Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Regiane Akemi Ishii (USP)

Minicurrículo

    Regiane Akemi Ishii é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Mestre pela Unicamp com a dissertação “Tóquio no cinema contemporâneo – Aproximações” (2015). Atua como assessora de conteúdo no programa educativo da Fundação Bienal de São Paulo, onde ingressou em 2013.

Ficha do Trabalho

Título

    Tóquio e o imaginário de 1968: filmes de Matsumoto, Oshima e Terayama

Resumo

    Esta comunicação dedica-se à análise de produções realizadas em Shinjuku, distrito de Tóquio, em torno da efervescência política, intelectual e sexual da contracultura presente na virada da década de 1960 para 1970. Trata-se de filmes que realizaram experimentações estéticas e investimentos espaciais: “Diário de um ladrão de Shinjuku” (1969), de Nagisa Oshima, “Parada funeral de rosas” (1969), de Toshio Matsumoto, e “Jogue fora seus livros, manifeste-se nas ruas” (1971), de Shuji Terayama.

Resumo expandido

    Durante os anos 1960, Shinjuku, um dos principais distritos de Tóquio, abrigou um cruzamento de tensões que o destacaram como um espaço a ser intensamente filmado, tanto por diretores japoneses, quanto por estrangeiros. As consequências da Segunda Guerra Mundial, do Tratado de Mútua Cooperação e Segurança Japão-Estados Unidos e das Olimpíadas de 1964, tornaram-se visíveis no espaço urbano, com as transformações da arquitetura e dos modos de ocupação dos lugares públicos e privados.

    Tal década foi marcada pela circulação de referências das artes, cinema e literatura de outros países, assim como do imaginário da contracultura que permeou os acontecimentos de 1968. Esta comunicação dedica-se à análise fílmica de três produções realizadas em torno da efervescência política, intelectual e sexual presente na virada da década de 1960 para 1970: “Diário de um ladrão de Shinjuku” (“Shinjuku dorobô nikki”), 1969, de Nagisa Oshima, “Parada funeral de rosas” (“Bara no sôretsu”), 1969, de Toshio Matsumoto, e “Jogue fora seus livros, manifeste-se nas ruas” (“Sho o suteyo machi e deyou”), 1971, de Shuji Terayama.

    Em “Corpos da memória – Narrativas do pós-guerra na cultura japonesa (1945-1970)” (2012), Yoshikuni Igarashi examina o campo entre a repressão e a expressão do trauma da guerra nos corpos que sobreviveram à destruição. Segundo o autor, o alto crescimento econômico atingido na década de 1960 foi usado como uma resolução temporária para o país suportar as memórias da guerra, o que acabou por reverberar na própria arquitetura de Tóquio, com novas fachadas, planejamentos e, consequentemente, outros modos de convocar o corpo dos habitantes e visitantes, servindo como artifício para forjar a superação. O ápice da exibição da superação do pós-guerra se dá com as Olimpíadas de 1964. Para Igarashi, as Olimpíadas foram uma “oportunidade para a sociedade japonesa do pós-guerra reconfigurar e higienizar suas memórias da guerra através de corpos atléticos e paisagens urbanas” (2012, p. 52).

    Resistentes à assepsia forjada do período, os filmes citados localizam-se como iniciativas de contestação e resistência. Tais produções confrontam a narrativa de desenvolvimento econômico e higienização do espaço público, dedicando-se à efervescência dos bares e da produção cultural que emergia no submundo de Shinjuku, a poucas quadras das novas construções de lojas de departamento, bancos, hotéis e prédios governamentais.

    “Diário de um ladrão de Shinjuku” é uma adaptação livre de “Diário de um ladrão” (1949), escrito por Jean Genet. A livraria Kinokuniya é locação para uma das sequências iniciais do filme, em que o protagonista rouba livros de Genet enquanto uma garota finge ser vendedora. “Parada funeral de rosas” é protagonizado pela travesti Eddy, interpretada por Peter, figura da cena gay de Shinjuku descoberta pelo diretor Matsumoto. A narrativa não linear envolve um complexo de Édipo inverso e traz uma série de referências, de Baudelaire a Andy Warhol. Já “Jogue fora seus livros, manifeste-se nas ruas”, tem como protagonista um adolescente que joga futebol e lida com sua família disfuncional. A história principal é entrecortada por uma série de sequências da experiência jovem de Tóquio, como uma manifestação em Shinjuku que abarca uma polifonia de modos de exteriorizar a postura anti-guerra.

    O principal aporte teórico para a análise das relações entre cinema e cidade encontram-se em “Atlas of emotion – Journeys in art, architecture, and film” (2007), de Giuliana Bruno. Já as investigações de Christine Greiner em “Leituras do corpo no Japão” (2015) e “Fabulações do corpo japonês” (2017) instigam a reflexão sobre o que chamou de “diásporas cognitivas”, deslocamentos de artistas e pesquisadores tanto japoneses, quanto estrangeiros, que também são evidenciados nos filmes selecionados.

Bibliografia

    BARBER, Stephen. Projected cities. Londres: Reaktion Books, 2002.

    BRUNO, Giuliana. Atlas of emotion: Journeys in art, architecture and film. Nova York: Verso, 2007.

    GREINER, Christine. Fabulações do corpo japonês e seus microativismos. São Paulo: n-1 edições, 2017.

    GREINER, Christine. Leituras do corpo no Japão e suas diásporas cognitivas. São Paulo: n-1 edições, 2015.

    IGARASHI, Yoshikuni. Corpos da Memória: Narrativas do pós-guerra na cultura japonesa (1945-1970). São Paulo: Annablume, 2012.

    ISHII, Regiane Akemi. Tóquio no cinema contemporâneo – Aproximações. Dissertação (mestrado). Campinas: Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas, 2015.

    MAGEE, Chris (org.). World Film Locations – Tokyo. Bristol: Intellect Books, 2011.

    NAGIB, Lúcia. Nascido das cinzas: Autor e sujeito nos filmes de Oshima. São Paulo: EDUSP, 1995.

    RICHIE, Donald. A lateral view: Essays on culture and style in contemporary Japan. Berkeley: Stone Bridge Press, 1992.