Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Arthur Fernandes Andrade Lins (UFF)

Minicurrículo

    Professor de Montagem no curso de cinema da UFPB. Possui experiência no campo do audiovisual, desenvolvendo atividades teóricas e práticas. Atua como diretor/roteirista/montador, tendo realizado filmes exibidos e premiados em importantes festivais nacionais. Mestre em Letras/UFPB com pesquisa sobre narratologia audiovisual e processos de adaptação. Doutorando no PPGCINE/UFF com pesquisa voltada para o cinema contemporâneo brasileiro em diálogo com os gêneros horror e ficção-científica.

Ficha do Trabalho

Título

    Monte Hellman: visadas trágicas e a crise da imagem-ação

Seminário

    Teoria dos Cineastas

Resumo

    Em suas entrevistas, Monte Hellman assume uma postura desinteressada com os desdobramentos teóricos e críticos de sua obra. Em seus filmes, ao contrário, é notável as múltiplas perspectivas meta-reflexivas. Pretendemos relacionar alguns procedimentos estéticos/narrativos desenvolvidos em seus filmes nos anos 60 e 70 e levantar questões tendo em vista a crise da imagem-ação (Deleuze) em consonância com um aspecto trágico que surge em seus filmes no seio do desencanto da contra cultura americana.

Resumo expandido

    Cineasta de enorme concisão estilística, Monte Hellman tem uma relação ambígua com a indústria hollywoodiana: embora tenha realizado filmes de baixo orçamento, mas com grande potencial comercial – tendo em vista os gêneros nos quais se vincula, como o western, guerra, terror, road movie -, sua trajetória se configura mais como um cineasta autoral de repercussão em festivais de cinema europeus e ambientes de cinefilia crítica. Essa condição de artista cultuado, mas preterido pela indústria e sem grande alcance de público, surge em suas entrevistas como um fracasso no seu projeto de cinema, pois o trabalho do artista seria se comunicar com o maior número de pessoas possíveis.

    Como sabemos, essa sua concepção da arte se alinha a própria dinâmica e história da indústria hollywoodiana. E a sua postura diante do ofício cinematográfico ecoa as posições de cineastas do período clássico, como John Ford e Howard Hawks. Mas os seus filmes, e o seu período de produção mais intensa, estão situados mais próximos ao contexto da Nova Hollywood, fim dos ano 60 e começo dos anos 70, período de renovação estética, formação de novos autores, e a emergência da contra cultura e das revoluções que se anunciavam ao mundo. Porém, mesmo que sua obra pactue com alguns procedimentos em evidencia neste período, há uma dinâmica própria interna aos seus filmes que ressalta uma incomunicabilidade como potência estética, um pessimismo melancólico que impregna as paisagens e a construção dos personagens, distante de qualquer psicologismo ou jornada redentora do herói.

    Pretendemos destacar quatro de seus filmes feitos entre os 60 e 70: Disparo para matar (1966), A vingança do pistoleiro (1966), Corrida sem fim (1971) e Galo de briga (1974), trazendo à tona os elementos que vão se constituindo numa perspectiva de esvaziamento do espaço e na construção de paisagens interiores dos personagens. Esse esvaziamento acompanha a rarefação narrativa e a errância dos personagens que agem deambulando pelo seu meio, sem lastro histórico determinado, suspensos em um esquema sensório-motor sempre em vias de se romper. Monte Hellman sugere em entrevista esse caminho quando explica que em sua concepção, o casting se refere a escolha dos atores e das locações, como uma simbiose.

    Em seus filmes, os personagens agem em movimento perpétuo, numa corrida ou numa caçada já perdida de antemão. O que lhes confere uma dimensão trágica é este desacordo essencial com a trama, com o tempo das ações grandiosas e dos projetos revolucionários totalizantes. É nesse aspecto que ‘Corrida sem fim’ é o filme mais paradigmático de sua obra, pois diferente da mitologia fundante do western, o road movie surgia como o gênero próprio a abarcar as demandas e insatisfações políticas de uma geração, ou seja, nova mitologia que já não encontra seu lugar na história, que vaga em um tempo indeterminado sem crença em um projeto de fundação.

    Deleuze, ao se debruçar sobre os tipos de imagem-movimento [1985], chama a atenção para a crise da imagem-ação como uma ruptura no esquema sensório-motor que não cessa de agir em seus personagens. Ele nos diz: é a vertigem de ‘Um corpo que cai’, é a paralisia em ‘Janela Indiscreta’, e elenca as características percebidas em uma nova imagem que surge daí.

    “Estas são as cinco características aparentes da nova imagem: a situação dispersiva, as ligações deliberadamente frágeis, a forma perambulação, a tomada de consciência dos clichês, a denúncia do complô. É a crise, a uma só vez, da imagem-ação e do sonho americano”. [DELEUZE, 1985, p. 234]

    Acreditamos que uma das forças do cinema de Monte Hellman surge ao trazer à tona essa crise (da imagem-ação, do sonho Americano), revestida de um pessimismo romântico onde os personagens e as paisagens se transmutam em uma mesma subjetividade que percorre a dimensão trágica de seus filmes.

Bibliografia

    ANDRADE, Fábio; ARTHUSO, Raul; GUIMARAES, Vitor; MIRANDA, Marcelo. Fora do Caminho: Entrevista Monte Hellman. Revista Cinética. Set/2016. Disponível em: . Acesso em 05 de maio. 2018
    BRENEZ, Nicole e D’ANGELA, Toni. Conversation with Monte Hellman. La Furia Umana/8. Disponível em: Acesso em: 8 de maio. 2018
    CAROLL, Noël. 1982. “The Future Of Allusion: Hollywood in the Seventies (and Beyond)”. October 20: 51-81.
    DELEUZE, Gilles. Cinema, a imagem-movimento, São Paulo: Brasiliense, 1985.
    ROSARIO, F.. Dinâmicas de espaço do road movie da década de 70: Richard C. Sarafian, Monte Hellman e Terrence Malick. Aniki : Revista Portuguesa da Imagem em Movimento, América do Norte, 1, jun. 2014. Disponível em: . Acesso em: 09 Mai. 2018.