Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcela de Souza Amaral (UERJ)

Minicurrículo

    Marcela Amaral é doutoranda do PPGArtes da UERJ, com pesquisa que enfoca o realismo no cinema contemporâneo e mise-en-scène. Atua há 12 anos como professora de Cinema, tendo ministrado aulas sobre temas como montagem, mise-en-scène e efeitos visuais, na UFF e em outras universidades. Tem um artigo publicado em nível internacional, no livro da V Women and the Silent Screen Conference e outro artigo a ser publicado em breve, pela II IntermIdia Conference. Atua ainda como diretora em cinema e TV.

Ficha do Trabalho

Título

    Intermidialidade realista, realismo de confronto e historiografia

Resumo

    O presente artigo abordará a relação entre intermidialidade e realismo no filme O invasor (Beto Brant, 2001), se concentrando na relação entre a música e o cinema; e investigando de que forma a intermidialidade pode ser compreendida como uma ferramenta historiográfica e de produção de uma visão social crítica. Além disso, busca-se responder, na relação com o realismo, se seria o caso de falarmos de uma “intermedialidade realista”?

Resumo expandido

    O presente artigo abordará os elementos de intermidialidade no filme O invasor (Beto Brant, 2001), se concentrando na relação entre a música e o cinema; e investigando de que forma esse recurso pode ser compreendido como uma ferramenta historiográfica e de produção de uma visão social crítica. Ao tratar da conflituosa estrutura social brasileira, o filme constrói um quadro de forte apelo realista, onde a relação entre elite e periferia não se assenta em uma oposição direta e simplista; mas se monta a partir de noções conflitantes, como divisão e proximidade; diferenciação e promiscuidade; contraste e cumplicidade. No filme, o mergulho nessas duas esferas se dá sobretudo através da música — que se apresenta em variados formatos (como trilha sonora, videoclipe, música diegética, entre outros); e singularmente através do hip-hop da periferia de São Paulo. Essa intrínseca relação com a música se constrói sob um intenso apelo realista, constituído em uma linguagem de constante oscilação entre códigos reconhecidamente ficcionais e documentais. Nota-se assim, a abertura de importantes espaços na narrativa para o que pode se compreender como uma “erupção do real”; ou um realismo produzido no confronto entre esses dois campos, o ficcional e o documental. Analisando, entre outros elementos, a sequência em que o rapper Sabotage, representando “quase a si mesmo” e com bastante improviso, entoa um rap de protesto social para os personagens de ricos e perplexos sócios de uma construtora; encontramos fortes evidências, de que, à medida que Brant se apropria do “inesperado”, usando a câmera para capturar “eventos da verdade” (BADIOU, 2006), os elementos do instante pró-fílmico passam a ser absorvidos pelo filme na composição de sua atmosfera e narrativa; gerando uma produtiva intersecção entre o apelo realista do filme e a música. O estudo das relações intermidiáticas de O invasor se torna crucial no reconhecimento do potencial fílmico de representar uma realidade singular. O interesse desse artigo é, assim, o de investigar a natureza da relação entre a intermidialidade e o realismo em O invasor, a partir de algumas questões que o filme suscita nos temas estudados: de que forma a música no filme torna-se uma ferramenta para potencializar o apelo realista, e detém ainda um aparente poder de representar a realidade social brasileira atual? De que forma essa intermidialidade pode ser vista como uma ferramenta historiográfica, que ajuda a retratar um tempo-espaço singular na história recente de São Paulo e da cultura brasileira? E seria mesmo possível traçar essa relação direta entre a intermidialidade do filme e seu apelo realista? Ou melhor, poderíamos falar de uma “intermidialidade realista”? Na tentativa de buscar respostas a estas questões, nos baseamos em um repertório teórico atualíssimo, que discute questões como intermidialidade, realismo fílmico e ética; particularmente como encontrado em autores como Lúcia Nagib (2007; 2017), Alain Badiou (2006), Thomas Elsaesser (2009), Agnes Pethö (2011), Ismail Xavier (2001 e 2011) e Ivana Bentes (2007). Além disso, como material de apoio, utiliza-se também a entrevista concedida pelo diretor do filme, aos professores Lúcia Nagib e Samuel Paiva, para o documentário Passagens (Lúcia Nagib e Samuel Paiva, a ser lançado), que é um trabalho fundamental e atual sobre a intermidialidade no cinema.

Bibliografia

    BADIOU, A. Being and Event. Londres: Continuum, 2006.
    BENTES, I. Vídeo e Cinema: rupturas, reações e hibridismo. In: MACHADO, A. Made in Brasil: três décadas do vídeo brasileiro. São Paulo: Iluminuras, 2007.
    ELSAESSER, T. World Cinema: Realism, Evidence, Presence. In: NAGIB, L.; MELLO, C. (eds). Realism and the Audiovisual Media. Basingstoke: Palgrave, 2009, pp. 3-19.
    NAGIB, L. Brazil on screen: Cinema Novo, new cinema and utopia. Londres: I.B. Tauris, 2007.
    ________. Beto Brant: realismo, género y obra de arte en proceso. In: VARGAS, J.C. (ed.) Tendencias del cine iberoamericano en el nuevo milenio: Argentina, Brasil, España y Mexico. Guadalajara: CUCSH, 2011, pp. 273-302
    PETHÖ, A. Cinema and Intermediality: The Passion for the In-Between. Cambridge: Cambridge Scholars Publishing, 2011.
    XAVIER, I. (org). Bazin in Brazil: A Welcome Visitor. In: ANDREW, J. D; JOUBERT-LAURENCIN, H. Opening Bazin: Postwar Film Theory and Its Afterlife. Nova York: Oxford University Press, 2011, pp. 308-315