Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Josafá Marcelino Veloso (UFF (PPGCA))

Minicurrículo

    Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense (PPGCA-UFF). Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (FFLCH- USP). Estudou cinema documentário na Escola Santo Antonio de Los Baños (EICTV), em Cuba. É músico, violinista, professor e compositor.

Ficha do Trabalho

Título

    Glauber Rocha, Teat(r)o Oficina e a Epifania Final

Resumo

    A partir da análise crítica do filme A Luta II – O Desmassacre, dirigido por Eryk Rocha, (quinta e última parte da transcriação teatral de Os Sertões de Euclides da Cunha levada a cabo pelo Teatro Oficina), pretende-se evidenciar o diálogo deste com a estética do cineasta Glauber Rocha. O gosto pela alegoria, o anseio de totalização, o ritual entre o mito e a história, o sagrado e profano nos trabalhos do Oficina e de Glauber.

Resumo expandido

    A partir da análise crítica do filme A Luta II – O Desmassacre, dirigido por Eryk Rocha, (quinta e última parte da transcriação teatral de Os Sertões de Euclides da Cunha levada a cabo pelo Teatro Oficina), pretende-se evidenciar o diálogo deste com a estética do cineasta Glauber Rocha. O gosto pela alegoria, o anseio de totalização, o ritual entre o mito e a história, o sagrado e profano nos trabalhos do Oficina e de Glauber. Essas aproximações são elaboradas a partir de um mergulho imanente nos procedimentos de montagem de Luta II que, como se verá, dialoga e reflexiona o trabalho de montagem da filmografia glauberiana. Proponho exercitar um olhar crítico que escave as especificidades fílmicas de uma obra magnífica: A Luta II – O Desmassacre. Um livro que vira peça que vira filme que vira DVD sobre aquilo que “foi, na significação integral da palavra, um crime”. (CUNHA, 2001, p.67). Ou melhor, uma tragédia. Um ato de tragédia.

    De 2001 a 2007, o Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona dedicou-se à épica adaptação, ou melhor, transcriação de Os Sertões de Euclides da Cunha. Dividida em cinco partes, A Terra, O Homem I, O Homem II, A Luta I e A Luta II – O Desmassacre, o espetáculo durava ao todo 26 horas. Um feito artístico extraordinário. As cinco partes construídas sob direção geral de Zé Celso Martinez Corrêa e com a colaboração de mais de 60 técnicos e atuadores viraram também filmes, exibidos poucas vezes nas salas de cinema e agora disponíveis em DVD. A Luta II – O Desmassacre narra a quarta e derradeira expedição do exército brasileiro ao sertão nordestino, com o envio de 12 mil soldados, canhões, armas modernas e estrategistas, como o Marechal Bittencourt, que pela primeira vez na história do exército brasileiro criou uma base de operações distante do front, de onde comandou as manobras, chefiadas pelo general Arthur Oscar e secundada pelo sanguinário general Barbosa. O filme discorre sobre os últimos dias da guerra civil de Canudos, que resultou no massacre de mais de 25 mil sertanejos, na morte do próprio Antônio Conselheiro e na destruição da cidadela. Mas no Teatro Oficina, o massacre de Canudos é encenado não como uma uma missa de repetição do martírio, mas sim da perspectiva de um “des-massacre”.

    A incorporação da figura e pensamento de Glauber Rocha neste último ato da peça-filme atesta o quanto este cineasta tem ainda a provocar-nos, mais de trinta anos depois de sua morte. Glauber e seu cinema merecem ser retomados sempre. Eterno retorno de um caldeirão infinito e suculento para aqueles que buscam pistas sobre os mistérios de nosso inconsciente mestiço. Seu filho, Eryk Rocha, diretor de A Luta II, está nessa busca. Diretor instigante, realizou ao lado de seus irmãos um filme absolutamente singular, pouco visto ou comentado. A Luta II – O Desmassacre é uma obra audiovisual de valor renovador, resultado de um hibridismo entre literatura, teatro, ópera e cinema.

    A partir das cenas analisadas, busca-se evidenciar pontos em comum entre as jornadas artísticas do Oficina e de Glauber no que diz respeito à antropofagia, o gosto pela alegoria, o impulso de totalização da História e como a cultura do povo e os seus mitos, na obra de ambos, funcionam como fonte de energia para a ação política e para a construção de uma estética onírica.

Bibliografia

    ALBERA, François. Eisenstein e o Construtivismo Russo. São Paulo. Cosac Naify, 2011.
    ANDRADE, Oswald de. A utopia antropofágica. 4o. ed. São Paulo: Globo, 2011.
    CORRÊA, José Celso Martinez. Primeiro Ato. Cadernos, Depoimentos, Entrevistas (1958-1974). São Paulo. Ed. 34,1998.
    CUNHA, Euclides da. Os Sertões, campanha de Canudos; Edição, prefácio, cronologia, notas e índices Leopoldo M. Bernucci. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
    GERBER, Raquel. O mito da civilização atlântica: Glauber Rocha, cinema, política e a estética do inconsciente. São Paulo: Vozes – Secretaria de Cultura de São Paulo, 1982.
    MEICHES, Mauro. Uma pulsão espetacular. São Paulo: Editora Escuta: FAPESP, 1997.
    ROCHA, Glauber. Revolução do Cinema Novo. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
    XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo, cinema marginal. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
    XAVIER, Ismail. Sertão Mar: Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo: Cosac Naify, 2007.