Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Arruda Carneiro da Cunha (UFPE)

Minicurrículo

    Pesquisadora de pós-doutorado (PNPD/CAPES) do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federa de Pernambuco. É doutora em Cinema pela Birkbeck, University of London e mestre em Estudos Críticos e Culturais pela mesma instituição.

Ficha do Trabalho

Título

    Corpo, natureza e afeto em Tônus (2012) e O peixe (2016)

Resumo

    Esta comunicação discute a relação entre natureza, corporeidade e afeto em Tônus 1 (Rodrigo Braga, 2012) e O peixe (Jonathas de Andrade, 2016), a fim de examinar como imagens em movimento podem criar novas formas de imaginar a relação entre o humano e o não-humano. Os filmes apresentam um confronto entre humanos e animais, que atribui um sentido de tatilidade e afetividade às imagens, ao mesmo tempo em que funciona como gesto que evoca a potência estética e ética da natureza no audiovisual.

Resumo expandido

    Este trabalho faz parte da minha atual pesquisa de pós-doutorado que visa examinar uma nova dimensão da espacialidade da imagem em movimento em um conjunto de obras audiovisuais produzidas a partir do ano 2000, nas quais percebe-se um forte engajamento com a natureza, o não-humano e o meio ambiente. Atendendo à recente expansão das abordagens ecocríticas no cinema e nas artes visuais, a pesquisa está ancorada em um pensamento ecológico e uma noção de natureza como uma “abertura para uma miríade de preocupações que tem a ver com o cotidiano, a história, o político e o formal” (Pick; Narraway, 2013, p. 4-5). Numa perspectiva ecológica, percebe-se a passagem de um interesse estético e olhar distanciado para uma construção mais corpórea, afetiva, material e imanente dos espaços naturais e do não-humano.

    Nesse sentido, esta comunicação se propõe a discutir como uma perspectiva ecológica é posta em cena a partir de duas obras audiovisuais: Tônus 1 de Rodrigo Braga (2012, vídeo HD, 8 min) e O peixe de Jonathas de Andrade (2016, 16mm digitalizado em 2k, 37 min). De formas distintas, os dois filmes apresentam imagens da relação entre corpos humanos e animais através de um jogo de forças entre eles. Enquanto Tônus 1 encena um confronto entre uma mão humana e um caranguejo, O peixe retrata a batalha travada entre peixes e pescadores, quando estes últimos os capturam e acariciam até que morram asfixiados. Nas duas obras, o embate atribui um sentido de tatilidade às imagens, e compele o observador a sentir e pensar a natureza como uma experiência corpórea e afetiva. Nesse sentido, como afirma Rutherford, abre-se um espaço para uma compreensão materialista da ética e da estética (Rutherford, 2004, p. 3). Consequentemente, a natureza nos dois filmes é menos um lugar de contemplação ou uma paisagem – que pressupõe um observador neutro e distanciado – do que um agente senciente e vivo.

    Com base nos conceitos de visualidada hápitca (Laura Mark), corporeidade (Anne Rutherford, Vivian Sobchack) e afeto (Gilles Deleuze, Brian Massumi), e fundamentada numa abordagem ecológica, como proposta por Anat Pick e Guinevere Narraway, argumenta-se que ao atribuir agência ao não-humano, os filmes analisados desafiam ideias tradicionais de representação das subjetividades. Busca-se, portanto, pensar que funções a relação entre os corpos, a natureza e o afeto desempenha e que efeitos são produzidos a partir de uma aproximação com o não-humano, ou, para além do campo representacional, a partir de uma conexão direta entre a materialidade da imagem e a materialidade do mundo. Em outras palavras, não se trata apenas de questionar como a natureza é representada, mas, fundamentalmente, como as imagens em movimento desafiam nossas ideias e noções filosóficas a respeito da natureza e do meio ambiente, e criam novas formas de imaginar a relação entre o humano e o não-humano.

Bibliografia

    Barker, Jennifer. The Tactile Eye: Touch and the Cinematic Experience. Berkeley: University
    of California Press, 2009.
    Berger, John. Why Look at Animals. In: About Looking. Londres: Vintage, 1992.
    Bruno, G. Surface: matters of aesthetics, materiality and media. Chicago: University of
    Chicago Press, 2014.
    Marks, Laura U. The Skin of Film. Durham e Londres: Duke University Press, 2000.
    Marks, Laura U. Touch: Sensuous Theory and Multisensuous Media. Minneapolis: University
    of Minnesota Press, 2002.
    Mazis, Glen A. Merleau-Ponty and the Face of the World: Silence, Ethics, Imagination and
    Poetic Ontology. New York: SUNY Press, 2016.
    Pick, Anat; Narraway, Guinevere (Eds). Screening Nature: Cinema Beyond the Human. Nova
    York e Oxford: Berghahn Books, 2013.
    Rutherford, Anne. “Cinema and Embodied Affect”. Senses of Cinema, 25, 2003.
    Sobchack, Vivian. Carnal Thoughts: Embodiment and the Moving Image. Berkeley: University of California Press, 2004.