Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Vinicius Augusto Carvalho (ESPM)

Minicurrículo

    Jornalista graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Gestão da Economia Criativa pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-Rio) e MBA em TV Digital, Radiodifusão e Novas Mídias de Comunicação Eletrônica pela Universidade Federal Fluminense. Trabalhou na Rede Globo de 2005 a 2018 com edição e finalização de produtos audiovisuais jornalísticos e de entretenimento. Professor dos cursos de Jornalismo, Design e Cinema e coordenador do portal de jornalismo da ESPM-Rio.

Ficha do Trabalho

Título

    Efeitos visuais de transição nos vencedores do Oscar de Montagem

Seminário

    Montagem Audiovisual: reflexões e experiências

Resumo

    A pesquisa apresenta o mapeamento dos efeitos visuais de transição (fade, fusão, wipe) realizado nos 84 filmes vencedores do Oscar de Melhor Montagem (1935-2018). O objetivo foi investigar as pontuações visíveis nas narrativas fílmicas e analisar possíveis relações com inovações tecnológicas. O levantamento permitiu identificar a evolução histórica no emprego das transições nos períodos pré e pós edição não-linear, revelando a tendência de queda no uso de pontuações no conjunto pesquisado.

Resumo expandido

    Os efeitos visuais de transição são recursos de composição que, além da função básica de promover a sucessão de imagens na montagem fílmica, permitem conferir ritmo e estilo a uma obra audiovisual. Podem atuar como elementos narrativos capazes de indicar mudanças espaço-temporais, rupturas estéticas, temáticas, entre outras ações imagéticas e sonoras dentro de uma narrativa (AMIEL, 2011; AUMONT et al., 2012; XAVIER, 2014). Para constituir as articulações do enredo e suas diversas formas de continuidade, ritmo e coesão, o cinema pode fazer uso das trucagens, ou pontuações, como tratam Cutting, Brunick e Delong (2011). Visuais ou sonoras, as pontuações podem ser comparadas à pontuação na linguagem escrita e são usadas para ditar o ritmo e produzir coesão e coerência entre os elementos. Deve-se pensar sobre a maneira como se conectam as tomadas, cenas e sequências de um filme ou qualquer outro produto audiovisual a fim de comunicar com clareza uma mensagem. Entretanto, como Martin (2013, p. 280) afirma “(…) não existe signo cinematográfico. Não há no cinema um código soberano que viria a impor suas unidades mínimas, sempre as mesmas, a todas as partes de todos os filmes”. E embora não se possa afirmar que os filmes sejam produzidos com base em um sistema linguístico, ele pode ser considerado, entretanto, uma linguagem (STAM, 2003). Considerando os três efeitos visuais de transição mais utilizados na narrativa clássica (DANCYGER, 2007) que predomina na produção cinematográfica norte-americana – fade, fusão e wipe – o presente trabalho investigou o uso dessas pontuações um conjunto de obras publicamente reconhecido como referência em montagem e relevantes no universo cinematográfico: os filmes vencedores do Oscar de Melhor Montagem de 1935 (ano de criação do prêmio) até 2018. O objetivo da pesquisa foi mapear o uso das pontuações em todos os 84 filmes do corpus, estabelecendo a evolução da frequência de utilização com o passar dos anos e analisando possíveis relações com as inovações tecnológicas que revolucionaram o processo de montagem cinematográfica ao longo desse período. Da montagem física pelo corte e colagem dos filmes com a moviola, essas oito décadas trouxeram a edição linear eletrônica e a edição não-linear digital, ápice da evolução, que, entre outras funcionalidades, progressivamente facilitaram o processo de aplicação dos efeitos de transição entre imagens. Murch (2004) afirma que o profissional passa a poder testar infinitamente as opções que deseja, sem que se altere fisicamente a integridade do material bruto, ao contrário do que acontecia com a película de um filme. Os programas de computador trazem agilidade e uma oferta cada vez maior de efeitos de transição. A partir deles, os editores podem influenciar a concepção de novas linguagens e consequentemente a transmissão de novas mensagens, posto que a utilização de pontuações nas narrativas está a um clique de distância. Para configurar essa evolução, foi adotado como referencial metodológico a Análise Textual Perceptiva de Metz (2014), que sugere a necessidade de descrever o que se vê (desconstrução fílmica) antes de se interpretar algum fenômeno. Assim, a metodologia empregada consistiu na obtenção dos filmes, seguida pelo registro minucioso das pontuações em cada obra. Os efeitos escolhidos, fade, fusão e wipe, são heranças da edição analógica, que perduram com a eclosão da era digital e que figuram como as três pontuações visíveis – o corte é considerado um efeito de transição invisível (DANCYGER, 2007; ZETTL, 2011) – com maior presença na amostra. O estudo revelou, a partir dos dados coletados, uma tendência não-linear de queda no uso dos efeitos visuais de transição ao longo dos anos nos filmes premiados pela Academia, mesmo após a entrada dos softwares no processo de produção. Os resultados ensejam reflexões e fornecem insumos para estudos posteriores acerca do papel das pontuações visíveis para a construção da narrativa cinematográfica.

Bibliografia

    AMIEL, V. Estética da Montagem. Rio de Janeiro: Edições Texto & Grafia, 2011. AUMONT, J. et al. A estética do filme. Campinas, SP: Papirus, 2012. CUTTING, J. E.; BRUNICK, K. L.; DELONG, J. E. The changing poetics of the dissolve in Hollywood film. Cornell University, Nova Iorque, EUA: 2011. Disponível em: . DANCYGER, K. Técnicas de edição para cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. METZ, C. A significação no cinema. São Paulo: Perspectiva, 2014. MURCH, W. Num piscar de olhos: a edição de filmes sob a ótica de um mestre. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004. SALT, B. Film Style & Technology, History & Analysis. Londres, Inglaterra: Starword, 2009. STAM, R. Introdução à teoria do cinema. Campinas, SP: Papirus, 2003. XAVIER, I. O Discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. São Paulo: Paz e Terra, 2014. ZETTL, H. Manual de produção de televisão. São Paulo: Cengage Learning.