para um filme e ser entrevistada por Cristiana Grumbach, Valente foi selecionada para o filme em que Coutinho a entrevistaria sobre sua vida. Em falas, textos e entrevistas, Valente descreve a importância da experiência de participação e toca também no profundo incômodo durante o lançamento do filme, ao deparar-se com a interpretação pela atriz Fernanda Torres e com a reação da plateia do Festival do Rio: “Era a primeira vez que assistia o filme e me deparei com uma pessoa meio fraca, meio pobre, meio burra e toda desespero. E isso era eu. Tudo isso ampliado numa tela gigantesca” (VALENTE, 2014). Considerar que o filme cria uma “inequívoca zona de indeterminação, ambiguidade e indistinção entre (…) vida e cena” (FELDMAN, 2012, p. 30) também não oferece resolução à questão: o rosto filmado que figura na tela ainda atende a reconhecimentos, e numa economia da visibilidade, o que significa estar nesse espaço e quais as possibilidades de reconfigurá-lo?
    Como abordagem, pensamos espectador, artista e suas experiências não como papéis fixos subordinados um ao outro, mas como pontos de uma rede em constante mediação. No sentido de pensar as poéticas dos trabalhos interligadas às formas através das quais é possível relacionar-se com eles, nos apoiamos na compreensão da ‘fala de artista’ como documento, valorizando “o lugar ou a situação em que o artista exercita sua prática” (FERREIRA, 2006, p. 15) como um caminho de acesso a perspectivas processuais. De maneira a buscar, portanto, um olhar relacional, o trabalho se apoia em duas ferramentas: (1) nas entrevistas, falas e textos realizados pela artista ao longo dos anos e (2) em uma conversação entre a artista e a pesquisadora, feita com a finalidade de discutir os aspectos apontados.

Bibliografia

    BRASIL, André. Formas de vida na imagem: da indeterminação à inconstância. Revista FAMECOS, v.17, n.3, 2010.
    DUBOIS, Philippe. A questão da forma-tela: Espaço, luz, narração, espectador. In: REIS FILHO, Osmar Gonçalves dos (org.) Narrativas Sensoriais: Ensaios sobre cinema e arte contemporânea. Rio de Janeiro: Circuito, 2014.
    FELDMAN, Ilana. Jogos de cena: Ensaios sobre o documentário brasileiro contemporâneo. São Paulo: ECA-USP, 2012.
    FERREIRA, Glória e COTRIM, Cecília (orgs.). Escritos de Artistas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
    GULDIN, Rainer. Iconoclasm and beyond: Vilém Flussers concept of technoimagination, in: Studies in Communication Sciences, v.7, n.2, 2007.
    MENOTTI, Gabriel. Objets Propagés: The Internet Video as an Audiovisual Format. In: LOVINK, Geert e MILES, Rachel Somers (orgs.). Moving Images Beyond Youtube. Amsterdam: Institute of Network Cultures, 2011.
    VALENTE, Aleta. Só mais um cigarro. 2014. Disponível em: . Acesso em: 22 abril 2018