Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Carolina Goncalves pinto (ECA – USP)

Minicurrículo

    Mestre em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (2016). Foi aluna residente no Le Fresnoy – Tourcoing, França (2002 – 2004) e graduou-se em Cinema e Vídeo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (2001). Atua como realizadora e trabalhou ao longo de 7 anos como Assistente de Direção. Desde 2012 coordena e ministra cursos e aulas sobre linguagem audiovisual, direção cinematográfica e assistência de direção.

Ficha do Trabalho

Título

    Título: Cinema e Memória – Uma Aproximação Entre Campos

Resumo

    Em nossa proposta de análise, buscamos explorar as formas de aproximação entre memória e cinema, para além da imagem como mero registro de um instante. Indagamos quais seriam estes pontos de contato entre estes dois campos e no que divergem, utilizando como objeto de nosso estudo o filme Tão Longe É Aqui (2013) de Elisa Capai. Partimos do princípio que a montagem cinematográfica, relacionada à articulação de um pensamento em forma de filme, seja um dos vetores possíveis para o cotejamento.

Resumo expandido

    Através da análise do filme Tão longe aqui (2013) de Elisa Capai, pretendemos abordar as relações guardadas entre o cinema e a memória. Esta aproximação é pensada a partir da definição de Arlindo Machado acerca do filme ensaio, em seu artigo O Filme-Ensaio e da discussão proposta por Franklin Leopoldo e Silva em seu texto Bergson, Proust: Tensões do Tempo , além da conceituação proposta por Roger Bastide em Mémoire Collective et sociologie Du Bricolage .
    Filme que pode ser associado à tradição do filme etnográfico, Tão Longe é Aqui problematiza esta relação com o outro, entre a incompreensão e aceitação neste contato. A presença da narradora em primeira pessoa relata uma viagem à África, em forma de carta à uma suposta filha é o cerne deste conflito, explicitando como tolera esta relação com o outro a todo instante. Um Eu reflexivo, que em dado momento assume ser um embuste, uma vez que revela ter recorrido a uma mentira ao inventar a existência desta filha. O filme no entanto está em busca de uma verdade, trata-se de um questionamento sobre o que é ser mulher nos diverso lugares que visita. Articulado pelas contradições que cria, o relato se situa entre o que já foi vivido, na forma da carta à filha e no presente da imagem fílmica.
    Se o cinema pode ser considerado “testemunha involuntária do nascimento visual e sonoro de uma memória”. (Manckievicz in Deleuze) Em nossa proposta de análise, buscamos explorar que outras aproximações podem ser feitas entre memória e cinema, para além da imagem como mero registro de um instante. Indagamos que outras formas de aproximação podemos pensar entre cinema e memória, quais seriam estes pontos de contato entre estes dois campos e no que divergem, levando em conta este objeto de estudo.
    Aventamos como hipótese que a montagem cinematográfica, relacionada à articulação de um pensamento em forma de filme, como preconiza Machado em seu artigo O Filme-Ensaio , seja um dos vetores possíveis para cotejamento. Da mesma forma que as imagens ganham novos sentidos, umas em relações às outras, conforme defende Machado, as evocações ou rememorações assumem significados conforme a consciência na qual se manifestam, em determinada temporalidade. Cabe ainda relacionar este filme ao que diz Arlindo Machado sobre a forma ensaística: como uma forma de articular pensamentos na forma fílmica.
    Silva, aborda a questão da percepção da realidade pelo artista a partir de sua interioridade, entre o encontro de sua consciência com a temporalidade e que esta se dá sobretudo de maneira entrecortada, isto é, percebe-se instantes. É desta forma que a memória vai também operar, a partir da recuperação destes instantes, deslocados no tempo, mas que associados ao presente em que esta evocação se dá, produzem significados.
    Nos interessa, para este estudo pensar a memória não apenas como forma de armazenamento, mas como inscrição, produzida pela rememoração ou reminiscência. A memória como uma forma de atualização de um passado no presente, produzida de forma voluntária ou involuntária. Da memória que produz o imbricamento de temporalidades distintas. Em suma, memória como fabricação.
    Neste sentido, propomos, ao analisar Tão Longe é Aqui, cotejar a montagem cinematográfica como uma forma de articulação de um pensamento com as composições e produções de memória levando em conta percepção e temporalidades.

Bibliografia

    Bibliografia

    ADORNO, Theodor, W. O Ensaio como Forma in Notas de Literatura I, Editora 34, São Paulo, 2003
    AMIEL, Vincent. Estética da Montagem, Texto&Grafia, Lisboa, 2010
    BASTIDE, R. “Mémoire collective et sociologie du bricolage » [1970], Bastidiana 7-8, 1994
    CORRIGAN, Timothy. O filme-esnsaio desde Montaigne e depois de Marker, Papirus, Campinas, 2015
    DELEUZE, Gilles. L’Image Mouvement, Paris, Les Éditions de Minuit, 1983
    ¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬_____________. L’Image Temps, Paris, Les Éditions de Minuit, 1985
    FREUD, S. Notes sur le ‘bloc-notes magique’ [1925] In :_ Huit études sur la mémoire et ses troubles, 1925
    RASCAROLI, Laura. The Personal Câmera – Subjective Cinema and The Essay Film, Wallflower Press, Londres, 2009
    SILVA, F. Leopoldo. Bergson, Proust: tensões do tempo In: NOVAES, A. (org). Tempo e história, São Paulo, Companhia das Letras, 1996

    Filmografia
    CAPAI, Elisa – Tão Longe é Aqui (2013)