Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Giancarlo Backes Couto (PUCRS)

Minicurrículo

    Mestrando em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, na linha de pesquisa Cultura e Tecnologias das imagens e dos imaginários. Formado em Jornalismo pela Universidade Feevale e estudante de Filosofia da Universidade Federal de Pelotas – UFPEL. Email: giancarlo.couto@acad.pucrs.br

Ficha do Trabalho

Título

    O Ritual dos Sádicos entre maio de 68 e a ditadura militar no Brasil

Resumo

    Esta exposição tem como tema a relação do filme O Ritual dos Sádicos, de José Mojica Marins, e os acontecimentos sociais dos anos 1960, tanto em escala global, como o maio de 68 francês, quanto nacional, como a ditadura militar. O painel parte do pressuposto de que o filme trabalha em sua narrativa com temas em voga na época, como os movimentos de libertação sexual e de contracultura e tem como objetivo analisar cenas da película, a fim de averiguar esses pressupostos.

Resumo expandido

    À primeira vista, o cinema de José Mojica Marins, o embate entre a ditadura militar brasileira e os movimentos sociais, e o maio de 68 francês podem parecer distantes, porém, um olhar mais profundo demonstra a consonância destes temas entre si. Nesse sentido, a proposta dessa pesquisa é justamente estabelecer esse estreitamento entre estes eventos históricos que ocorreram no mesmo ano em lugares completamente diferentes do mundo e pensar sobre as ligações e tensões desses acontecimentos entre si e como eles estão presentes direta ou indiretamente na narrativa de O Ritual dos Sádicos. Para isso, o objeto a ser analisado é o próprio filme O Ritual dos Sádicos, produzido no ano seguinte a 1968 e que ficou fortemente marcado em sua narrativa pelos movimentos de contracultura que se davam ao redor do globo.
    Os acontecimentos de maio de 1968, na França, a primeira vista, podem ser percebidos como movimentos surpreendentes em seu contexto local. Arcary (2008) relembra que, se de um lado, essa insurreição espontânea dos jovens estudantes se deu de um modo inesperado, por outro, esse período foi marcado pela instabilidade das políticas imperialistas e por uma série de revoltas ao redor do mundo, como os protestos contra a guerra do Vietnã, nos Estados Unidos, as marchas de estudantes, no México e a Primavera de Praga, na própria Europa. A ebulição dos anos 1960 se deu de forma globalizada e, nesse âmbito, não parece totalmente desvinculada das ideias de Mao Tsé-Tung e sua revolução cultural na China, que influenciaram os estudantes franceses em seus protestos e conseguiram cooptar a classe trabalhadora em uma série de greves que parou o país naquele maio de 1968.
    Hoje, cinquenta anos após esses acontecimentos, fica um pouco mais fácil de perceber sua relação direta com o que se propôs posteriormente mundo afora. Apesar das complexidades de se analisar os engendramentos da história, é possível afirmar algumas correlações entre maio de 68 e diversos movimentos posteriores, como marchas pelos direitos das mulheres, dos negros, dos homossexuais, além de movimentos ambientalistas, pela legalização das drogas e contra as repressões imperialistas (ARCARY, 2008). É desse cenário político dos anos 1960 que surgem novas subjetividades, protagonizadas por esses novos sujeitos da História (AGUIAR, 2008).
    No Brasil não foi diferente. Com a ditadura militar chegando a seu quarto ano no poder, os movimentos estudantis e operários no Brasil se organizavam contra o governo através de uma série de protestos e greves. Esse modus operandi foi muito parecido com o que aconteceu na França no mesmo ano. Assim como no país europeu, esses atos foram fortemente reprimidos pelo governo e acabaram se dissolvendo. No dia 13 de dezembro de 1968, então, o governo militar implantou o Ato Institucional número 5 (AI-5), estabelecendo um estado de exceção no país (ANTUNES; RIDENTI, 2007). Esse período, marcado pela forte repressão violenta, acentuou a censura a muitas obras artísticas. O cinema da época foi fortemente marcado e, dentre diversos cineastas, um deles teve sua obra completamente esquartejada: José Mojica Marins.
    Mesmo sendo recorrentes os cortes exigidos pelos censores da ditadura nos filmes de Mojica, foi O Ritual dos Sádicos, sua obra mais marcada nesse sentido. Produzida em 1969 e finalizada em 1970, ela foi completamente proibida e lançada apenas em 1986, após anos retido na censura, acusado de fazer apologia ao consumo de drogas.
    A metodologia a ser usada nesse trabalho é a análise fílmica, que se concentra em algumas cenas da película e busca fazer paralelos com aspectos sociológicos de seu contexto histórico. O objetivo é demonstrar como os temas em voga na época, como a libertação sexual, o uso de substâncias psicoativas e a repressão policial, estão presentes no filme de Mojica.

Bibliografia

    ANTUNES, Ricardo; RIDENTI, Marcelo. Operários e estudantes contra
    a Ditadura: 1968 no Brasil. Mediações • v. 12, n. 2, p. 78-89, Jul/Dez. 2007. Acesso em: 21 de abril de 2018. Disponível em:

    ARCARY, Valerio, Maio de 68: a última onda revolucionária que atingiu o centro do capitalismo. Acta Scientiarum. Human and Social Sciences, 2008, v. 30. Acesso em: 21 de abril de 2018 Disponível em:

    AUMONT, Jacques. et. al. A estética do filme. 1. ed. Campinas, SP: Papirus, 1995.

    BARCINSKI, André; FINOTTI, Ivan. Zé do Caixão: Maldito – a biografia. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Darkside Books, 2015.

    PADRÓS, Enrique Serra; GUAZELLI, Cesar Augusto Barcellos. 68: história e cinema. 1. ed. Porto Alegre, RS: Edições EST, 2008.

    SORLIN, Pierre. Sociología del cine: la apertura para la história de mañana. 1. ed. México : FCE, 1985.