Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Natalia Christofoletti Barrenha (UNICAMP)

Minicurrículo

    Doutora em Multimeios pela UNICAMP. Autora do livro “A experiência do cinema de Lucrecia Martel: resíduos do tempo e sons à beira da piscina” (Alameda e FAPESP, 2014). Codiretora da Imagofagia – Revista de la Asociación Argentina de Estudios de Cine y Audiovisual (AsAECA). Realiza pesquisa de pós-doutorado (PNPD – CAPES) no PPG Teoria e História Literária (IEL – UNICAMP) sobre a presença do horror nos cinemas argentino e brasileiro contemporâneo.

Ficha do Trabalho

Título

    O nascimento de uma nação e o horror: EL MOVIMIENTO, de Benjamín Naish

Resumo

    Pensar como o filme “El movimiento” (Benjamín Naishtat, 2015, Argentina/ Coreia do Sul) (re)imagina o violento nascimento de uma nação flertando com o gênero do horror.

Resumo expandido

    “El movimiento” (2015), segundo longa-metragem do cineasta argentino Benjamín Naishtat, repete várias estratégias utilizadas em seu primeiro trabalho, “Bem perto de Buenos Aires” (“Historia del miedo”, 2014), com destaque para o flerte com elementos narrativos e estéticos do gênero do horror para falar sobre a violência. Como constata Diego Lerer (2016), “o tema de Naishtat sempre foi a violência latente que tensiona todas as relações humanas. Em curtas como ‘El juego’ (2010) e ‘Estamos bien’ (2007), essa violência se faz presente através do uso de armas, sim, mas também em função da imprevisibilidade psicológica dos personagens. Em ‘Historia del miedo’ acontece algo parecido, mas ali o medo é já quase um estado da mente, uma condição da existência no mundo atual, a sensação de que o real, o aparentemente normal, tem sempre um lado escuro e imprevisível”. Em “Historia del miedo”, a violência parece impregnada aos corpos das pessoas, descolando-se deles através de misteriosos acontecimentos e de ações que nunca chegam às vias de fato, mas cujo mal-estar logra atingir a todos. Há um momento em que esse lado escuro e a brutalidade se materializam, mesmo que seja através da televisão: quando um personagem revisa vídeos da ocupação (falida) do quartel de La Tablada, em janeiro de 1989, no qual militantes do Movimiento Todos por la Patria (MTP) tentaram invadir essas instalações militares da Grande Buenos Aires com o propósito de frustrar um possível golpe que estaria sendo planejado pelas Forças Armadas em parceria com o candidato a presidente Carlos Menem. Desse evento confuso e midiático, até hoje pouco esclarecido, resultaram 39 mortos, 28 deles do MTP. A inserção dessas imagens de arquivo parece prenunciar os interesses que mobilizam “El movimiento”, no qual se viaja ao passado para traçar uma história da violência (no caso, especialmente a violência política) na Argentina.

    “El movimiento” se inicia com uma cartela esclarecendo o ano e o espaço da ação (“1835. Argentina”). Diversos grupos armados percorrem a pampa desolada exigindo recursos e submissão dos camponeses que ali vivem. Nas últimas cenas, a violência que atravessa a conformação da nação dá sinais de persistência para além do enunciado 1835, quando Naishtat não apenas quebra a quarta parede através do “depoimento” de cabeças falantes à câmera, como também borra as fronteiras entre documentário e ficção por meio desse recurso e de signos (uma caminhonete e uma moto que passam ao fundo) que ancoram o cenário no século XX ou XXI.

    O filme é uma espécie de western gauchesco, com homens a cavalo, o território sem leis, o império das armas, a conquista e a violência. O formato 4:3 e o preto e branco parecem querer reforçar a diegese no passado (ainda que esta sofra um giro poético ao final) ao emular esses aspectos típicos do primeiro cinema. Já o horror se faz presente através de elementos como o intenso contraste entre claros e escuros, que não nos permite ver completamente o que acontece em algumas cenas, causando tensão e medo, e o comportamento monstruoso do personagem principal.

    Esta proposta pretende analisar como Naishtat (re)imagina esse momento de conformação da nação e realiza esse jogo entre passado e presente, com a presença do horror que se prolonga na História.

Bibliografia

    CÁNEPA, Laura Loguercio. “Configurações do horror cinematográfico brasileiro nos anos 2000: continuidades e inovações” in CARDOSO, João Batista Freitas e SANTOS, Roberto Elísio dos (orgs). Miradas sobre o cinema ibero latino-americano. São Caetano do Sul: USCS, 2016. Disponível em:
    http://repositorio.uscs.edu.br/bitstream/123456789/728/2/miradas%20sobre%20o%20cinema%20ibero%20latino%20americano%20contempor%C3%A2neo.pdf.
    CARROLL, Nöel. A filosofia do horror ou Paradoxos do coração. Campinas/SP: Papirus, 1999.
    LERER, Diego. “Estrenos: El movimiento, de Benjamín Naishtat” in Micropsia. Cine, música, TV (y algunas cosas más), 01 março 2016. Disponível em:
    http://www.micropsiacine.com/2016/03/estrenos-el-movimiento-de-benjamin-naishtat/.