Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Adriano Chagas dos Santos (Estácio)

Minicurrículo

    Mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense. Cursou MBA em TV Digital, Radiodifusão e Novas Mídias de Comunicação Eletrônica (UFF) e especialização em Marketing (Universidade Cândido Mendes). Graduado em Jornalismo pela Facha (RJ). Coordenador e professor da Estácio (RJ) nos cursos da área da Economia Criativa. Integra o Entelas – grupo de pesquisa em conteúdos transmídia, convergência de culturas e telas. Também atua na TV Brasil/Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Ficha do Trabalho

Título

    DO CINEMATÓGRAFO AO CELULAR: tão longe e tão perto

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    O cinematógrafo e o telefone celular contribuíram e contribuem para a reconfiguração de paradigmas de produção e exibição de imagens audiovisuais. Os filmes e vídeos gravados com câmeras de telefones celulares criaram uma relação de coexistência com as imagens técnicas do cinema e da televisão. Assim, esta investigação questiona se é possível observar algo realmente novo no fazer de usuários amadores, desconhecidos e inexperientes, exatamente pela falta de domínio da linguagem estabelecida.

Resumo expandido

    A cena de um indivíduo manuseando o telefone celular, em ambientes públicos ou privados, é uma representação cotidiana da produção, circulação e consumo de imagens audiovisuais. Esta ação envolve uma série de aspectos técnicos e comportamentais e abre caminho para investigações em diversos campos da ciência. Os smartphones, enquanto dispositivos móveis portáteis, assumem na contemporaneidade uma importância singular na história e contribuem para o estabelecimento de novas configurações e formatos da imagem técnica surgida com o cinema e o cinematógrafo, no fim do século XIX.

    Os vídeos feitos em telefones celulares por usuários anônimos, ao lado da tradicional fotografia, são alguns dos produtos gerados neste processo de transformação de sentido. Este conteúdo integra uma gama de registros semelhantes aos surgidos no primeiro cinema. Este trabalho aborda semelhanças e diferenças conceituais entre o cinematógrafo e os modernos smartphones, enquanto dispositivos para a captação e projeção de imagens, resguardando-se as realidades históricas e sociais de cada momento.

    Nos dias atuais, o alicerce do audiovisual está nas possibilidades emanadas com a transformação da imagem analógica em digital, a redução do tamanho, peso e preços de equipamentos de captação, processamento, distribuição e exibição de conteúdos. Dentro deste ambiente, a imagem produzida pelo telefone celular é instável, suja, vertical ou horizontal, e nem sempre tem o objeto focalizado e em evidência no quadro para apoiar a narrativa, ao contrário da linguagem clássica do cinema e da televisão, na forma como o espectador foi habituado a acompanhar. Esta imagem espontânea e documental, por exemplo, integrou a história do cinema, na ocasião da Nouvelle Vague francesa.

    Hoje, ao considerarmos as câmeras dos dispositivos móveis portáteis, é possível observar a mesma autonomia na operação do indivíduo, tanto na produção de rascunhos, quanto na elaboração de obras completas. Um sujeito, com seu smartphone, é ao mesmo tempo roteirista, diretor e autor, operando a própria câmera. Este trabalho percorre as nuances a respeito da formação do sujeito espectador, amparadas pelos estudos de Crary (2014); e a contextualização do cinematógrafo como uma máquina de pensar o tempo e seus usos em diversos campos da ciência, em Epstein (2015). Entre outros autores, complementam a reflexão os registros de Aumont (2012), a respeito do tamanho das imagens projetadas na grande tela.

    É sabido que os telefones celulares devem assumir um status ainda mais essencial na vida pessoal e profissional do indivíduo da pós-modernidade. Assim, as reflexões a respeito das imagens captadas e projetadas pelo cinematógrafo e os smartphones conduz a uma nova interrogação: seria concebível observar algo novo, característico e próprio no conteúdo produzido em dispositivos manuseados por autores amadores e desconhecidos, sem experiência, exatamente por este grupo não possuir o domínio na linguagem estabelecida no seu fazer?

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, SP: Papirus, 2012.

    CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano-vol.1. Petrópolis: Vozes, 2000.

    CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo: Unesp, 2002.

    EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002.

    EPSTEIN, Jean. La inteligencia de una máquina. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Cactus, 2015.

    GERBASE, Carlos. Cinco discursos da digitalidade audiovisual. Sessões do Imaginário. Nº7, dezembro, 2001.

    LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A tela global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna. Porto Alegre: Sulina, 2009.

    LISBOA, Aline. Formas expressivas da contemporaneidade: a estética do processo em filmes realizados via celular. Temática, v. 11, n. 3, 2015.

    STEYERL, Hito. Em defesa da imagem ruim. In Serrote, v. 19, p.186-199, 2010.

    WILLIAMS, Raymond. Televisão: tecnologia e forma cultural. São Paulo: Boitempo; Belo Horizonte, MG: PUC Minas, 2016.