Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcia T Medeiros (UFF)

Minicurrículo

    Mestre em Cinema pelo PPGCine-UFF e Esquizoanalista em formação. Trabalha na área de audiovisual desde a década de 90 como diretora e editora. Dirigiu e editou curtas metragens, documentários e séries para a TV. É colaboradora em projetos formativos de interlocução entre Cinema, Educação e Práticas de Cuidado, entre eles: “Redução de Danos – Um Olhar de Dentro” ; “Revelando os Brasis” ; Cinequilombola e Cinemar.

Ficha do Trabalho

Título

    Cartas e Sonhos de Linharinho

Resumo

    O Projeto Cinequilombola é inspirado no projeto Revelando os Brasis e na Pedagogia do Dispositivo.
    Na comunidade de Linharinho, no Espírito Santo, o projeto realizou dois curta metragens: Jangolá (2023) e Sonhos (2024)
    Os filmes foram realizados a partir de dois dispositivos de criação distintos: cartas e sonhos.
    Quais os efeitos dessa diferença nos processos de subjetivação e na linguagem audiovisual ?

Resumo expandido

    Em 2018, o Projeto Revelando os Brasis, coordenado pelo Instituto Marlin Azul, realizou quinze filmes de curta metragem, sendo que cinco deles se passavam em territórios quilombolas. Durante o circuito de exibição, última etapa do projeto, na sessão da Comunidade de Mata Cavalo, no Mato Grosso , além do filme feito nesse local, foram exibidos outros quatro filmes de realizadores quilombolas. Um participante da sessão comentou sobre a importância da troca de saberes e experiências vividas nos diferentes territórios, proporcionadas pelos filmes e reivindicou que o Instituo Marlin Azul promovesse uma mostra de filmes realizados em quilombos.
    Em 2022, inspiradas pela Pedagogia do Dispositivo e no Cinema de Grupo, iniciativas do Laboratório Kumã da pós graduação em Cinema da UFF, foi criado o Cinequilombola. A ideia era oferecer oficinas em que os moradores, acompanhados por uma equipe de cinema, produzissem filmes a partir de dispositivos de criação de imagens e sons. Os dispositivos funcionam como ativadores de processos de criação que não partem de um roteiro prévio, abrindo outras formas de se chegar nas imagens. O cinema aqui não é o do saber técnico/artístico, mas o que faz território de acesso aos processos de subjetivação e de outras formas de ver e capturar o mundo. Há uma transversalidade entre os processos criativos e os subjetivos. “A arte e a vida não se confundem, mas ambas demandam a mesma intensidade criativa”. (Suely Rolnik e Guattari)
    O cinequilombola já produziu nove filmes de curta metragem em sete comunidades quilombolas do estado do Espírito Santo. As oficinas do projeto duram quatro dias. Nossa equipe é composta por 4 profissionais de cinema e nossos equipamentos são aparelhos de celular, gravadores de som, tripés e claquete.
    Na comunidade de Linharinho, localizada no município de Conceição da Barra, foram realizadas duas oficinas que resultaram nos filmes Jangolá (2023) e Sonhos (2024).
    Na primeira oficina, em 2023, propusemos o dispositivo Cartas. Convidamos os participantes a escreverem uma carta, contando sobre sua vida na comunidade. O destinatário podia ser alguém específico, real ou imaginário, presente ou já ausente ou ainda ser endereçada para outras comunidades. As cartas traziam informações sobre o cotidiano, memórias afetivas, afetos e lutas individuais e coletivas. No verso de cada carta pedimos que listassem imagens (pessoas, objetos, locações, etc) para serem gravadas. A partir da leitura das cartas em roda, preparamos uma lista de locações, personagens, imagens e sons que seriam produzidos ao longo dos próximos dias. O filme Jangolá
    Na segunda oficina realizada em Linharinho, convidamos as participantes a compartilhar seus sonhos, aqueles sonhados enquanto dormimos. Dessa vez foi preciso definir além de personagens, ações e locações, quem seriam os atores, atrizes, figurinos e objetos de cena. Ao longo dos dias, nos espalhamos pelos quintais, rios, hortas e casas gravando imagens e sons dos sonhos de Linharinho.
    Tanto as “cartas” quanto os “sonhos” operaram como dispositivos que fizeram “ver e falar” (d)a experiência do território vivido, mas é possível perceber uma modulação na intensidade das experiências e mesmo da linguagem de cada filme. A proposta desta apresentação é compartilhar trechos dos dois filmes para pensarmos juntos os efeitos dessa modulação.

Bibliografia

    COMOLLI, Jean-Louis. Ver e poder: a inocência perdida – cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte: Editora
    UFMG, 2008.
    FÓRUM NICARÁGUA. A pedagogia do dispositivo. Revista
    Devires. Belo Horizonte: UFMG, v. 15, n. 1, jan./jun. 2018.
    MEDEIROS, Marcia – Revelando e Inventando Brasis – o cinema como dispositivo de invenção de mundos.
    Rio de Janeiro. Cinemas e Educações – Multifoco – 2024
    MIGLIORIN, Cezar. O dispositivo como estratégia narrativa.
    In: LEMOS, André; BERGER, Christa; BARBOSA, Marialva
    (org.). Narrativas midiáticas contemporâneas. Porto Alegre:
    Sulina, 2006, p. 82-94.
    MIGLIORIN, Cezar. Inevitavelmente cinema: educação, política
    e mafuá. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2015.
    ROLNIK, Suely; GUATTARI, Félix. Micropolítica: cartografias
    do desejo. Petrópolis: Vozes, 1986.