Ficha do Proponente
Proponente
- André Bonotto (IFB)
Minicurrículo
- Professor de História do Cinema no Instituto Federal de Brasília (IFB). Doutor e Mestre em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Graduado em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).
Ficha do Trabalho
Título
- Do traço à simulação: revisitando as imagens técnicas
Resumo
- Tradicionalmente se atribui à imagem de base fotográfica um estatuto especial em função do automatismo presente em sua gênese: ela seria um traço de um real. Entretanto, as imagens criadas por inteligência artificial cada vez mais parecem prescindir da tomada de decisão e operação humanas, ecoando e amplificando a noção de caixa preta. Este trabalho propõe revisitar o conceito de imagem técnica e analisar como o mesmo se relaciona com o o atual panorama das imagens geradas por IA.
Resumo expandido
- A imagem ocupa uma posição central nas representações do mundo. A história da imagem é, assim, marcada por uma busca constante por investigar essas tais representações e suas implicações. Com o advento das tecnologias digitais e, mais recentemente, da inteligência artificial, essa posição da imagem sofre mais um abalo, deslocando fundamentos sobre os quais as imagens eram tradicionalmente compreendidas, e levantando questionamentos sobre suas implicações.
Para Bazin (1991), a fotografia representou uma ruptura na história da imagem por ser o primeiro meio técnico capaz de produzir uma representação do real sem a mediação subjetiva do artista. A fotografia seria um vestígio direto do objeto representado, sua existência enquanto imagem está ontologicamente ligada à realidade que a produziu. O poder da fotografia residiria, assim, na sua capacidade de embalsamar os objetos, o movimento e o tempo, materializando a aparência do mundo em um suporte físico. A objetividade mecânica deste dispositivo e processo, por sua vez, confeririam à imagem uma credibilidade tal indisponível a outros processos de representação.
Nos dias de hoje, entretanto, essa concepção da imagem baseada na ontologia do traço do real se vê desafiada frente à circulação de imagens produzidas por inteligência artificial (IA). Neste tipo de processo as imagens não derivam de objetos reais, mas de modelos estatísticos e combinações algorítmicas. A imagem não mais é traço do real; é agora simulação.
Nestas imagens, como as produzidas por sistemas como DALL·E e Midjourney, o plano imagético é composto através da modelação estatística de bancos de dados. Essas imagens não mais são registros do mundo, produzidos a posteriori; mas visualizações de possibilidades simuladas computacionalmente em tempo real (ou quase).
Parece instaurar-se um novo regime em que a imagem não apenas se desvincula de um referente no mundo exterior, como também passa a ser produzida por um sistema opaco, verdadeira caixa preta de aprendizado profundo. O humano antes denominado “autor” da imagem, passa agora a ser “operador” de um prompt de comandos.
Essas transformações trazem implicações: O que foi feito do autor? Como podemos confiar nessas imagens? Questões relativas à criação e autenticidade da imagem tornam mais uma vez a se levantar.
Bibliografia
- BAZIN, André. “Ontologia da imagem fotográfica”. In: _____. O cinema: ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991.
FLUSSER, Vilém. “Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia”. São Paulo: Annablume, 2011.
MACHADO, Arlindo. “As imagens técnicas: de fotografia à síntese numérica”. In: _____. Pré-cinemas e pós-cinemas. 4a ed. Campinas: Papirus, 2007.