Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Ludmila Moreira Macedo de Carvalho (UFRB)

Minicurrículo

    Ludmila Moreira Macedo de Carvalho é doutora em Literatura Comparada e Cinema pela Universidade de Montreal, no Canadá. Atua como professora do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Autora de tese sobre o cinema de Wong Kar-wai, atualmente conduz pesquisa sobre marcas de estilo e autoria em séries televisivas.

Ficha do Trabalho

Título

    Estilo como possibilidade de metodologia de análise da ficção seriada

Resumo

    O trabalho pretende considerar o conceito de estilo como ferramenta metodológica para a análise de obras ficcionais seriadas. Compreendendo estilo como o uso sistemático e expressivo da linguagem audiovisual, pode-se questionar de que modo o uso da paleta de cores (Mad Men), das movimentações de câmera (The West Wing) ou de manipulações temporais (Breaking Bad), entre outros, pode sustentar uma identidade tal que mesmo as transformações sofridas com o tempo contribuem para obras coerentes.

Resumo expandido

    O crescimento das séries de ficção televisivas na contemporaneidade é uma realidade que há muito não pode ser ignorada. Além do desenvolvimento exponencial do mercado produtor e consumidor de séries televisivas nos últimos anos, vem crescendo também, naturalmente, o interesse acadêmico em torno destes produtos audiovisuais. Tais estudos costumam concentrar-se, por um lado, no campo da produção, pesquisando os modos de realização das séries (ESQUENAZI, 2011) e o aparecimento de novas plataformas de exibição e de distribuição (HAMMOND, 2005); ou, por outro lado, no campo da recepção e das complexas relações entre audiências e obras (SILVA, 2014).
    Há, ainda, a possibilidade de investigação estética das obras, ou seja, a análise de aspectos técnicos, estéticos e poéticos que compõem a estilística das ficções televisivas seriadas, levando em consideração suas particularidades expressivas em relação às outras artes audiovisuais, como o cinema por exemplo (MITTEL, 2006). É neste último campo que se enquadra o trabalho que aqui se propõe, pretendendo contribuir com algumas considerações que levem a avanços metodológicos para a análise de obras audiovisuais seriadas. Isto porque o campo dos estudos de ficção seriada, embora esteja em franco crescimento, ainda carece de procedimentos metodológicos capazes de dar conta de suas particularidades, tais como questões de serialidade e temporalidade, de construção de universos narrativos complexos, de manutenção de estilo e coesão temáticas ao longo do tempo, entre outras.
    Nesta perspectiva, pretende-se considerar a contribuição do conceito de estilo como uma importante ferramenta metodológica para a compreensão e análise de obras ficcionais seriadas, sobretudo aquelas de longa duração e as incompletas, ou seja, que ainda estão em desenvolvimento e exibição. Compreende-se estilo, neste contexto, como o modo com que os materiais da linguagem audiovisual – que compreende desde o que se chama de mise-en-scène, ou seja, a organização e disposição dos elementos para a câmera, o cenário, o figurino, a iluminação e o movimento e atuação dos atores, até a montagem e a trilha sonora – são utilizados sistematica e significativamente de modo expressivo pelos criadores da obra para atingir um determinado resultado (BORDWELL, 2013).
    Seguimos, portanto, autores como Mittel, Peacock e Caldwell quando falam de “estilo televisivo”, ou seja, do entendimento, infelizmente nem sempre compartilhado por teóricos do cinema e da comunicação, de que obras seriadas feitas para a televisão, especialmente na era contemporânea, possuem marcas estilísticas expressivas dignas de análises detalhadas. Desta forma, esse trabalho se inscreve num tipo de abordagem analítica que “toma a atitude de que a televisão possui potencial para integridade artística e realização, e vê um espectro de programas televisivos como merecedores de um estudo que examine de perto aspectos de estilo” (CARDWELL, 2013, p. 40).
    Através da análise detalhada de obras ficcionais seriadas, pode-se verificar, por exemplo, de que maneira um modo sistemático de dispor dos materiais expressivos da linguagem audiovisual – seja um determinado modo de utilizar a paleta de cores (Mad Men, AMC 2007-2015), movimentações de câmera e angulações (The West Wing, NBC 1999-2006), manipulações temporais na narrativa (Breaking Bad, AMC 2008-2013), ou então um modo de compor pontos de vista de diferentes personagens (Dear White People, Netflix 2017-), de “costurar” comentários extra-diegéticos à narrativa (She’s Gotta Have It, Netflix 2017-) ou de inserir materiais gráficos à produção do mundo ficcional (Sherlock, BBC 2010-), entre outros exemplos – pode sustentar uma identidade de tal modo que as transformações operadas ao longo do tempo pelo qual algumas dessas obras se estendem, incluindo-se, mas não restringindo-se, às possibilidades de mudanças estruturais nas equipes de produção ou nos elencos dessas obras, convirjam para um resultado final coerente e congruente.

Bibliografia

    BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas: Unicamp, 2013.
    CALDWELL, John T. Televisuality: Style, Crisis and Authority in American Television. New Brunswick: Rutgers University Press, 1995.
    CARDWELL, Sarah. “Television aesthetics: Stylistic analysis and beyond”. In: JACOBS, Jason e PEACOCK, Steven (eds). Television aesthetics and style. London: Bloomsbury, 2013.
    ESQUENAZI, Jean-Pierre. As séries televisivas. Lisboa: Texto e Grafia, 2011.
    HAMMOND, M.; MAZDON, L. The Contemporary Television Series. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2005.
    MITTELL, J. Narrative complexity in contemporary american television. The velvet light trap. Austin: The University of Texas, n. 58, p. 29-40, 2006.
    SILVA, M. V. B. Cultura das séries: forma, contexto e consumo de ficção seriada na contemporaneidade. Galaxia (São Paulo, Online), n. 27, p. 241-252, jun. 2014.