Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Lucas (PUCSP)

Minicurrículo

    Mariana Lucas Setúbal é mestranda em História Social na PUCSP, tem como objeto os filmes “A cidade é uma só?” e “Branco sai, preto fica” de Adirley Queirós. Especialista em “História, Cultura e Sociedade”. Integrante o corpo docente da FAAP, desde de 2014, onde ministra as disciplinas de Documentário e Cinema Brasileiro II. Graduada e em Cinema pela Fundação Armando Alvares Penteado, foi bolsista FAPESP pelo projeto de iniciação cientifica sobre Michelangelo Antonioni.

Ficha do Trabalho

Título

    DISTOPIA E REPARAÇÃO POLÍTICA NA CEILIÂNDIA DE ADRIRLEY QUEIRÓS.

Resumo

    Objetiva-se por meio deste, analisar os longas metragens do diretor Adirley Queirós: “A Cidade é uma só?” (2011) e “Branco sai, preto fica” (2014). Através do signo da disputa territorial enquanto alegoria dos limites da democracia brasileira, à medida em que do esgotamento, novas estratégias formais emergem enquanto tentativa de resposta a conjuntura de crise.

Resumo expandido

    Há na obra de Adirley Queirós o reconhecimento do fracasso do Brasil enquanto projeto. As principais empreitadas reformistas da história nacional fracassaram. Tanto o Plano de Metas de Juscelino quanto o lulismo reciclaram mecanismos extremamente perversos de manutenção da estrutura vigente.
    Se em “A cidade é uma só?” Há uma crítica ao projeto de modernização nacional, partindo do signo de Brasília enquanto alegoria do autoimperialismo, em “Branco sai, preto fica” o diretor identifica às contradições de um projeto de inclusão, que orientou a política do país, a partir do questionamento do espaço de legitimação de uma classe que ascendeu socialmente, mas, segue negligenciada pelo Estado e que ainda nega direitos básicos a estes cidadãos.
    Assim sendo, me parece que o filme “A cidade é uma só? ” Arma o território para a denuncia que irá ser consolidada em “Branco sai, preto fica”, ao passo que é possível de identificar nos filmes uma estrutura de sentimento de uma brasilidade inconformada, que marca o desenvolvimento narrativo.
    O conceito de Raymond Williams de estrutura de sentimento torna-se central para compreender os referencias com as quais Adirley Queirós está dialogando, à medida em que os filmes analisados são produzidos em uma conjuntura muito especifica, e crucial para compreensão da crítica presente nos filmes. “A cidade é uma só?” É lançado em 2011, já “Branco sai, preto fica” em 2014: entre eles ocorrem as manifestações de junho de 2013, que marcam uma ruptura na história política do país. Portanto, é possível reconhecer nos filmes o esgotamento diante de um projeto político que não ocorreu conforme sua promessa. Os protestos de junho sinalizam o forte desgaste que o sistema político vinha enfrentando “desde o mensalão” (2002).
    A promessa feita pelo Estado reparador de justiça social, inclusão política e inserção no mercado não passam de ficção cientifica. Os filmes não se iludem momento algum, não é possível encontrar condições de superação dentro de um espaço de reprodução.
    Em seu projeto estético as cidades satélites demarcam um estado de exclusão permanente, e a Ceilândia emerge enquanto retrato do projeto de democracia brasileira. A distância entre as cidades-satélites e o Plano- Piloto, é reforçada ao longo dos filmes a ponto de tornar intransponível, fazendo necessária a utilização de um passaporte para deixar a periferia e adentrar o centro da capital federal. Tanto em “A cidade é uma só? ” Quanto “Branco sai, preto fica” a fotografia do filme mostra-se muito mais à vontade nas ruas estreitas e nas casas subterrâneas da Ceilândia, onde o progresso não chegou e a democracia não simula um ideal inatingível, do que na utopia modernista do Plano Piloto.
    O signo da disputa territorial no cinema de Adirley Queirós marca a entrada na discussão política e sustenta o debate estético. A partir do resgate das narrativas silenciadas garantido por meio da forma documental é obtido ao mesmo tempo a partilha da experiência traumática e a fabulação da memória oprimida, enquanto ferramenta de combate ao poder público, “da nossa memória fabulamos nós mesmos” anuncia a legenda final do filme Branco sai, preto fica. Na dimensão política, a Ceilândia apresenta um estado de exclusão permanente que atravessa: o Plano de Metas do JK, a ditadura militar brasileira e uma política de inclusão que marca os anos do PT no poder, o desenvolvimentismo condena sempre a exclusão.

Bibliografia

    BRASIL, André. “Quando o antecampo se avizinha. Duas notas sobre o engajamento em A cidade é uma só?” Brasília: Revista Negativo, 2013.
    CEVASCO, Maria Elisa. “Para ler Raymond Williams”. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
    CORRREA, José, e GHIROTT, Mariana. “Brasil: Crise do petismo e esgotamento do distributivismo extrativista”, no prelo, 2016.
    FELDMAN, Ilana. “A Disputa pela cidade, debate com Adirley Queirós” In Festival Adaptação: A literatura no cinema, 3a edição Semana de arte moderna de 1922 90 anos, Rio de Janeiro, RJ.
    MESQUITA, Claudia. “Memória contra utopia: Branco sai, preto fica (Adirley Queirós, 2014)” Artigo apresentado no XXVI Encontro da Compós- GT Fotografia, Cinema e Vídeo, São Paulo, SP, 2015.
    MOSER, Benjamin. “Autoimperialismo. Três ensaios sobre o Brasil”. São Paulo: Crítica, 2016.
    QUEIRÓS, Adirley. “Entrevista Adirley Queirós diretor de ‘Branco sai, preto fica’ entrevista a Fora de Quadro”. Publicada em 19 de março de 2015.