Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    César Ramos Macedo (UFJF)

Minicurrículo

    Mestrando em Artes, Cultura e Linguagens pelo Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora na linha de pesquisa Cinema e Audiovisual. Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora. Estudou Filmmaking na New York Film Academy de Los Angeles – CA. Atualmente se dedica a produção independente de materiais audiovisuais e a pesquisas na área de documentário brasileiro contemporâneo.

Ficha do Trabalho

Título

    O cinema de conversação e efeito de presença na produção de Coutinho

Resumo

    Este trabalho se propõe a estabelecer relações entre o conceito de presença proposto por Hans Ulrich Gumbrecht e a metodologia utilizada pelo documentarista Eduardo Coutinho na produção de suas obras audiovisuais. Para isso nos aprofundaremos em relação às técnicas adotadas pelo diretor durante o processo de captação de seus filmes, que buscava privilegiar o encontro com o outro desenvolvendo o que o próprio diretor denominou enquanto um cinema de conversação.

Resumo expandido

    O principal objetivo deste trabalho é promover um estudo da metodologia empregada por Eduardo Coutinho na produção de boa parte de seus documentários, estabelecendo relações entre os métodos adotados pelo diretor, seja no ato filmagem ou na pré-produção do material, com o conceito de “presença”, apresentado por Hans Ulrich Gumbrecht ao longo de sua trajetória acadêmica.
    Portanto, em um primeiro momento, realizaremos um movimento de aprofundamento em relação ao processo de produção fílmico empregado por Eduardo Coutinho, especialmente a partir de Cabra marcado para morrer (1984), filme divisor de águas na carreira do diretor, para depois trabalharmos com a conceituação de “presença” proposta por Gumbrecht.
    No livro Eduardo Coutinho, organizado por Milton Ohata, temos acesso a uma série de artigos escritos pelo próprio diretor, nos quais este relata parte de sua trajetória profissional primeiro à frente do programa Globo Repórter exibido pela TV Globo a partir de 1975, na época o único programa semanal de documentários e reportagens da TV brasileira, e na sequência em um viés mais autoral de sua produção audiovisual enquanto diretor e documentarista. (OHATA, 2013, p.17)
    No artigo A verdade da filmagem, Coutinho discorre a respeito de uma característica recorrente no processo de produção de seus documentários, já que muitos deles são compostos basicamente por relatos orais, colhidos no momento da captação e da entrevista com os “atores sociais” previamente selecionados pelo diretor. Para Coutinho o instante da filmagem era sagrado, era a partir dele que o diretor extraia todo o material com o qual iria construir a sua narrativa fílmica. No entanto, de acordo com as palavras do próprio diretor, este parecia priorizar muito mais a relação de troca com o outro, ou seja, a sua relação de troca com o entrevistado durante o ato da filmagem, do que a própria produção da obra audiovisual enquanto produto final. Este método foi definido por Coutinho como “cinema de conversação”.
    Já na segunda parte do trabalho estabeleceremos um diálogo entre a metodologia empregada por Coutinho e uma série de conceitos defendidos por Gumbrecht, como “conceito de presença” e “produção de sentido”, para isso utilizaremos, dentre outros, o texto Pequenas crises – experiência estética nos mundos cotidianos.
    Neste texto Gumbrecht defende que os episódios de experiência estética vivenciados por nós, são na verdade compostos por pequenas crises, ou seja, “uma interrupção dentro do fluxo de nossa vida cotidiana”. Portanto para o autor, esses instantes destacam-se dos demais uma vez “que aquilo que consideramos uma experiência cotidiana completamente normal, de repente, aparece sob uma luz excepcional, a saber, à luz de uma experiência estética”. (GUMBRECHT, 2006, p.51)
    Desta forma, se considerarmos que Coutinho tinha pleno conhecimento de sua “necessidade pelo “real” dos outros, como trampolim de associações e estruturas”, podemos sugerir que o diretor de Boca de lixo (1992), filme que conta a rotina dos catadores que sobrevivem recolhendo dejetos no lixão de Itaoca em São Gonçalo, era capaz de enxergar essas pequenas crises, propostas por Gumbrecht, no decorrer do processo de produção de seus filmes. Isto porque ao interagir com seus entrevistados, Coutinho era capaz de extrair de relatos corriqueiros momentos de experiência estética, enxergando o belo e o sublime na rotina de pessoas simples e humildes, dando voz a uma classe social excluída e desprivilegiada. (OHATA, 2013, p.17)
    Este trabalho, portanto, tem como objetivo, propor cruzamentos entre alguns conceitos por Gumbrecht, sobretudo o conceito de presença, e a metodologia utilizada pelo diretor Eduardo Coutinho em suas produções audiovisuais, levantando possíveis associações e pontos de encontro.
    Palavras-chave: Eduardo Coutinho, efeito de presença, Hans Ulrich Gumbrecht.

Bibliografia

    GUMBRECHT, Hans Ulrich. Pequenas crises: experiência estética nos mundos cotidianos. In: GUIMARÃES, C.; LEAL, B. S.; MENDONÇA, C. C. (Orgs.) Comunicação e experiência estética. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006;
    GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de presença. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2010;
    GUMBRECHT, Hans Ulrich. Graciosidade e estagnação: ensaios escolhidos. Introdução e organização Luciana Villas Boas. Tradução Luciana Villas Boas e Markus Hediger. Rio de Janeiro: Editora Contraponto; Editora Puc-Rio, 2012;
    GUMBRECHT, Hans Ulrich. Serenidade, presença e poesia. Seleção e tradução Mariana Lage. Belo Horizonte, MG: Relicário Edições, 2016;
    OHATA, Milton. Eduardo Coutinho. São Paulo: Cosac Naify, 2013.