Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    ANTOINE NICOLAS GONOD D ARTEMARE (UFRJ-ECO)

Minicurrículo

    Antoine d’Artemare é cineasta-pesquisador, com experiência como diretor de fotografia e colorista. É formado em direção de fotografia pela École Audiovisuel de Boulogne (2006) e pela École Nationale Supérieure des Métiers de L’image et du Son/ La Fémis (2010). É mestrando em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na linha Tecnologia da Comunicação e Estética. Atualmente leciona como professor de direção de fotografia da Escola Superior de Propaganda e Marketing.

Ficha do Trabalho

Título

    Interseções entre o cinema documentário e o cinema experimental.

Resumo

    A apresentação busca explicitar as interseções entre o cinema documentário, o experimental e as artes plásticas na produção contemporânea, a partir do estudo de Cartas à Lumière (2017) de Fabiano Mixo. Pretendemos demonstrar como esse filme, por meio de um dispositivo imersivo, não só desloca as noções clássicas de ponto de vista, enquadramento e instância narrativa, como também propicia uma nova experiência perceptiva e sensível, apresentando novos caminhos estéticos para o cinema documentário.

Resumo expandido

    Palavras-chave: cinema documentário, cinema experimental, mutações contemporâneas do documentário, convergência dos meios, Realidade Virtual

    A presente proposta objetiva explicitar as interseções, atravessamentos e imbricações entre o cinema documentário, o cinema experimental e as artes plásticas na produção contemporânea brasileira, a partir do estudo da obra Cartas à Lumière (2017), do diretor Fabiano Mixo.

    Cartas à Lumière é uma obra híbrida composta por uma videoinstalação e um filme de Realidade Virtual, expostos em 2017 no centro cultural Oi Futuro Flamengo, no Rio de Janeiro. Ao contrário de um documentário clássico, a obra não tem nenhuma pretensão narrativa, informativa ou pedagógica. Munido de óculos de Realidade Virtual o espectador se encontra transportado para cenas cotidianas da estação de trem Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro. A obra é marcante por convocar de forma aguda a implicação do corpo e da sensorialidade do “espectador-participador”, que se encontra assim envolvido numa experiência interativa, acrescentando-se como uma outra dimensão à experiência contemplativa tradicional do cinema.

    Através da análise de Cartas a Lumière, essa comunicação pretende demonstrar como, por meio de um dispositivo imersivo que aprimora a estética da transparência, esse filme inclui o corpo do espectador de maneira imediata e interativa e produz dessa maneira uma nova experiência perceptiva e sensível que desloca as noções clássicas de ponto de vista, enquadramento e instância narrativa, apresentando novos caminhos estéticos para o cinema documentário.

    Nossa pesquisa buscará assinalar os parâmetros de convergência entre o documentário e o cinema experimental, o que parece fazer parte de um movimento mais amplo de reconfiguração do cinema documentário contemporâneo. Se essas imbricações existem desde o início do cinema, essa produção híbrida tem aflorado e se multiplicado de maneira significativa nos últimos anos. A respeito disso, o curador de cinema americano Richard Peña comenta a partir do cenário estadunidense: “se houvesse alguma palavra para melhor resumir a produção documental contemporânea nos EUA, provavelmente seria convergência: os limites estritos que por tanto tempo governaram a produção cinematográfica – ficção, documentário, animação, cinema experimental – têm praticamente desabado, com novas formas híbridas excitantes aparecendo continuamente.” (PENA, 2016)

    Será também considerado para essa apresentação o estudo da porosidade das fronteiras entre o documentário e a arte contemporânea, explorada por Consuelo Lins no artigo “Rua de mão dupla: documentário e arte contemporânea”, em que a autora comenta esse aspecto na obra do artista Cao Guimarães: “Rua de Mão Dupla expressa um cruzamento e uma circulação cada vez mais intensos entre domínios até pouco tempo distantes, e mesmo hostis entre si: a arte contemporânea e o documentário. Cineastas que trabalham prioritariamente no documentário criam instalações para serem expostas em galerias ao mesmo tempo em que artistas expandem suas criações para o campo das imagens documentais.” (LINS, 2009, p328)

    Nessa perspectiva, a apresentação pretende demostrar não só como Cartas a Lumière é um filme híbrido que faz convergir os gêneros do cinema documentário, do cinema experimental e das artes plásticas, mas também de que forma ele se inscreve numa tradição de interseções, atravessamentos e imbricações entre a história do cinema documentário e a história do cinema experimental no Brasil, renovando essa questão através do uso do dispositivo de Realidade Virtual.

Bibliografia

    BAIO, Cesar. Máquinas de imagem: arte, tecnologia e pós-virtualidade. São Paulo, Annablume, 2015.
    BELLOUR, Raymond. “De um outro cinema”. In: MACIEL, Katia (Org.), Transcinemas. Rio de Janeiro, Editora Contra Capa, 2009.
    BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.
    BRENEZ, Nicole. Cinémas d’avant-garde. Paris, Cahiers du cinéma, les petits cahiers, 2006.
    FATORELLI, Antonio. Fotografia contemporânea: entre o cinema, o vídeo e as novas mídias. Rio de Janeiro, Senac, 2013.
    GRAU, Oliver. Virtual art. From illusion to immersion. Cambridge, The MIT Press, 2003.
    LINS, Consuelo. “Rua de mão dupla: documentário e arte contemporânea”. In: MACIEL (Org.), Transcinemas. Rio de Janeiro, Editora Contra Capa, 2009.
    MACDONALD, Scott. Avant-Doc: Intersections of Documentary and Avant-Garde Cinema. New York, Oxford University Press, 2015
    MACHADO, Arlindo. Arte e mídia. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2007.