Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Christine Pires Nelson de Mello (PUC-SP)

Minicurrículo

    Christine Mello é historiadora, crítica, curadora e pesquisadora em Comunicação e Arte. Autora de Extremidades do vídeo (Senac, 2008) e organizadora/autora de Extremidades: experimentos críticos – redes audiovisuais, cinema, performance e arte contemporânea (Estação das Letras e Cores, 2018). É professora da PUC-SP e da Fundação Armando Alvares Penteado – FAAP. Pós-doutora pela ECA-USP, é doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Coordena o Grupo de Estudos e o lab eXtremidades.

Ficha do Trabalho

Título

    Intensidades do tempo em Bill Viola: articulações na história

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    Com o objetivo de apresentar a obra de Bill Viola para análise de experiências relacionadas à intensidade do tempo nas intersecções entre Cinema e Arte, a presente comunicação propõe com isso algumas articulações na história.

Resumo expandido

    Desde os anos 1970, quando Bill Viola (Nova Iorque, 1951) descobriu a imagem e som em movimento para explorar diferentes estados da experiência humana, seus trabalhos têm sido uma das principais referências na contemporaneidade diante das intensidades e afecções que permeiam o tempo, relacionadas ao campo da imagem e som, à experiência corpórea e à tomada de contato com o outro.
    Problemas como esses relacionados às experiências do tempo concernem às crises da duração e da participação, compreendidas em torno do efêmero na atualidade. Sob essas condições, a experiência do tempo se dá na sua realidade provisória, na temporalidade intensiva de sua relação com o corpo.
    A obra de Bill Viola compreende o tempo em sua dimensão intensiva por meio de planos de contato que estabelece entre corpo, imagem, som e ambiente. Implica, portanto, observar a capacidade que a experiência do tempo tem de se apresentar e ativar sentidos no outro. Implica experimentar a ativação do outro pelo vídeo e o corpo em performance.
    Reconfigurações do tempo normalmente dizem respeito às transformações sociais, culturais e perceptivas. Parte considerável do desenvolvimento de sua problemática ocorre em sociedades que privilegiam as práticas imateriais, como as promovidas pelo pensamento na civilização grega, pela velocidade na Revolução Industrial e pelos fluxos informacionais na cultura digital.
    Desde a Antiguidade são produzidas imagens do tempo. Elas são determinadas, sobretudo, pelo deslocamento do corpo no espaço e pela temporalidade da imagem. O transitório é apresentado ao longo da história da arte tanto por meio de linguagens mais tradicionais como a escultura, a pintura e a arquitetura quanto por meio da fotografia, cinema, vídeo, performance, instalação, linguagens digitais e interatividade.
    Ações temporais e efêmeras na arte são experiências tipicamente associadas aos séculos 20 e 21. Seu legado mais recente invoca procedimentos desmaterializantes dos anos 1960 e 1970, relacionados ao neoconcretismo, à comunidade de artistas Fluxus, à arte conceitual e à crítica institucional, sob a forma de manifestações com o corpo, com o vídeo, com o tempo real, entre outras. Invoca também procedimentos desmaterializantes dos anos 1980 e 1990, relacionados, por exemplo, aos ambientes imersivos e às plataformas comunicacionais on-line.
    Com as intensidades do tempo presente no cinema e na arte ocorrem transformações como: deslocamentos para práticas vitais; transfigurações do corpo; a imagem é dada como provisória; ativações do campo sonoro; trabalhos que friccionam a duração; o processo é privilegiado em detrimento à obra acabada; noções de circuito são enfatizadas; obras solicitam a participação do público; articulações a partir dos espaços sociais; práticas que envolvem a performance, o espaço midiático e a interatividade ressignificam o ambiente artístico.
    Tais ações refletem modificações simultâneas entre arte, cinema, cotidiano e sensibilidades. O efêmero no cinema e na arte é visto assim como campo de tensão e como experiência do nosso tempo.
    Em suas obras recentes, Bill Viola tem como prática explorar os recursos mais avançados da imagem e som em ambientes digitais, por meio do uso de câmera lenta, duração estendida e efeitos de suspensão do tempo. Para ele, paradoxalmente, são esses estados de exceção da vivência do tempo que permitem abrir o corpo para o plano do contato e das afecções, para os atos de entrega diante da experiência imanente.
    Buscamos aqui compreender intensidades do tempo em suas relações com o campo da percepção sensória, no sentido de refletir sobre experiências intensivas em Bill Viola. O objetivo é pensar problemas do tempo concernentes ao cinema e à arte contemporânea que afetam a produção artística atual.

Bibliografia

    MELLO, Christine. Cinemáticas. In: SANTAELLA, Lucia; ARANTES, Priscila (org). Estéticas tecnológicas: novos modos de sentir. São Paulo: Educ, 2008. pp. 149 – 162.