Ficha do Proponente
Proponente
- Aloísio Corrêa de Araújo (UAM)
Minicurrículo
- Aloísio Corrêa é doutorando em comunicação audiovisual pela universidade Anhembi Morumbi, com bolsa CAPES. É professor de linguagem audiovisual no Instituto Criar de Cinema, TV e novas mídias.
Ficha do Trabalho
Título
- Autoria arqueológica: A morte compulsória do autor e o índex fossilizador
Eixo Temático
- ET 2 – INTERMIDIALIDADES, TECNOLOGIAS E MATERIALIDADES FÍLMICAS E EPISTÊMICAS DO AUDIOVISUAL
Resumo
- Na era dos algoritmos e da produção de imagens por inteligência artificial, observamos o crescente desenvolvimento de máquinas que conseguem indexar e reproduzir estilos de autores, mortos ou vivos. Neste estudo, observamos as diferentes formas de reprodução de autoria através das plataformas contemporâneas, como elas conseguem matar, fossilizar e reaproveitar rastros estilísticos através da indexação de obras.
Autor: Aloísio Corrêa
Coautor: Vicente Gosciola
Resumo expandido
- Dois casos passaram pelas plataformas digitais no mês de março de 2025: O diretor de cinema Hayao Miyazaki vê seu próprio estilo de desenho aplicado como um input do algoritmo de produzir imagens da OpenAI. Dias depois, as imagens já avançam para uma adaptação de Interestelar no estilo do criador dos Estúdios Ghibli. O mesmo acontece agora com uma tirinha do Maurício de Souza. Uma pessoa comenta no X: “Maurício de Souza deve estar se revirando no caixão”. Estes dois acontecimentos representam dois exemplos facilmente observáveis de uma espécie morte compulsória do autor produzida pela capacidade de indexação dos algoritmos e o quociente de indexação alto de certos tipos de autores. Seus trabalhos são desprovidos de significado autoral singular, da perspectiva do criador, para se tornarem o seu rastro fossilizado pelo índex, o potencial da pop art de matar o autor, mesmo este estando vivo. Este artigo observa os efeitos e as possibilidades contemporâneas de autoria.
Para compreender o processo de fossilização, como este recurso já foi utilizado e como é aproveitado por algoritmos e redes, observaremos três objetos em plataformas diferentes: A tirinha produzida pela openAI no estilo de Maurício de Sousa, o breve vídeos com cenas do filme Interestelar, adaptadas no estilo de Hayao Miyazaki e o recente longa metragem de documentário, “Os Ruminantes”, dirigido por Tarsila Araújo e Marcelo Cordeiro de Mello, que reconta através de fotos, entrevistas e narrações do roteiro um filme nunca filmado do diretor Luís Sergio Person. As três obras, em diferentes suportes e formatos, de 2025. Os dois primeiros são exemplos serão analisados e testados como forma de vislumbrar o que seria o processo de morte compulsória do autor por indexação, onde mesmo vivo, sob proteção de direitos autorais e ainda capaz de produzir arte através de suas próprias mãos, o autor se vê ultrapassado, no processo já naturalizado de “desrespeito à vida” como diz Miyazaki. O terceiro objeto faz o caminho oposto, de recuperação desta autoria, da análise dos vestígios do autor, suas angústias biográficas como forma de reconstruir uma obra de um autor já morto, contudo, buscando alçar a fidelidade através de uma pesquisa arqueológica e antropológica, além da autoral, como maneira de vingar/homenagear, na impossibilidade de reviver um autor já morto.
Estes dois processos funcionam por vetores opostos, mas são encontros de resultados do nosso estado avançado de capacidade computacional e indexação, onde a autoria marcada na literatura e redescoberta na política dos autores se torna uma impossibilidade, um exercício anacrônico ou obscurecido/atrofiado pela forma como as plataformas lidam com os dados nos tempos de hoje. O autor humano e biológico está morto e desprovido de identidade, mas seus efeitos ainda provocam sombras nas plataformas, através de algoritmos, do processo científico-sensível do documentário, do filme de fã, dos seus vestígios estéticos.
Bibliografia
- BRAGA, Adriana; RODRIGUES, Adriano. Ecological Systems Thinking: Luhmann, McLuhan and the Subject. Lisboa, 2015.
DUNCAN, Dennis. Índice, Uma história de. Fósforo, 2024.
GROYS, Boris. Becoming an Artwork, Polity, 2022.
RENSI, Giuseppe. Contro Il Lavoro, WOW Edizioni, 2023.
SHAKESPEARE, William. Macbeth. Einaudi, 2008.