Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    ANA MÁRCIA ANDRADE (UAM)

Minicurrículo

    Ana Márcia Andrade é professora da graduação de Rádio, TV e Internet da Universidade Anhembi Morumbi. Doutoranda e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi. Bacharel em Jornalismo e Artes Cênicas. Faz parte do Grupo de Pesquisa Inovações e Rupturas na Ficção Televisiva Brasileira (CNPq), integrante da rede de pesquisadores OBITEL/Brasil.

Ficha do Trabalho

Título

    Vai Que Cola: complexidade de estilo televisivo?

Resumo

    No presente trabalho, procura-se dialogar sobre a especificidade do estilo televisivo de Vai Que Cola (Multishow, 2013-). A gravação sobre o palco traz aos episódios do programa características típicas de um sitcom tradicional. No entanto, VQC explora para além do palco ao utilizar também estratégias televisivas da sitcom não tradicional. A partir da análise da narrativa textual simples, teatralidade, single-camera e multiple-camera, essa hibridização leva a um estilo televisivo complexo ou não?

Resumo expandido

    Dentro do espectro do mercado audiovisual brasileiro de TV por assinatura, o Multishow, canal de televisão da operadora Globosat, tem se especializado no formato sitcom em horário nobre. Em 2013, o canal introduziu sua primeira sitcom estruturada sobre o palco e a plateia: Vai Que Cola – VQC. Esta foi apenas a primeira de quatro sitcoms produzidas pelo canal. Em 2015, foi possível perceber que quatro programas dividiram alternadamente o espaço na TV entre segunda-feira e sexta-feira às 22h30. São eles: Vai Que Cola (2013-2017), Trair E Coçar É Só Começar (2014-2015), Segura na Peruca (2015) e #PARTIUSHOPPING (2015). Todos trazem duas características comuns: além de serem gravados em um palco de formato teatral com plateia, os quatro absorvem a participação do público, que está sempre presente na gravação.
    O precursor desse formato da sitcom brasileira foi Família Trapo (TV Record, 1967-1971). Dos anos 1950 ao início da década seguinte, a falta de videotape já havia acarretado a exigência da transmissão ao vivo do teleteatro. A referida série, contudo, surgiu como resultado de outro fato: um incêndio no teatro da TV Record. Ele impulsionou a criação de Família Trapo para cobrir programas pré-gravados que haviam sido queimados. Milton Travesso sugeriu: “Por que não uma sitcom ao vivo?”. Sua sugestão “agradou de imediato, pois daria para aproveitar o teatro [que não havia sido queimado] e ao mesmo tempo economizar na produção” (YES; BOTTINI; CHAHESTIAN, 2003, p.111). Inspirados na comédia sobre uma família enlouquecida, retratada na série norte-americana Trapp Family, Carlos Alberto da Nóbrega e Jô Soares desenvolveram-na às pressas. A sitcom gravada no teatro Record tinha seu elenco composto por Jô Soares, Ronald Golias, Renata Fronzi, Otello Zeloni, Ricardo Corte Real e Cidinha Campos (YES; BOTTINI; CHAHESTIAN, 2003). Desde então, o formato foi explorado algumas vezes. Sai de Baixo da Rede Globo de Televisão é um deles.
    De todas as sitcoms apontadas até agora, Vai Que Cola oferta pontos de vista ao telespectador, até então ainda não experimentados na televisão brasileira. Ela apresenta um palco giratório que é enquadrado por câmeras um pouco mais ousadas. O palco e a câmera nunca haviam sido utilizados nas sitcoms brasileiras do mesmo modo. Nesta ousadia, é possível identificar o traço de um estilo televisivo, que no caso específico de Vai Que Cola, aparece como bastante singular em alguns momentos e com repercussão positiva em meio ao público. É sobre a singularidade composta pela mistura desses dois elementos que a narrativa da sitcom Vai Que Cola toma forma. A partir daí, surgem dois questionamentos: (1) existe uma especificidade única do estilo televisivo de Vai que Cola? (2) Seu estilo televisivo faz de VQC um produto complexo para a TV brasileira?
    O conceito de estilo televisivo que permeará a análise deste artigo será o mesmo utilizado por Jeremy G. Butler em Televisual Style (2010). Dessa forma, estilo televisivo é o uso sistemático e significativo de técnicas da mídia televisiva em um programa de televisão. Entre estas técnicas estão: “mise-en-scène (encenação, iluminação, representação e ambientação), enquadramento, foco e controle de som” (BORDWELL, 2013, p. 17) especificamente mediadas pela televisão. Considera-se, portanto, estilo televisivo como a “textura tangível” de um programa de televisão, assim como Bordwell (2013) propôs ao estilo cinematográfico.
    Com base nestas duas perguntas e no conceito de estilo televisivo, pretende-se analisar o episódio 11 da 2ª temporada de Vai Que Cola, intitulado “Tá Viajando” (2014). O conceito de sitcom de Bret Mills (2009) e a discussão sobre a complexidade narrativa de Jason Mittell (2012), darão o suporte teórico para essa comparação.

Bibliografia

    ANDRADE, Ana Márcia. O Estilo televisivo da sitcom Vai Que Cola: a hibridização entre teatralidade e televisão. 2016. Dissertação (Mestrado em Comunicação) Programa de Pós-graduação em Comunicação Audiovisual, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2016. Disponível em: http://portal.anhembi.br/biblioteca/#tab1. Acesso em: 25 jun. 2017.
    BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. Tradução Luís Carlos Borges. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.
    BUTLER, Jeremy G. Television style. New York: Routledge, 2010.
    MILLS, Brett. The sitcom. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2009.
    MITTELL, Jason. Complexidade narrativa na televisão americana contemporânea. São Paulo: Matrizes, ano 5, nº 2, jan./jun. 2012.
    SARRAZAC, Jean-Pierre. A invenção da teatralidade. Tradutora: Sílvia Fernandes da Silva Telesi. 2013. Sala Preta. USP. Disponível em: www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57531/68222. Acesso em: 01/02/2016.