Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Ribeiro da Silva Tavares (UFMG)

Minicurrículo

    Pós-doutoranda no PPGArtes – EBA / UFMG (Bolsa PNPD – CAPES) onde desenvolve a pesquisa interdisciplinar “60 Anos de Memória da Escola de Belas Artes da UFMG” e atua como professora colaboradora na graduação e na Pós-Graduação. Sua tese de doutorado deu origem ao livro: Helena Solberg, do Cinema Novo ao Documentário Contemporâneo (2014). Autora de capítulos em livros sobre o Cinema Brasileiro: “Feminino e Plural” (Papirus, 2017) e “Cronologia das Mulheres no Cinema Brasileiro” (no prelo).

Ficha do Trabalho

Título

    Autoria e criação coletiva em três filmes feministas da década de 1970

Seminário

    Mulheres no cinema e audiovisual

Resumo

    Esta comunicação percorre três documentários feministas pioneiros realizados no continente americano na década de 1970, pela brasileira Helena Solberg, identificando questões como invisibilidade, uso da ficção, crítica à imagem midiática da mulher e processo coletivo de produção. Nos interessa analisar nos filmes, a simultaneidade entre elementos que conformam o universo autoral da cineasta e o processo colaborativo de criação que marcou a elaboração desses filmes.

Resumo expandido

    Esta comunicação percorre três documentários feministas pioneiros realizados no continente americano na década de 1970, pela brasileira Helena Solberg, analisando questões como invisibilidade, processo colaborativo de produção, uso da ficção e de elementos que conformam o universo autoral da diretora como imagens de marionetes e bonecas esfaceladas. A perpetuação de imagem idealizada da mulher em conteúdos midiáticos da época – fotonovelas, filmes e propagandas de televisão – e sua influência no imaginário de mulheres latino-americanas também será analisada. Nos interessa observar a maneira com que a cineasta articula esses elementos na construção desses filmes que foram elaborados em processos colaborativos com outras mulheres nos EUA e lançados no auge da 2ª onda feminista.
    Os documentários integram a Trilogia da Mulher realizada nos Estados Unidos. The Emerging Woman, (A nova mulher,1974) inaugura a trilogia, seguido de The Double Day, (A dupla jornada,1975) e Simplesmente Jenny, 1977. São filmes de militância abertamente feminista e que se tornaram referência para os estudos nesta área, nos Estados Unidos e na América Latina. The Double Day foi veiculado por emissoras de televisão européias e distribuído nos EUA, Bolívia, México, Venezuela e Colômbia onde foi utilizado por grupos de mulheres para discussões em escolas, universidades e outras instituições.
    Esses filmes evidenciam uma postura incomum entre as contemporâneas de Solberg em seu país natal. Como lembra a pesquisadora Ana Maria Veiga, o termo “feminista”, no Brasil nos anos 1970-80, era com frequência utilizado para instigar o ódio ao movimento de emancipação das mulheres, o que hoje identificamos como antifeminismo, “fazia com que houvesse a necessidade de uma negação identitária por parte das mulheres que dele se aproximavam, ao mesmo tempo em que tentavam repeli-lo.” (VEIGA, 2017, p.86).
    Vivendo nos EUA, Solberg presenciou outro ambiente: a efervescência política de Washington D.C, onde morava. Chegou a participar do May Day 1971 – a última grande manifestação antibélica da era Vietnã, quando milhares de pessoas de várias regiões dirigiram-se para a capital, na tentativa de interromper o trabalho do governo federal, em protesto à Guerra do Vietnã. E integrou um grupo que iria filmar as manifestações. Mas foram presos e encaminhados ao estádio RFK – Robert F. Kennedy – junto com mais sete mil pessoas, onde ficaram por dezoito horas. No estádio, Helena entrou em contato com grupos feministas, o que despertou o desejo de realizar um filme sobre a trajetória dos movimentos de emancipação das mulheres nos Estados Unidos e na Inglaterra, o que daria origem, três anos depois, à The Emerging Woman.
    Ao contrário do Brasil, nos EUA, a segunda onda feminista, nas décadas de 1960-70, obteve expressiva adesão de artistas, mulheres e cineastas que geralmente trabalhavam de maneira coletiva. Para a pesquisadora estadunidense Danielle Schwartz (SCHWARTZ, 2006, p. 399), o processo colaborativo, em que cada mulher dava sugestões em todas as etapas, foi estabelecido em oposição à forma tradicional griersoniana na realização de documentários. Muitos filmes foram realizados desta maneira como The Emerging Woman realizado pelo International Women’s Film Project – coletivo de mulheres que viviam em Whashington D.C e somaram conhecimentos, desejos e habilidades na realização dos três filmes. São trabalhos de criação coletiva ao mesmo tempo em que apresentam elementos do universo autoral de Solberg que assina a direção. Esta simultaneidade entre a autoria da cineasta e o processo de criação coletiva será discutida na comunicação.
    Obs.: Esta comunicação é um desdobramento do texto ‘Helena Solberg: militância feminista e política nas Américas’ escrito para “Feminino e Plural – Mulheres no Cinema Brasileiro” (Papirus, 2017) organizado pelas pesquisadoras Karla Holanda e Marina Cavalcanti Tedesco.

Bibliografia

    SOLBERG-LADD, Helena. The Emerging Woman: Narration for the film. Washington D.C: Copyright by the Womens’s Film Project, Inc.1974.
    SCHWARTZ, Danielle. “Feminism: North America”. In: AITKEN, Ian. Encyclopedia of the Documentary Film. Vol-3. New York/London: Routledge, 2006, 398 p – 402p.
    TAVARES, Mariana. Helena Solberg: do cinema novo ao documentário contemporâneo. 1ª ed. São Paulo: Imprensa Oficial/É Tudo Verdade, 2014.
    ______________. Helena Solberg: Militância Feminista e Política nas Américas. In: HOLANDA, Karla e TEDESCO, Marina Cavalcanti (orgs.) Feminino e Plural: Mulheres no Cinema Brasileiro. Campinas: Papirus, 2017.
    VEIGA, Ana Maria. Estéticas e políticas de resistência no “Cinema de Mulheres” Brasileiro (Anos 1970 e 1980). In: HOLANDA, Karla e TEDESCO, Marina Cavalcanti (orgs.)