Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Jéssica Pereira Frazão (UFPR)

Minicurrículo

    Documentarista, mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Paraná (PPGCOM/UFPR) e graduada em Produção Audiovisual pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). É integrante do Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e do Oxford Brookes University Documentary Club (OBUDOC).

Ficha do Trabalho

Título

    A noção de verdade na obra documentária de Werner Herzog

Seminário

    Teoria dos Cineastas

Resumo

    Esta comunicação tratará do conceito autoral do diretor Werner Herzog denominado Verdade Extática, termo usado para representar momentos sublimes em suas narrativas documentárias. O método utilizado considera tanto os filmes quanto as asserções herzoguianas sobre a ideia de verdade. Dentro da ampla filmografia documentária do cineasta, optou-se por analisar tal perspectiva nas obras O Grande Êxtase do Entalhador Steiner (1974) e Gasherbrum – A montanha luminosa (1984).

Resumo expandido

    Por vezes o diretor alemão Werner Herzog é mencionado em estudos voltados ao campo teórico do documentário, uma vez que já lidou com horizontes éticos como em O Homem Urso (2005); tecnológicos como em Caverna dos Sonhos Esquecidos (2010); autobiográficos como em Meu Melhor Inimigo (1999); de responsabilidade/risco com a equipe de filmagem como em La Soufriére (1977); experimentais como em Fata Morgana (1971), entre outros exemplos. Com um corpo de filmes respeitado e premiado, é possível posicioná-lo dentro de proposições de um cinema de autor (Autorenkino), pelo desenvolvimento de linguagem cinematográfica própria ao longo de quase seis décadas dedicadas a carreira. Como exemplo de cineasta-teórico em sentido exposto inicialmente por Jacques Aumont (2004) nas Teorias dos Cineastas, para além dos filmes, Herzog já escreveu declarações e livros-diários (1982; 2013), criou e regeu óperas, participou de manifestos e deu incontáveis entrevistas.

    Uma destas contribuições foi justamente a criação em 1999 do conceito de Verdade Extática (Ekstatische Wahrheit), ideia que gosta de frisar em toda oportunidade que encontra e que o acompanha até hoje. Para ele, Verdade Extática define uma condição de verdade inimiga do meramente factual, que deve remeter à essência vinda do êxtase no sentido da palavra grega ekstasis (ir para fora de si mesmo), um momento em que algo mais profundo se torna possível devido a um estado de sublimidade. Esse conceito é chave nesta proposta porque constitui o cerne do discernimento do cineasta no que diz respeito a sua representação de verdade fílmica no documentário. Esta noção de verdade funciona não apenas como uma idiossincrasia estilística de um Autorenkino, mas também como estratégia de auto representação, ficcionalização e alcance daquilo que é grandioso pelo esforço, no mesmo modo atlético ou físico de um jogador de futebol (CRONIN; HERZOG, 2014).

    Nesse sentido, tanto o êxtase quanto o sublime, em Herzog, remetem-se aos postulados filosóficos de Immanuel Kant (1993; 2008) e Dionísio Longino (1996). As experiências extáticas, resultando na exposição da verdade, se dão quando se atinge o nível do sublime, no sentido de elevação acima da natureza. A partir desta configuração, a relação personagem x natureza assume importância ímpar na compreensão dessa verdade fílmica. A natureza enquadrada pelas lentes herzoguianas é, numa primeira estância física, material, e não metafísica nem transcendental. O diretor utilizando representações do mundo físico, materializa e transforma estas paisagens em imagens cinematográficas (AMES, 2009). Esta configuração física que fala está “na fervorosa crença do diretor de que o cinema está conectado, em um nível fundamental, com a fisicalidade da experiência incorporada por parte do personagem fílmico e do cineasta” (WRIGHT, 2016. p. 83). Nas obras destacadas, os personagens são assumidamente deslocados e pouco compreendidos. Almejam o extraordinário e dentro das suas ambições, são sempre relembrados pela natureza das suas condições humanas diminutas. Dentro de um leque de recursos imagéticos e sonoros, o diretor busca apresentar ao espectador momentos de ausência do medo dos atores sociais, pela evocação da ideia de êxtase.

    Consoante com a premissa de que filmes contribuem para a reflexão teórica, esta comunicação combinará trechos dos documentários sugeridos com a exposição de textos e entrevistas do idealizador acerca da Verdade Extática, abordando-a pelo viés fundamental da relação personagem x natureza.

Bibliografia

    AMES, Eric. Herzog, Landscape, and Documentary. Cinema Journal. Vol.48, No. 2, Screen Studies Collection, pp.49-69. Winter 2009.
    AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas: Papirus, 2004.
    CRONIN, Paul; HERZOG, Werner. Werner Herzog – A Guide for the Perplexed: Conversations with Paul Cronin. London: Faber & Faber, 2014.
    KANT, Immanuel. Crítica da faculdade do Juízo. Trad. Valério Rohden e Antônio Marques. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
    __________. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime. Campinas: Papirus, 1993.
    HERZOG, Werner. Conquista do inútil. Trad. Renata Dias Mundt, São Paulo: Martins Fontes – selo Martins, 2013.
    __________. Caminhando no gelo. Trad. Lúcia Nagib. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1982.
    LONGINO. Do sublime. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
    WRIGHT, Cesare. Re-Framing “Ecstatic Truth” Experiments in the New Visual Language of Werner Herzog. Dissertation (PhD in Visual & Cultural Studies). New York: University of Rochester, 2006.