Ficha do Proponente
Proponente
- Samuel Baptista Mariani (ECA – USP)
Minicurrículo
- Samuel Mariani é formado em Midialogia pela Unicamp e é mestrando da Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais da USP, membro do MidiAto: Grupo de Estudos de Linguagem: Práticas Midiáticas. Trabalha como animador e montador no Estúdio Celestina, na Coala filmes, para o Núcleo de Cinema de Animação de Campinas e para o Dia Internacional da Animação do Brasil.
Ficha do Trabalho
Título
- Montagem na animação: Possíveis práticas sui generis balizadas pelo documentário animado no Brasil.
Eixo Temático
- ET 5 – ETAPAS DE CRIAÇÃO E PROCESSOS FORMATIVOS EM CINEMA E AUDIOVISUAL
Resumo
- O documentário de animação no Brasil tem marcado presença nos circuitos de cinema dos últimos anos, especialmente onde circulam curtas-metragens. Através da análise de uma seleção de anima-docs premiados no Festival de Brasília nos últimos anos, busca-se isolar a contribuição da montagem para esse estilo de produção celebrado e investigar suas contribuições para a representatividade do mesmo, considerando as grandes transformações no papel do editor de animação nos últimos anos.
Resumo expandido
- No circuito de festivais de cinema do mundo, o documentário de animação demonstrou um alcance de público mais amplo – ou menos estigmatizado – do que os filmes classificados somente pela sua categoria técnica-parental: a da animação. Esta, geralmente associada a um gênero cinematográfico próprio, é comumente associada ao consumo infantil de produtos audiovisuais e isolada sob critérios classificatórios que conspiram com o estereótipo que essa predisposição carrega, como apontam diversos realizadores brasileiros (LEITE, 2016). Observando a infiltração recente dos docs-animados na lista premiada do circuito de festivais não dedicados exclusivamente para filmes de animação no Brasil – e especialmente naqueles onde circulam curtas-metragens -, é possível indagar-se sobre a possibilidade de apropriação por parte da forma animada dos códigos de articulação tradicionais do cinema documental, de modo a conceber modos de visionamento e pactos de leitura ao mesmo tempo familiares e originais, não só permitindo-se “cair no gosto da crítica”, mas garantindo sua continuidade no circuito não especializado.
Um cenário de pluralidades de formatos desafia as noções tradicionais que recaem sobre as funções desempenhadas em um filme de animação, e em especial sobre a montagem, comumente considerada um processo mais associado à organização de desenhos de pré-produção, ao sequenciamento de storyboards e artes conceito. Uma impressão consolidada ainda antes do advento do CGI nas produções de grande orçamento hollywoodianas (KINDER e O’STEEN, 2022). Assim, quando associada ao gênero e modo de fazer documental, a figura do editor ganha novas atribuições em toda a cadeia de realização.
Por um lado, essas novas atribuições apropriam-se das práticas de produção do cinema documentário, assim respeitando um léxico mais amplo do cinema historicizado. Esse é o caso de obras como “Guaxuma” (2018), de Nara Normande, e “Carne” (2019) de Camila Kater, curtas-metragens premiados no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro nos seus anos de lançamento (CORREIO BRAZILIENSE, 2025), que se permitem o uso de fotografias indiciais e outras técnicas que fogem do fazer animado estereotipado, pulverizando o processo de montagem de arquivo na cadeia de produção.
Por outro lado, essa apropriação pode transbordar práticas que configuram novos modos de fazer típicos dessa intersecção, que estejam conectadas ao volume e flexibilidade do material documental ao mesmo tempo que possam valer-se de características típicas de uma produção de animação, como no caso da reunião dos processos de composição em etapas de pré e pós-produção. “Quando os Dias Eram Eternos” (2016), de Marcus Vinícius Vasconcelos e “Torre” (2017), de Nádia Mangolini são também exemplos de vencedores do Festival de Brasilia que dispõem da possibilidade de, através de um processo de montagem coordenado com a composição da pós-produção, lançar mão de um modo de fazer que permite a transformação da duração dos quadros no fim do processo fílmico, depois de avaliar o impacto dramático necessário, segurando quadros em loop, articulando com os seus momentos de silêncio e montagem sonora, mesmo depois da montagem da base sonora.
Ao isolar características de produção visíveis que possam ser típicas do processo de confecção do doc-animado nacional, o presente trabalho busca investigar possíveis técnicas de montagem exclusivas do anima-doc, identificar seus lugares no processo de produção fílmico atual e analisar as influências da/na esteira de produções representativas do mesmo estilo, como no caso de “Dossiê Rê Bordosa” (2008), de Cesar Cabral e outras obras, analisadas pela pesquisadora especializada no gênero, Jennifer Jane Serra (2017).
Bibliografia
- CORREIO BRAZILIENSE. Acervo. Correio Braziliense, [28 set. 2016, 24 set. 2017, 23 set. 2018, 30 nov. 2019]. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/acervo. Acesso em: 4 abr. 2025.
KINDER, Bill; O’STEEN, Bobbie. Making the cut at Pixar: the art of editing animation. 1. ed. New York: Routledge, 2022. 232 p.
LEITE, Sávio (org.). Maldita Animação Brasileira. Belo Horizonte: Favela é Isso Aí, 2015.
SERRA, Jennifer J. A Vida Animada: (Re)construções do mundo histórico através do documentário animado. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2017.
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. 1.ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. 128 p.