Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Iomana Rocha de Araújo Silva (UFPE)

Minicurrículo

    Professora do Núcleo de Design e Comunicação da UFPE/ CAA, doutora e mestre em comunicação pela UFPE, atualmente desenvolve o projeto Outros Cinemas Pernambucanos e pesquisa cinema brasileiro contemporâneo e suas peculiaridades estéticas. Desenvolve trabalhos práticos na área de direção e produção de arte para cinema desde 2007.

Ficha do Trabalho

Título

    Transbordamentos do cinema Pernambucano

Resumo

    A produção audiovisual do estado de Pernambuco vem se destacando. Mas para além do reconhecido contexto, há uma produção que se desvincula da forma cinema tradicional. Apresento aqui uma observação sobre estes “outros cinemas pernambucanos”, propondo um recorte panorâmico com o intuito de apontar peculiaridades estéticas e contextuais. Para tal observarei as obras: “Poema” (1979) de Paulo Bruscky, “Resgate Cultural” (2001) do Telephone Colorido e “Estás vendo coisas” (2016) de Barbara Wagner.

Resumo expandido

    A produção cinematográfica Pernambucana vem se destacando a cada ano, sendo reconhecida nacional e internacionalmente. Muito se tem observado sobre essa produção. Mas para além disso, tomando como base conceitos como cinema expandido, efeito cinema, transcinema, cinemas fluidos, e seguindo uma crescente e fervilhante produção audiovisual originada da apropriação, por parte dos artistas contemporâneos, da linguagem e dos meios técnicos próprios do cinema, emerge o que chamamos de “Outros cinemas pernambucanos”. A produção pernambucana que observaremos engloba muitas maneiras de se trabalhar a linguagem audiovisual, ampliando-a e multiplicando-a para além do espaço da tela, jogando com as margens do cinema, da fotografia, do vídeo, da performance, das imagens produzidas no computador. Produção esta que não é exatamente recente, e nos remete as experimentações pioneiras de artistas como Paulo Bruscky, que realizou cerca de 30 filmes de artistas e videoartes entre 1979 e 1982, depois disso produziu videoinstalações, além de ter criado técnicas especificas como o xerox-filme, com base em sequências xerográficas. Depois disso, vários outros artistas pernambucanos vêm seguindo por diversas experimentações, como as performances em super 8 de Jomard Muniz de Brito, cujas obras são marcadas pela transgressão e anarquia; as polêmicas experiências em vídeo do coletivo Telephone Colorido; chegando na produção contemporânea de Jonathas de Andrade, Marcelo Coutinho, Barbara Wagner, além de artistas como Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso, que ao mesmo tempo que estão ligados a forma cinema propõem obras instalativas e outras experiências estéticas com as imagens de seus filmes. Diante disso, propõe-se uma observação sobre estes cinemas pernambucanos que transbordam as margem delimitativas da forma cinema. Para tanto apresento neste artigo um recorte panorâmico, observando os filmes “Poema: O filme é a ponta e a ponta é o filme” (1979) de Paulo Bruscky, poema visual em que o artista recolheu durante mais de um ano pontas brancas (que vinham antes de começar a parte projetável) dos filmes super 8, realizou intervenções, transformou-as em filme e velou trechos para se tornarem as pontas. Evidencia-se com esta obra um período de livre experimentação, o cinema como meio plástico a ser explorado pela criatividade do artista; o segundo filme, “Resgate Cultural” (2001) do coletivo Telephone Colorido, curta de autoria coletiva, modus operandi anárquico e montagem fragmentada e não linear, usa como mote central um bem humorado sequestro como um artificio para escancarar algumas questões sobre a tradição artística pernambucana e sua indústria cultural. Marca-se assim a importância dos coletivos artísticos para a produção audiovisual pernambucana, a produção marginal possibilitada pelo advento do vídeo e uma postura crítica e ativista de seus autores. E por fim “Estás vendo coisas” (2016) de Barbara Wagner e Benjamim de Burca, esta obra apresenta o universo brega de Recife por meio de um olhar ao mesmo tempo documental e alegórico, com participação direta de figuras reais do contexto brega e fortes influências do gênero musical, o filme acompanha dois personagens que se deslocam entre seus empregos comuns (cabeleireiro/ bombeira) e suas vidas junto ao universo de shows das bandas que participam. Uma produção contemporânea que demonstra uma consciência da via de mão dupla entre artes visuais e cinema, bem como evidencia as dinâmicas de exibição e circulação desse tipo de obra, que permeia os universos das artes visuais e do cinema, sendo exibidos tanto em bienais e galerias, como em festivais de cinema tradicionais. Com esta observação busca-se apontar peculiaridades estéticas e contextuais relacionadas a cada obra, evidenciando seus processos artísticos, as redes de criação que se estabeleceram no estado e apontando uma produção madura, rica e heterogênea em linguagem e técnicas.

Bibliografia

    BELLOUR, Raymond. Entre imagens. Campinas. São Paulo: Papirus. 1997.
    CANONGIA, Ligia. Quase cinema: cinema de artista no Brasil, 1970/80. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1981.
    DUBOIS, Philippe. Cinema, Vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
    _________________.Movimentos improváveis: o efeito cinema na arte
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    FREIRE, Cristina. Paulo Bruscky: arte arquivo e utopia. Companhia Editora de Pernambuco, 2006.
    MACHADO, Arlindo (Org.). Made in Brasil: três décadas do vídeo brasileiro. São Paulo: Itaú Cultural, 2003.
    MACIEL, Kátia (Org.). Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009.
    MENDONÇA FILHO, Kleber. ESP 2 Telephone Colorido. In: III Janela Internacional de Cinema do Recife. Pernambuco: Revista da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – FUNDARPE, 2010.