Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Andrey Rodrigues Chagas (UFRJ)

Minicurrículo

    Doutorande e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura (na linha Tecnologias da Comunicação e Estéticas) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui Graduação em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui graduação em Administração pela Faculdade Pan Amazônica (2010-2013). Pesquisa: Relações de gênero, sexualidades e raças na Amazônia; Relações culturais afro-indígenas; territorialidades e subjetividades Amazônidas.

Ficha do Trabalho

Título

    Entre a Fuga e a Fabulação estamos nos divertindo: bichas em fuga, enquanto dançam.

Seminário

    Tenda Cuir

Resumo

    Na história da sexualidade as bichas estão localizadas no arquivo da violência, condicionadas desde a colonização a um regime de morte. Neste artigo pretende-se abrir uma disputa sobre a vida de bichas racializadas na Amazônia Paraense. Olharemos para Moonlight (2016), Majur (2018), videoclipes de “Frescah no Círio” de Leona Vingativa, imagens e vídeos, como ferramentas para tecer uma escrita onde a bicha esteja em festa e em comunhão com o território.

Resumo expandido

    No filme Moonlight (2016), do diretor Barry Jenkins, observamos as dinâmicas sociais entre a violência, sobrevivência e vontades do corpo, o filme traz um olhar afiado sobre a cultura heterossexual, atravessa pela raça, que aprisiona num modo de violência e subjugação o corpo masculino. Moonlight retrata as performances de gênero e sexualidade, os códigos e normas que assombram qualquer criança afeminada ou gay na escola, uma adolescência de descobertas e desejos e uma vida adulta que é constantemente revisitada pelos fantasmas do passado, mas não somente sobre gênero e sexualidade, também os tensionamentos raciais que ao atravessar outras categorias sociais se tornam mais danosos. Questionamentos explorados no filme giram entorno da criança negra tendo que dar conta de si mesma e do mundo a sua volta e dentro desse dar conta, sua infância é interpelada pela palavra “fag” (bicha), uma adolescência intermediada por uma invisibilidade que transparece e depois uma rigidez confrontada por seu passado. Já no documentário Majur, do direto Rafael Irineu , acompanhamos Majur, um indígena LGBTIA+ que chefia a comunicação de sua comunidade indígena, vivendo entre sua aldeia e a cidade, Majur nos traz o olhar sobre as dimensões de gênero e sexualidade entranhada na história do Brasil pelas mãos dos brancos (europeus) e ao transitar por esses dois territórios nos convoca as fronteiras do gênero, onde ficamos frente ao imaginário do que foi um terra sem as categorias que conhecemos hoje e as configurações de gênero, uma embate sobre o corpo diante a percepção que um dia fomos livres e a liberdade condicionada pelas políticas de vigilância, o confronto e desconforto do deslocamento do corpo ao sai de seu território, mas também sobre o território não dá mais conta do seu corpo.
    Seguindo analisando arquivos e registros audiovisuais, chegamos no videoclipe de Leona Assassina Vingativa chamando “Frescah no Círio” (2015) e sua narrativa (letra e imagens) sobre o lugar e presença do corpo LGBTIA+ nas festas do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Nessa mesma caminhada, temos os vídeos e registros de ABig Show, dançarino de tecnobrega e outros ritmos musicais regionais.
    O exercício de escrita e pensamento deste artigo é provocar uma abertura para além do gênero e sexualidade como condicionante do corpo bicha. Trazer Moonlight e Majur como fonte de analise está em suas narrativas poderosas em questionar as performances que nos são oferecidas e as disputas que fazemos ao abandonarmos esses modelos. Assim, essas duas obras nos oferecem pistas para pensar nas escolhas, no prosseguir a partir do rompimento e quebra com a continuidade do arquivo (Hartman, 2021), um exercício de viver e conviver com a morte e como pensar nossa fuga dançando para um futuro onde a criança não tenha que dar conta de ser bicha na infância e seja apenas criança.
    O presente trabalho busca refletir sobre os lugares destinados a uma bicha racializada que, ao longo da colonização e consequentemente da imposição dos modelos de gênero e sexualidades, tendem a colocar esse corpo em posições sexualizadas, provocando desta forma uma anulação dos sentidos que esses corpos interseccionais carregam. O corpo bicha sempre esteve em disputa, porém sempre atrelado a sexualidade ou mesmo a homossexualidade, mas para além de modelos binários de gênero e sexualidades, a bicha não é somente um corpo que goza, é uma multidão de sentidos que ao longo do tempo está em uma movida de dessoterramento. Os marcadores da sempre estiveram olhando para a bicha racializada com um corpo penetrável, porém esta nega continuar a sustentar o trabalho da hetero/homo-sexualidade, assim reclamando seu lugar na história para se fazer manifestar em outras, trazendo em seu corpo inúmeras outras que vieram antes, tecendo uma escrita para despertar os sentidos de multidões nas bichas racializadas, trazendo como aporte o trabalho de Saidyia Hartman, Ailton Krenak, Achille Mbembe, Fred Moten e autores Amazônidas.

Bibliografia

    HARTMAN, Saidiya. Perde a mãe: uma jornada pela rota atlântica da escravidão. 1. Ed. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.
    MOTEN, Fred; HARNEY, Stefano. “Negritud y Gobernanza”. En: Los Abajocomunes. Planear Fugitivo y Studio Negro. México: Rancho Electrónico, 2018.
    MBEMBE. Achille. Necropolítica. São Paulo: N-1 Editores. 2018.
    MIRANDA, Danielle Santos de. Subjetivação Afroamazônida. Tese (Doutorado em Psicologia). UFF, Niterói, 2018.
    OLIVEIRA, Megg Rayara Gomes de. O diabo em forma de gente: (r) existências de gays afeminados, viados e bichas pretas na educação. Tese (Doutorado em Educação). UFPR, Curitiba, 2017.