Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Alex Santana França (UFBA)

Minicurrículo

    Professor, pesquisador e escritor, graduado em Letras (UFBA), Especialista em Metodologia do Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Indígena (FACE), Mestre e Doutorando em Letras pelo Programa de Pós-graduação em Literatura e Cultura (UFBA). E-mail: alexsfranca@yahoo.com.br.

Ficha do Trabalho

Título

    “VOLTAM OS QUE NÃO MORRERAM, VÃO EMBORA OS QUE AQUI FICARAM (…)”

Resumo

    Diferentes contextos históricos e sociológicos enunciaram as razões subjacentes para experiências diaspóricas no contexto moçambicano. A proposta deste trabalho é identificar e analisar as motivações e os impactos das experiências diaspóricas de personagens nos filmes A árvore dos antepassados (1995), O grande bazar (2006) e Virgem Margarida (2012), dirigidos pelo cineasta brasileiro-moçambicano Licínio Azevedo.

Resumo expandido

    Ao longo da história, diferentes “processos de circulação de várias ordens, envolvendo pessoas, mercadorias, hábitos, capitais, entre muitas outras coisas” (MACHADO; SILVA, 2014, p. 331), ou seja, experiências migratórias, foram estabelecidas no continente africano, estas tanto significativas quanto traumáticas. Ainda no período pré-colonial, as fronteiras socioculturais e geográficas da África foram diversas vezes modificadas e muitos povos foram dispersos ou transferidos de uma região para outra, assim como suas manifestações culturais ressignificadas. Durante o processo de colonização efetiva de países africanos, esses fluxos migratórios continuaram. No campo do cinema, o resultado disso foi a consequente troca de ideias, de tecnologias e de linguagens entre os sujeitos em trânsito envolvidos, que repercutiu na trajetória cinematográfica de diferentes países, como Moçambique. Entre os países africanos de língua oficial portuguesa, Moçambique, ao longo de sua trajetória cinematográfica, em especial entre as décadas de 1960 e 1980, construiu uma filmografia variada e agregou um conjunto de realizadores, estrangeiros e locais, com características diversas que continuam, até hoje, a produzir. O país destacou-se também na história do cinema mundial pelo fato de, na sua constituição, ter desenvolvido uma “infraestrutura de cinema nacional desvinculada do circuito cinematográfico comercial global e ao serviço da nação marxista que emergiu após o colonialismo português” (ARENAS, 2012, p. 75). Nesse percurso, cineastas de diferentes lugares do mundo estiveram em Moçambique, como Licínio Azevedo, oriundo do Brasil, e trouxeram contribuições nas mais variadas esferas, assim como receberam influências locais, resultando em um significativo processo de partilha e troca de conhecimentos, técnicas e linguagens, entre outros aspectos. O jornalista, escritor e cineasta Licínio Azevedo nasceu no Rio Grande do Sul em 1951, e iniciou sua carreira profissional no jornalismo, na década de 1970, em Porto Alegre, em plena ditadura militar no país. Ainda como repórter, percorreu diversos países da América Latina, escrevendo sobre temas políticos e sociais. Trabalhou igualmente em Portugal e na Guiné-Bissau, onde, durante dois anos, atuou na formação de jornalistas, e escreveu o livro Diário de libertação: a Guiné-Bissau da Nova África (1977), em parceira com Maria da Paz Rodrigues. Em 1977 chegou a Moçambique. Trabalhou no Instituto Nacional de Cinema (INC), importante centro de produção de cinejornais, documentários e longas-metragens, criado em 1975. Após extensa experiência no INC, Azevedo atuou no Instituto de Comunicação Social, época em que a televisão estava em fase experimental. Durante cinco anos foi responsável, nesse instituto, pelo programa televisivo semanal Canal Zero, que recebeu vários prêmios internacionais. Como escritor, além de Diário da libertação, publicou os livros Moçambique com os mirage sul-africanos a 4 minutos (1980), Relatos do povo armado (1983) e Comboio de sal e açúcar (1997). Como cineasta, já realizou mais de vinte filmes, que abordam uma grande variedade de questões referentes às experiências políticas, históricas e sociais moçambicanas, como as consequências da guerra civil pós-independência (1977-1992). A proposta deste trabalho é identificar e analisar as motivações e os impactos das experiências diaspóricas dos sujeitos envolvidos, a partir dos filmes A árvore dos antepassados (1995), O grande bazar (2006) e Virgem Margarida (2012), dirigidos pelo cineasta brasileiro-moçambicano. Nos filmes selecionados, os impactos dessas experiências migratórias deram-se de diferentes formas, seja na constituição de redes de migração de longa duração, em estratos sociais e interesses econômicos variados, seja na criação de conexões familiares, políticas e econômicas entre as pessoas e os lugares envolvidos.

Bibliografia

    ACHUGAR, Hugo. Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura. Tradução: Belo Horizonte: EDUFMG, 2006.
    ARENAS, Fernando. Retratos de Moçambique pós-Guerra Civil: a filmografia de Licínio de Azevedo. In: BAMBA, Mahomed; MELEIRO, Alessandra (org.). Filmes da África e da diáspora: objetos de discursos. Salvador: EDUFBA, 2012. p. 75-98.
    BAMBA, Mahomed. O(s) cinema(s) africano(s): no singular e no plural. In. BAPTISTA, Mauro; MASCARELLO, Fernando (org.). Cinema mundial contemporâneo. Campinas, SP: Papirus, 2012. p. 215-231.
    BERND, Zila. Colocando em xeque o conceito de literatura nacional. In: CARRIZO, Silvina L.; NORONHA, Jovina (org.). Relações literárias interamericanas: território e cultura. São Paulo: EDUNESP, 2010. p. 13-21.
    EZRA, Elizabeth; ROWDEN, Terry. General introduction: what is transnational cinema? In: EZRA, Elizabeth; ROWDEN, Terry (org.). Transnational cinema, the film reader. London; New York: Routledge, 2006. p. 1-11.