Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Francieli Rebelatto (UNILA/UFF)

Minicurrículo

    Docente em Cinema e Audiovisual na UNILA. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF. Mestre em Ciências Sociais pela UFSM (2011). Formada em Comunicação Social pela UFSM (2008). Atuou profissionalmente como fotojornalista e na Programação e Projetos Especiais na TVE-RS. Atua como roteirista, diretora e fotógrafa. Tem interesse nos seguintes temas: fotografia e cinematografia, América Latina e processos de integração, política e gênero.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema, corpos e território: a fotografia dos filmes Paulina e Guarani

Seminário

    Teorias e análises da direção de fotografia

Resumo

    Este ensaio pretende apontar representações de fronteira territorial e de gênero nos filmes Paulina (2015) e Guarani (2016), a partir da relação cinema, corpos e território expressos nos elementos da direção de fotografia. Os filmes foram gravados na fronteira entre Argentina e Paraguai, carregando assim elementos específicos de um determinado território. Além disso, tratam de histórias de mulheres e o papel estrutural do patriarcado. Relaciono análise contextual das obras e análise fílmica.

Resumo expandido

    Nos dois filmes aqui analisados – Paulina do diretor argentino Santiago Mitre e Guarani do diretor paraguaio Luiz Zoraquín -, as fronteiras territoriais margeiam as relações entre os países e as relações de gênero construídas a partir das personagens principais e seus entornos familiares. A grografia é um elemento central neste debate, não só como aponta Dudley Andrew (2013) ao pensar uma nova cartografia para análise do cinema mundial, ou a dimensão de terra como circulação/ imagem em movimento de um mundo possível (FRANÇA, 2003) mas especialmente na materialização desta territorialidade no texto fílmico. Instigada pela proposta de elaborar uma síntese a partir do quadro fotográfico, elaboro a seguinte pergunta: Quais elementos do texto fílmico que evidenciam, nas marcas estilísticas das obras, a relação cinema, território e o corpo na perspectiva das fronteiras territoriais e de gênero?
    As duas obras ficcionais – em sua diegese nas especificidades da linguagem-, nos permitem fazer o exercício de diferentes perspectivas da relação entre análise contextual das obras e análise dos elementos da fotografia. Os autores Vanoye e Goliot-Leté (1994) apontam que o primeiro contato com o filme – mesmo como espectadores-, nos coloca em um atitude “analisante” apontando “profusão de impressões, de emoções, e até de intuições” (1994, p. 13). Mas como analistas não é possível apenas nos fixarmos a estas primeiras impressões, se não que, precisamos ‘despedaçar, descosturar, desunir, extrair, separar, destacar e denominar materiais que não se percebem isoladamente “a olho nu”, uma vez que o filme é tomada pela totalidade’ (VANOYE e GOLIOT-LÉTE,1994, p.14).
    Por este caminho do despedaço e da descostura dos elementos fílmicos das duas obras, problematizo o emprego de certos procedimentos expressivos no texto fílmico para pensar a relação corpo, cinema e território a partir das questões levantadas pela representação de fronteira territorial e de gênero, ao considerar justamente o choque entre estes corpos masculinos e femininos nas impressões de determinada cultura. Partindo do quadro fotográfico como material fundante para uma análise mais acurada que vá além das primeiras impressões, no tocante ao enquadramento, composição e a luz como elementos estilísticos primordiais. Conforme Marcel Martin (2005) os enquadramentos ‘constituem o primeiro aspecto da participação criadora da câmera no registro que faz da realidade exterior para transformá-la em matéria artística’ (2005, p.44). Também a iluminação é um elemento material que participa da criação da imagem, para ele “a fotogenia da luz é uma fonte fecunda e legítima de prestígio artístico para um filme (…)” (MARTIN, 2011, p. 62).
    Guarani e Paulina são duas obras que estão no bojo das produções contemporâneas que tentam extrapolar as fronteiras territoriais e as possibilidades econômicas a fim de viabilizar produções nas zonas mais periféricas do nosso continente. Por isso, são duas obras de ficção realizadas em co-produção, com equipes transnacionais, mas especialmente, são constituídas por histórias que acontecem nos dois territórios de fronteira: Paraguai e Argentina. Nestes territórios, as narrativas evidenciam aspectos culturais e crenças que acentuam as tensões entre os corpos dos personagens (masculinos e femininos) e que acarretam diferentes perspectivas sobre questões de gênero: enfrentamentos geracionais, entendimentos sobre o papel homem versus mulher, a manutenção de costumes por meio da determinação histórica dos papéis do homem e da mulher, etc.Retomando Pasavento (2002, p.35): “Sabemos que fronteiras, antes de serem marcos físicos ou naturais, são sobretudo simbólicas. São marcos sim, mas sobretudo de referência mental que guiam a percepção da realidade”. E é neste sentido, que me cabe despedaçar e/ou descosturar os elementos expressivos da imagem, buscando no quadro fotográfico as pistas para estas tensões que são representados nos corpos das nossas personagens.

Bibliografia

    ANDREW, Dudley. Além e abaixo do mapa do cinema mundial. In: Word Cinema: as novas cartografias do cinema mundial/ Stephanie Dennison (org.) – Campinas-SP: Papirus, 2013.
    AUMONT, Jacques. O olho interminável: cinema e pintura. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
    FRANÇA, Andréa. Terras e fronteiras no cinema contemporâneo. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003.
    MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. Lisboa, Portugal: Dinalivro, 2005.
    PESAVENTO, Sandra Jatahy. Além das fronteiras. In: Martins, Maria Helena (Org). Fronteiras culturais: Brasil – Uruguai – Argentina. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.
    VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica. Trad. Marina Appenzeller. Campinas: Papirus, 1994.