Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Pablo Mendoza (Ufscar)

Minicurrículo

    Compositor de música para teatro dança contemporânea e vídeo.
    Graduação em produção fonográfica pela Anhembi Morumbi.
    Especialização em composição de trilha sonora pela Anhembi Morumbi.
    Cursando mestrano em comunicação pela Ufscar
    Integrante do grupo de estudo Cinemídia.
    Curador da mostra de cinema silencioso latino-americano com trilha sonora ao vivo.
    Arte-educador, ministrando cursos a respeito de trilha sonora, sonoplastia e produção musical

Ficha do Trabalho

Título

    A música de Livio Tragtenberg em Latitude Zero

Resumo

    Esse artigo pretende analisar a música do compositor Livio Tragtenberg no filme Latitude Zero (2000) de Toni Venturi, lançando o olhar sobre a relação da música com os com elementos visuais e narrativos, discutindo as possíveis interpretações que podem surgir dessa relação. O embasamento se dá nas teorias de Claudia Gorbman sobre as funções da música no cinema juntamente com as propostas de Anahid Kassabian que apontam a possibilidade da música evocar informações fora do texto fílmico.

Resumo expandido

    Livio Tragtenberg é um compositor que, transitando por uma variedade de estilos e abordagens, criou música para importantes filmes brasileiros. Em Latitude Zero, o compositor utilizou elementos de blues e da música nordestina. Por meio de instrumentos orquestrais, ele faz valer a expressividade de sons considerados “desafinados”.
    O trabalho tem como objetivo discutir como essas sonoridades se articulam com os demais elementos fílmicos. Por se tratar de um filme com narrativa linear,em que em alguns possui alguns aspectos melodramáticos, podemos utilizar ferramentas analíticas de Claudia Gorbman. Em suas análises em melodramas hollywoodianos, ateórica pensa a música como uma ferramenta importante para imersão do espectador na narrativa, porém segundo ela essa imersão está estruturada na suspensão do senso crítico em relação ao que é visto em tela. Não é o que ocorre em Latitude Zero. O filme chama a atenção para questões de gênero, traz discussões políticas e se se articula também com a produção cinematográfica brasileira e mundial.
    Lucia Nagib no livro A Utopia do Cinema Brasileiro, aponta caraterísticas importantes no filme, a oposição entre o projeto masculino e feminino é uma delas, as divergências entre os personagens Lena e Vilela são é constantes, também é evidente a atitude opressora do personagem masculino. A autora faz algumas relações entre Latitude Zero com o filme de Glauber Rocha Deus e o Diabo na Terra do Sol, pois em Latitude Zero, segundo ela “o mar virou sertão”, se referindo ao garimpo abandonado, citando a frase que aparece na música de Sérgio Ricardo no filme de Glauber. Ela coloca Latitude Zero dentro de um grupos de filmes que reformularam a utopia do cinema brasileiro no contexto pós retomada, nesse grupo de filmes Nagib também encontra aproximações com elementos do cinema de Wim Wenders devido a narrativa linear e dramática enquanto busca de uma identidade cultural.
    Para discutirmos como esses elementos fílmicos e extra-fílmicos dialogam com a música de Tragtenberg, podemos nos basear em alguns conceitos colocados por Anahid Kassabian, a pesquisadora propõe abordagens de análise em que a música evoca narrativas fora do texto fílmico, chamando esse fenômeno de alusão. No caso de Latitude Zero se pode estender essa alusão a fatos históricos, levando em conta a migração de nordestinos para trabalhar do garimpo na região central do país, região em que se passa o filme . Tanto esse dado, quanto a relação que Nagib aponta com o filme de Glauber Rocha, podem ser relacionados com elementos nordestinos da música de Tragtenberg no filme. Também é possível elencar os elementos de blues em Latitude Zero, com aproximação estética apontada com a obra de Wim Wenders. A música original de Paris Texas, um dos filmes mais conhecidos do diretor alemão foi criada por Ray Cooder, um importante guitarrista de blues. Por outro lado se pode considerar o blues como significante de um estado de espírito, referente à melancolia.
    Outro ponto importante são as sonoridades consideradas instáveis que evidenciam a tensão existente entre o caráter opressor de Vilela e o desejo de liberdade de Lena.
    Pode parecer complexo encontrar mais de uma interpretação nas informações musicais, mas Anahid Kassabian defende a ideia de que diferentes grupos de pessoas podem interpretar a música do filme de diferentes maneiras. Gorbman considera a música como uma importante ferramenta para que não se tenha dúvidas a respeito da mensagem transmitida pelo filme, enquanto Kassbian propõe que a a interpretação da música em filmes está sujeita à particularidades da audiência, incluindo questões de gênero e cultura.
    Em Latitude Zero podemos pensar as duas abordagens teóricas como complementares, levando em conta a narrativa linear do filme , e também as várias possibilidades de associação. Possibilitando um tipo de análise que apontem as pluralidades que podem ser expressadas e percebidas através de relação musica e imagem.

Bibliografia

    CHION, Michel. Audio-Vision – sound on screen. Trad. e ed. ingl. Claudia Gorbman.
    CUNHA, José Marcos Pinto da. A migração no Centro-Oeste Brasileiro no período 1970-96: o esgotamento de um processo de ocupação / José Marcos Pinto da Cunha. – Campinas: Núcleo de Estudos de População/ UNICAMP, 2002.
    GORBMAN, Claudia. Unheard Melodies: Narrative Film Music.1. ed. Bloomington: Indiana University Press, 1987.
    KASSABIAN, Anahid. Hearing Film:Traking Identifications in Contemporary Hollywood Film Music. New York:Columbia University Press, 1998.
    MUGIATI Roberto. Blues: Da Lama à Fama Rio de Janeiro. Ed 34,1995.
    NAGIB, Lúcia. A utopia do cinema brasileiro: matrizes nostalgias, distopias. São Paulo Cosac Naify, 2006.
    TRAGTENBERG, Livio. Música de Cena: dramaturgia sonora. 1. ed. São Paulo: Perspectiva,2008.
    New York: Columbia Univ. Press, 1994.
    TINÉ, Paulo José de Siqueira. Procedimentos Modais na Músic Brasileira: Do campo Étnico do Nordeste ao popular na década de 1960. Campinas 2008