Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    ARTHUR FELIPE DE OLIVEIRA FIEL (UFF)

Minicurrículo

    Graduado em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas, atualmente é mestrando do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense – UFF. Tem experiência na área de Educação em escola de Ensino Fundamental na rede municipal de Aracaju. Pesquisa o uso do cinema em sala de aula e suas contribuições para o grande campo da educação, bem como o conteúdo infantil e sua relação com o mercado de Cinema e Televisão no Brasil.

Ficha do Trabalho

Título

    Experiências com o Cinema na Educação: crianças com câmeras nas mãos

Resumo

    Essa comunicação tem por objetivo refletir a respeito das possibilidades de contribuição do cinema ao campo da educação a partir de uma análise do fazer cinema em ambiente escolar. Partiremos dos estudos e experimentos realizados por Alain Bergala, Adriana Fresquet e Cezar Migliorin em diálogo com pedagogia do multiletramento apresentada por Roxane Rojo, considerando a importância do experimento cinema a partir das crianças e da coletividade do corpo escolar.

Resumo expandido

    São muitos os estudos que relacionam cinema e educação. Temos nomes importantes que se debruçaram por essa área e defenderam a importância da contribuição para o grande campo da educação. É inegável também que a presença do cinema no ambiente escolar é de longa data. Muitas vezes o filme ia para sala de aula quando o professor faltava e outras vezes era utilizado de forma meramente ilustrativa para elucidar algum conteúdo do currículo escolar. Contudo, para além dessas apropriações, a potencialidade do fazer cinema encontra no espaço escolar um jardim frutífero no qual é preciso experimentar para proliferar. É nesse sentido que essa comunicação visa a trazer as experiências evidenciadas e vivenciadas por teóricos como Alain Bergala, Adriana Fresquet e Cezar Migliorin e coloca-las em diálogo com a pedagogia do multiletramento trazida por Roxane Rojo, que, apesar de não mencionar diretamente o cinema em seus estudos, só evidencia sua potencialidade ao considerar que essa pedagogia se constitui da codificação e decodificação de multisemioses produzidas de multimodalidades. O que teria o cinema então se sua própria constituição não fosse absolutamente mútipla em todas suas faces?

    Tratamos aqui de experiência pois é a parti dela que a escola pode extrair pra si o melhor do fazer cinema: a experiência de vivenciá-lo, em todas suas formas, no espaço escolar. Como aponta MIGLIORIN (2015, p.10) “o cinema se apresenta como uma experiência com o mundo, com o outro, com o conhecimento, através das imagens e narrativas.”. Assim, o autor também defende a ideia de que a escola afeta o cinema e ele é também afetado por ela. Mais adiante, em seu estudo, o autor apresenta ainda três crenças que serão aqui consideradas essenciais ao pensarmos na possibilidade do cinema na escola: a primeira delas é “no cinema e na sua possibilidade de intensificar as invenções do mundo. A segunda é na escola, como espaço em que o risco de invenções é possível e desejável.” A terceira crença e fundamental para experiência de toda possibilidade e potencialidade do cinema é “na criança, como aquele que tem a criar com o mundo, com os filmes.” (MIGLIORIN, 2015).

    No entanto, essas crenças e essa experimentação só nos é possível se o cinema estiver efetivamente presente no ambiente escolar. E o seu experimentar não deve se restringir aos discentes exclusivamente, é preciso que toda escola experimente. É na coletividade da experiência que o cinema experimenta toda sua potência. Magda Soares (2004, p.110) salienta que “uma educação que se mostra com face polissêmica e se processa de um modo singular dá-se não por palavras, mas por olhares, gestos, coisas, pelo lugar onde vivem”. É considerando a potencialidade do experimento com o cinema no ambiente escolar que a pedagogia do multiletramento vem a colaborar. ROJO (2012) salienta que essa prática não se restringe exclusivamente às múltiplas práticas de leitura e escrita, mas sim à multiplicidade de linguagens, semioses e mídias envolvidas na criação de discursos multimodais e em toda pluralidade e diversidade trazida por seus autores. Assim, nos é possível voltar à Bergala, Fresquet e Migliorin para perceber o quão diversas são as experiências tidas com o cinema em ambiente escolar. A multiplicidade dos discursos experimentados, a criatividade e o criticismo nos mostra a potencialidade do cinema enquanto experimento e linguagem.

    Formar crianças conscientes, criativas e críticas é talvez a maior função da educação escolar. Assim, o cinema com ela pode colaborar pois sua potência não está em apenas ir a escola apenas como texto ou como tema, mas como ato e criação, especial e essencialmente por sua forma sensível e singular de se relacionar com as pessoas e com o mundo. (MIGLIORIN, 2015). O cinema pensa e faz pensar. A materialidade de sua imagem é texto e também contexto. É a partir do compartilhamento dessas experiências e dessa forma de pensar que temos a potencialidade do experimento cinema em ambiente escolar.

Bibliografia

    BERGALA, Alain. A Hipótese-Cinema – Pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD-LISE-FE/UFRJ, 2008.

    FIEL, Arthur. Entre telas e saberes: o cinema e o multiletramento. Revista Filme-Cultura, Brasília, n. 62, p.68-73, jul. 2017.

    FRESQUET, Adriana. Cinema e Educação: reflexões e experiências com estudantes de educação básica, dentro e fora da escola. 1° edição, Rio de Janeiro: Autêntica, 2013.

    MIGLIORIN, Cezar. Inevitavelmente cinema: educação, política e mafuá. 1. ed. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2015.

    ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo (orgs.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

    SETTON, Maria da Graça. Mídia e educação. São Paulo: Contexto, 2010.

    SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1997.