Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    ROSANE ANDRADE DE CARVALHO (FAV/UFG)

Minicurrículo

    Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da Faculdade de Arte Visuais da Universidade Federal de Goiás (FAV/UFG), mestre em Cultura Visual pela FAV/UFG. Atualmente é professora de artes visuais na rede municipal de educação do município de Goiânia/Go. Autora do livro Paulo Fogaça: o artista e seu tempo, lançado em 2012 pela Editora da UFG.

Ficha do Trabalho

Título

    Produção de audiovisuais brasileiros da década de 1970

Resumo

    A proposta dessa comunicação é apresentar algumas proposições da minha pesquisa de doutorado que objetiva investigar a constituição do audiovisual como novo meio de produção e expressão artística na arte brasileira da década de 1970. Para tanto, apresentarei um panorama sucinto dessa produção e seu contexto de realização e, ainda, os audiovisuais Bichomorto e Hieróglifo do artista goiano Paulo Fogaça.

Resumo expandido

    Na década de 1970, muitos artistas brasileiros desenvolveram pesquisas utilizando diapositivos como filmes em super-8 ou 16mm, fotografia, vídeo, audiovisuais, dentre outras. Tal produção, dada a utilização de meios não convencionais para o período, como também seus diferentes processos de produção e modos de apresentação, foi tida como experimental. Segundo a historiadora Ligia Canongia (2005, p. 55), “o termo `experimental´ servia tanto para designar a livre experimentação com novas mídias e novos procedimentos, quanto para pontuar a experiência sensível, que passa necessariamente pelo corpo”. É relevante lembrar que os anos 1970 são marcados pelas forças impositivas do regime militar implantado em 1964, que instalou no país um clima de turbulência social e política. Esse contexto repercutiu no meio artístico provocando posicionamentos opositivos ao sistema vigente por parte de muitos artistas. É nesse contexto repressivo política e socialmente, mas efervescente artisticamente, que as experimentações criativas com os novos meios se desenvolveram. Destaco a produção de audiovisuais, objeto de minha pesquisa de doutoramento, na qual tento compreender o processo de constituição do audiovisual como novo meio de produção e expressão artística na arte brasileira da década de 1970, como também analisar a inserção do sistema audiovisual no contexto das discussões acerca do uso das novas tecnologias também denominadas de novos meios e multimeios. Para tanto, estabeleci um corpus de análise que inclui os artistas Beatriz Dantas (1949), Paulo Emílio Lemos (1949), Frederico Morais (1936), Letícia Parente (1930-1991) e Paulo Fogaça (1936). Ao me referir aos audiovisuais no contexto das artes visuais da década de 1970, o faço remetendo ao sistema de projeção de diapositivos, dispostos em carretel, sincronizados ao som – música, ruídos, diálogos, narrações e outros – e gravados em fita cassete. No Brasil, Frederico Morais realizou, em 1970, os audiovisuais Memória da paisagem e O pão e o sangue de cada um, ambos premiados no II Salão Nacional de Arte Contemporânea, realizado no Museu de Arte de Belo Horizonte, demarcando, desse modo, a inserção do audiovisual como um novo meio de realização artística em solo brasileiro. Em 1971, Morais realiza “Cantares”, que, segundo ele, teve “[…] a preocupação de afirmar a especificidade do audiovisual como linguagem.” (1973 apud FERREIRA, 2006, p.392). Aracy Amaral também teve contribuição relevante naquele contexto da produção experimental com novos meios, organizando junto ao GRIFE (Grupo e Realizadores Independentes de Filmes Experimentais) a “Expoprojeção” (São Paulo, 1973), a qual reuniu propostas com som, audiovisual, super-8 e 16mm. Nessa exposição, Beatriz Dantas e Paulo Lemos apresentaram Terra e Matadouro; Paulo Fogaça, Ferrofogo e Bichomorto e Frederico Morais as obras O júri, Bachelardianas e Cantares. Essa mostra foi reeditada em São Paulo em 2013. Agrego Letícia Parente ao conjunto de artistas estudados inicialmente com o audiovisual “Eu armário de mim” (1975). A partir dos audiovisuais produzidos pelos artistas selecionados para a minha pesquisa de doutoramento investigarei os diferentes modos, usos e funções que os mesmos assumiram na produção de arte brasileira daquela década, assim como a inserção do audiovisual como novo meio de expressão artística e suas possíveis contaminações com outras linguagens. Até o momento é possível afirmar que esse conjunto de trabalhos guardam entre si o mesmo interesse pelas possibilidades variadas do audiovisual, contudo, as funções se diferem; ora funcionam como registro de trabalhos, ora como meio de expressão ou linguagem. Bichomorto e Hieróglifos são dois audiovisuais realizados em 1973 pelo artista Paulo Fogaça que serão apresentados e analisados na comunicação proposta. Esses trabalhos exemplificam um tipo de produção que conjuga o experimentalismo com os novos meios e a reflexão sobre o contexto social e político brasileiro da década de 1970.

Bibliografia

    ALVARADO, Daisy V. M. P (org.). Arte, novos meios: multimeios. São Paulo: FAAP, 2010.
    ALMEIDA, Juliana G. M. 60/70: as fotografias, os artistas e seus discursos. Curitiba: Funarte, 2015.
    CANONGIA, Lígia. Quase cinema: cinema de artista no Brasil, 1970/80. Rio de Janeiro: Funarte, 1981.
    FERREIRA, Glória. Arte em questão: anos 70. São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2009.
    _______________. Crítica de arte no Brasil: temáticas contemporâneas. Rio de Janeiro: Funarte, 2006.
    ________________; COTRIM, Cecília (orgs.). Escritos de artistas: anos 60/70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2006.
    PARENTE, André. Cinemáticos: tendências do cinema de arte no Brasil. Rio de Janeiro: +2 Editora, 2013.
    ______________; PARENTE, Lucas. Passagens entre fotografia e cinema na arte brasileira. Rio de Janeiro: +2 Editora, 2013.
    SOULAGES, F. Estética da fotografia. Perda e permanência. São Paulo: Ed. Senac, 2000.