Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Alberto Greciano Merino (UFES)

Minicurrículo

    Pesquisador de Pós-Doutorado (PDJ-Cnpq) do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades (POSCOM) da Universidade Federal do Espirito Santo (UFES). Doutor em Comunicação Audiovisual e Publicidade pela Facultat de Ciències de la Comunicació da Universitat Autònoma de Barcelona (UAB). Graduado e Especialista em Publicidade e RR.PP pela Faculdade de Ciências de la Información da Universidad Complutense de Madrid – (UCM).

Ficha do Trabalho

Título

    Montagem e pensamento nas imagens do real: ensaio, hipertexto e VR360

Seminário

    Montagem Audiovisual: reflexões e experiências

Resumo

    Na busca de uma dramaturgia ajustada aos recursos tecnológicos e epistemológicos do dispositivo de imagens esféricas e interativas (VR360) o uso criativo-reflexivo da montagem oferece possibilidades visuais e hápticas para experimentar o real como uma assimilação transformativa do conhecimento. Propõe-se uma análise estética da montagem no documentário expandido para apontar que a reformulação do campo midiático passa pela conversão das tecnologias da visão em instrumentos de pensamento-ação.

Resumo expandido

    O presente trabalho parte do interesse em desenvolver uma reflexão crítica sobre a função que adquire a montagem na busca de uma nova dramaturgia adequada aos recursos tecnológicos e epistemológicos que oferece a plataforma de imagens esféricas. Para isso consideramos que a conjunção de elementos que entram em cena no dispositivo VR360° permitem incorporar uma capacidade retórica à imagem que introduz movimentos de pensamento. Isto é, na plataforma VR360 as imagens se inscrevem numa ecologia visual de caráter multifocal que já não propõe um processo mecanicista de transmissão de informações, mas projeta um espaço de intercomunicação ou aphrosfera (Sloterdijk, 2005) onde se produz uma assimilação transformativa do conhecimento.

    Para elucidar esse fenômeno, propõe-se rastrear formas audiovisuais derivadas do cinema do real, pois se entende que na busca pela realidade o documentário desenvolve uma capacidade para pensar o estatuto do real que supera as limitações da representação naturalista. Essa potência que detém o cinema do real para assimilar a fenomenologia simbólica e dialética do pensamento se manifesta através do uso criativo-reflexivo da operação técnica da montagem. Nesse intento de conectar o documentário expandido com as formas do imaginário se destaca o filme-ensaio, pois ao traçar um trajeto singular pela globalidade do assunto que aborda mediante a montagem, desliza-se por uma densidade temporal onde os conceitos se entrelaçam para compor uma ordem mútua entre ideias e coisas, o que preserva a fecundidade fluida do pensamento. Da mesma forma, distingue-se o i-doc porque, ao distribuir pelo espaço virtual do hipertexto uma série de elementos através dos quais o espectador tem que realizar um percurso visual e estabelecer conexões, surge uma montagem espacial que remete a um mapa mental. Isto é, mediante a percepção e ação que proporciona o discorrer por e com essa tecnologia, articula-se um modo de pensamento “rizomático” (Deleuze e Guattari, 2002) que fomenta um nível de conhecimento útil para abordar a complexa realidade.

    Considerando os princípios que trazem esses antecedentes propomos operar empiricamente com uma série de obras: “Rio de Lama” (Tadeu Jungle, 2016), “La Vampira del Raval” (Jimena Tormo, 2016), entre outras. Esses documentários VR360 superam as abordagens dos dispositivos ancorados na tela ao situarem o sujeito num lugar habitável que permite explorar a imagem desde dentro. Porém a utilização que se faz das imagens VR360 para pensar o real somente é transcendental quando situa o espectador num espaço de reflexão onde se pensa a imagem, pensa-se com a imagem e a imagem pensa. Desse modo, através de uma montagem expandida que ofereça possibilidades visuais e hápticas ao usuário, as imagens imersivas e interativas têm a capacidade de configurar ecossistemas nos quais a verdade se transforma em conhecimento reflexivo de uma subjetividade heterogênea, e a estética, na epifania de um pensamento que combina o geral com o particular, o conceitual com a prática, o intangível com a história e a razão com a emoção. Logo, nesta plataforma audiovisual verifica-se a possibilidade de estimular um “pensamento esférico” (CATALA, 2017) capaz de superar tanto o princípio de não contradição quanto a linearidade dialética, para se instalar em paisagens conceituais complexas onde as distintas concepções se entrelaçam através de reflexões rítmicas. Estamos, portanto, diante de uma forma de representação cenográfica que, seguindo o princípio do atlas de Warburg, ensambla uma “forma visual do saber ou forma douta do ver” (DIDI-HUBERMAN, 2010).

    Em suma, trata-se de expor uma discussão sobre as possibilidades da montagem para explorar o potencial que as tecnologias oferecem ao experimentar o real nas ecologias da imagem. E, com isso, apontar desafios que precisam ser superados para que a reformulação do campo midiático passe pela conversão das tecnologias da visão em instrumentos de “pensamento-ação” do sujeito.

Bibliografia

    AMIEL, V. Estética da Montagem. Lisboa: Texto&Grafia, 2010.

    CATALÀ, J.M. Viaje al centro de las imágenes: Introducción al pensamiento esférico. Santander: Shangrilaediciones, 2017.

    DIDI-HUBERMAN, G. Atlas ¿Cómo llevar el mundo a cuestas? Madrid: MNCARS, 2010.

    GAUDENZI, S. The Living Documentary: from representing reality to co-creating reality in digital interactive documentary. 2013, 308 f. Tese (Doutorado em Comunicação) University of Goldsmiths, Londres, 2013.

    RENÓ, D.P. Uma linguajem para as novas mídias: A montagem audiovisual como base para a constituição do cinema interativo. 2010. 181 f. Tese (Doutorado em Processo Comunicacionais) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2010.

    SLOTERDIJK, P. Esferas III: Espumas. Madrid: Siruela, 2006.

    SORA, C. Una inmersión en el audiovisual VR y 360. Serie DigiDoc-EPI, n. 1. Barcelona: Departamento de Comunicación, Universitat Pompeu Fabra, 2017.

    TRESKE, A. The inner life of video spheres. Amsterdam: INC, 2013.