Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Paulo Souza dos Santos Junior (UFPE)

Minicurrículo

    Pesquisador, fotógrafo e realizador audiovisual do Recife. Professor de fotografia e audiovisual do departamento de comunicação da Faculdade dos Guararapes. Mestrando em Comunicação do PPGCOM-UFPE e Especialista em Fotografia e Audiovisual pela UNICAP e em Gestão de Empresas pela UNISUL. Graduado em Gestão Financeira pela UNISUL e Fotografia pela UNICAP. Tem interesse nos estudos ligados sobretudo aos efeitos do real no cinema, experiência estética, cinema de gênero e fotografia.

Ficha do Trabalho

Título

    O olhar ameaçado: a fotografia dos found footage de horror

Seminário

    Teorias e análises da direção de fotografia

Resumo

    O trabalho analisa como as escolhas de cinematografia imprimem nos found footage de horror um efeito de ameaça, intensificando a sensação de medo e tornando críveis os eventos ameaçadores em tela. Identificamos como pilares construtivos desse conjunto de filmes a visão em primeira pessoa, a câmera diegética, a estética documental e um estilo amador, investigando como a fotografia, sobretudo sob o viés da câmera e textura da imagem, colabora para produção dos efeitos desejados pelos realizadores.

Resumo expandido

    Os found footage de horror são filmes que forjam a existência, em sua totalidade ou parcialmente, de imagens previamente capturadas por dispositivos diegéticos onde foram registrados os eventos que servirão narrativamente para produção e/ou intensificação do efeito de horror. Essa definição inclui não só imagens de câmeras de vídeo operadas pelos personagens, mas também de dispositivos de vigilância, webcams e outros aparatos de captura de áudio e vídeo que possam, dentro do universo fílmico, ter capturado os acontecimentos que vemos em tela. Em geral, essas imagens têm origem nas ações dos próprios personagens, que operam as câmeras ou montam artifícios de vigilância, um fenômeno cada vez mais sólido na contemporaneidade. “Os alicerces desses relatos mais recentes tendem a se fincar no próprio eu que assina e narra” (SIBILIA, 2008, p. 197). A ideia de manter uma câmera ligada, registrando os eventos em nossas vidas, comum na contemporaneidade, condição extremamente propícia para proliferação do estilo, essas obras surgem ancoradas na “espetacularização de imagens e sons da intimidade constituem temas que integram um debate mais amplo sobre novos regimes de visualidade que privilegiam imagens não profissionais” (CARREIRO, 2013, p. 227).

    A premissa de que as filmagens foram de alguma forma encontradas gera uma série de implicações que terminam por individualizar essa forma de produzir filmes, sobretudo em sua cinematografia. Observamos uma recorrência de procedimentos estilísticos como: câmera diegética, visão em primeira pessoa, estética de documentário e texturas de som e imagem amadoras.
    A necessidade de introduzir e conviver com a câmera em cena conduz os fotógrafos por caminhos pouco usuais, “muitas vezes arriscando composições descentralizadas, mas ainda mostrando coisas com bastante clareza” (BORDWELL, 2012). A câmera perde sua condição de invisibilidade, tomando um caminho oposto, passando a ser presente e a regular uma série de estruturas dentro da produção. A câmera diegética é “a mais destacada característica do falso found footage de horror […] consiste na presença de um aparato de captação de imagem e sons dentro da diegese” (CARREIRO, 2013, p. 229).

    Ao filmar no estilo found footage, o realizador se coloca diante de um complexo conjunto de regras e exigências para preservar a coerência narrativa. A primeira delas é justificar a continuidade das gravações, mesmo diante da ocorrência de eventos de horror, dar motivações aos personagens para não largar a câmera diante do medo. É preciso manter a ação verossímil, os personagens precisam reagir aos eventos fantásticos sem naturalizá-los, mas essa reação não pode ser desesperada ao ponto de prejudicar a compreensão do espectador sobre o desenvolvimento das ações. É o que Vivian Sobchack (2005, p. 150) vai chamar de “olhar ameaçado”, uma codificação associada aos eventos próximos à violência e à morte, signos que apontam o perigo e indiciam a “presença física e corporificada por trás da câmera e presente na cena”, apontando um “perigo mortal, enfrentado pelo cinegrafista”, como câmera na mão, imagens tremidas, granuladas, perdas de foco. Esses filmes buscam e precisam, ser verossímeis. Conforme observa Rodrigo Carreiro (2013, p.226) “os filmes chamados dessa forma possuem enredos ficcionais que utilizam deliberadamente procedimentos estilísticos e/ou narrativos normalmente associados ao documentário”.

    O uso desses códigos narrativos corrobora para construção de um verossímil, que intensifica o efeito de horror, afeto proposto pelo realizador e demandado pelo espectador. A fotografia se desloca de seu papel narrativo clássico, mantendo uma preocupação com legibilidade dos eventos, mas compartilhando com isso a busca por um efeito realista. É nessa oscilação entre duas demandas de linguagem que se situa nossa busca por entender as soluções que a fotografia empresta para composição do estilo found footage.

Bibliografia

    BORDWELL, David. “Return to paranormalcy”. Observations on film art. Disponível em .
    CÁNEPA, Laura; CARREIRO, Rodrigo. Câmera intradiegética e maneirismo em obras de George A. Romero e Brian De Palma. In: Revista Contracampo, v. 31, n. 1. Niterói: Contracampo, 2014.
    CARREIRO, Rodrigo. A câmera diegética: legibilidade narrativa e verossimilhança documental em falsos found footage de horror. In: Revista Significação, v. 40, n. 40, 2013.
    ______. Elogio da imperfeição: [Rec] e a câmera diegética em falsos filmes de found footage. REVISTA FRONTEIRAS (ONLINE), v. 19, p. 17-25, 2017.
    HELLER-NICHOLAS, Alexandra. Found footage horror films: fear and the appearance of reality. Jefferson, NC: McFarland & Company, INC., Publishers, 2014.
    NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. 6ª ed. Campinas: Papirus, 2016.
    SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, 286P.