Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Carlos Gerbase (PUCRS)

Minicurrículo

    Carlos Gerbase possui graduação em Comunicação Social / Jornalismo pela PUCRS (1980), doutorado em Comunicação Social pela PUCRS (2003) e pós-doutorado em Cinema pela Universidade Paris III – Sorbonne Nouvelle (2010). Atualmente é professor titular da PUCRS, atuando no Curso Superior de Tecnologia em Produção Audiovisual (graduação) e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. É cineasta, escritor e cronista (jornal Zero Hora).

Ficha do Trabalho

Título

    REVISÃO DA VALIDADE DA PSICANÁLISE COMO FERRAMENTA NA ANÁLISE FÍLMICA

Resumo

    A psicanálise foi, durante o século 20, uma das disciplinas mais utilizadas por críticos e teóricos para a análise fílmica. Perguntamos: ainda faz sentido, após as descobertas recentes da psicologia evolutiva e da neurociência, continuar trabalhando com os conceitos de Freud e de seus discípulos? Onde a psicanálise triunfou e segue ajudando a explicar fenômenos estéticos, e onde já está superada?

Resumo expandido

    A semiologia, o marxismo e a psicanálise foram, durante boa parte do século 20, ferramentas teóricas importantes na análise da narrativa cinematográfica. Esta constatação, presente em texto de Ismail Xavier publicado em sua clássica antologia A experiência do cinema, lançada em 1983, dificilmente seria motivo de polêmica em meados dos anos 80. Mas Ismail deu um passo a mais: escreveu que, naquele momento, tanto a semiologia quanto o marxismo estavam enfraquecidos pelos “desquites, reconciliações, rearranjos e ressentimentos” (XAVIER, p.356) ocorridos na arena epistemológica dos anos 70. Enquanto isso, a psicanálise ainda resistia, pois permanecia como “o elemento mais estável, ponto de articulação que permanece mais atrativo a teóricos de orientações distintas” (XAVIER, p.356).

    Ismail escolheu cinco autores do campo da reflexão cinematográfica que trabalharam com a psicanálise para compor a terceira parte do livro (O prazer do olhar e o corpo da voz: a psicanálise diante do filme clássico): o alemão Hugo Mauerhofer (em texto de 1949), os franceses Jean-Louis Baudry (em texto de 1970) e Christian Metz (em texto de 1975 e entrevista concedida em 1979), a inglesa Laura Mulvey (em texto de 1975) e a americana Mary Ann Doane (texto de 1980).

    O texto de Christian Metz, com o título de História/discurso (nota sobre dois voyeurismos) é curto (nove páginas) e claro. Quase sem usar jargões, Metz fala como um intelectual que domina seu objeto (o cinema) e é capaz de estabelecer um discurso sobre o espectador voyeur no cinema que pode ser interpretado sem consultas constantes a um dicionário de termos psicanalíticos. Entretanto, na entrevista que se segue, o resultado é bem diferente. Segundo Ismail Xavier, Metz “discute as relações cinema/sonho, cinema/devaneio, cinema/fantasia, tentando tornar menos metafóricas as afirmações a que já estamos acostumados” (p.364). Para isso, faz largo uso de conceitos freudianos e lacanianos, chegando, à “ausência do pênis na mulher”, que origina o “processo do fetichismo” (XAVIER, p.429).

    Na boa ciência, para além dos jargões e dos conceitos teóricos estão ideias que dialogam com a realidade. Ou pelo menos deveriam dialogar. Entre 1983 (ano de lançamento de A experiência do cinema) e 2018 (ano em que escrevemos) passaram-se 35 anos. Nossa proposta é voltar ao pensamento de Metz e dar mais um passo no raciocínio de Ismail Xavier, fazendo a pergunta: a psicanálise de base freudiana ainda é uma boa base para analisar a narrativa dos filmes contemporâneos?

Bibliografia

    COUTINHO, Angélica; LIRA GOMES, Breno (orgs.). El deseo – O apaixonante cinema de Pedro Almodóvar. Brasília: CCBB, 2011.
    FREUD, Sigmund [1899]. A interpretação dos sonhos. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1988.
    ________________ [1920]. Além do princípio do prazer. In: História de uma neurose infantil ( “O homem dos lobos”), Além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920) – Obras completas, vol. 14. São Paulo: Cia das Letras, 2010, p. 120 – 178.
    METZ, C. O Significante Imaginário – Psicanálise e Cinema. Lisboa: Horizonte., 1980.
    PEREIRA, J. V. S. Psicanálise e cinema: sexualidade, desejo e pulsão de morte em Almodóvar. 2015. 82f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Departamento de Psicologia, PPGPSI-UFSJ, São João del-Rei, 2015.
    STRAUSS, F. Conversas com Almodóvar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
    XAVIER, Ismail (org.). A experiência do cinema. Rio de Janeiro: Graal. 1983.