Ficha do Proponente
Proponente
- LORENNA COSTA MONTENEGRO (UAM)
Minicurrículo
- Crítica de cinema, curadora, roteirista, jornalista cultural e professora de roteiro na Academia Internacional de Cinema, AIC-SP. Integra o Coletivo Elviras, a ABRA (Associação Brasileira dos Roteiristas Autores) e a Abraccine, além do +Mulheres do Audiovisual. Filiada ao FORCINE, é bacharel em Jornalismo, cursou Produção Audiovisual na PUCRS e tem especialização em Cinema e Linguagem Audiovisual na Estácio de Sá.Votante Internacional no Globo de Ouro, ministra formações sobre história e crítica
Ficha do Trabalho
Título
- Estudo das cineastas e suas obras de contra cinema – uma nova historiografia da arte cinematográfica
Eixo Temático
- ET 4 – HISTÓRIA E POLÍTICA NO CINEMA E AUDIOVISUAL DAS AMÉRICAS LATINAS E DOS BRASIS
Resumo
- Buscando analisar comparativamente, por meio de uma proposta de sistematização de estratégias, no caso, de modo de produção cinematográfica, as escolhas temáticas envolvendo a vida das mulheres nos roteiros dos filmes por uma abordagem feminista no discurso de cineastas atuantes no Brasil, na América Latina, na Ásia e na Europa Oriental. A apresentação propõe uma nova historiografia, tergiversando sobre o trabalho no cinema e a condição feminina em filmes surgidos durante a 2ª onda feminista.
Resumo expandido
- Em meados dos anos 60, muitos direitos foram conquistados após reiteradas lutas das mulheres, no que se convencionou chamar de Segunda Onda Feminista – movimento insurgente nessa década e que perduraria até os anos 80. Se as mulheres passariam a partir de então a se questionar sobre O Que É Ser Mulher e obter algumas respostas a partir dessa aferição, às cineastas mulheres coube o importante papel de refletir e provocar a mudança de paradigma sobre como a mulher era representada no cinema e em especial, propor filmes experimentais na linguagem, indo de encontro ao cinema canônico e também endereçando nos temas, questões sobre a condição feminina – e em especial sobre o trabalho, sendo ele remunerado ou estratificado no ambiente doméstico e familiar.
No Brasil e na Amazônia Brasileira, na América Latina, na Hungria e no Japão, as cineastas Helena Solberg, Edna Castro e Simone Raskin, Sara Gómez, Marta Rodríguez, Marta Mészáros e Kinuyo Tanaka fizeram obras que confrontavam o status quo, assinalando por meio das suas personagens reais ou ficcionais que às mulheres cabia a liberdade da opressão de uma sociedade misógina. Pontes invisíveis conectam seus filmes, como o modo de produzi-los, as escolhas temáticas envolvendo a vida das mulheres e uma abordagem feminista desses assuntos.
Fosse uma jovem recém casada que, numa narrativa coral e multifacetada, com a escolha de imagens de arquivo que se sobrepõe aos áudios das entrevistas com mulheres de diferentes idades e visões de mundo, ainda que pertencentes à mesma classe social, vão expressando suas insatisfações cotidianas (A Entrevista, 1966; Solberg) o que cria um elo provocativo com A Noite das Mulheres (1961). Nessa obra de Kinuyo Tanaka, roteirizada por Sumie Tanaka, as trabalhadoras sexuais vivem criminalizadas após o estabelecimento da lei anti-prostituição no Japão, sendo essa uma obra de cunho coletivo pois assinala o movimento delas para escaparem da violência, resistirem ao preconceito com coragem, buscando formas de subsistência após a proibição. É um filme de tom soturno, quase solene, com uma narrativa que vagueia junto com as mulheres por vielas, mercados, campos de rosas e finalmente chega no mar. O movimento de trabalhadoras é o cerne de Marias da Castanha (1987; Castro e Simone Raskin), documentário de cinema direto que aborda a vida de operárias em uma fábrica de castanha na periferia de Belém do Pará, dentro e fora dela; os sonhos, anseios, e cansaços relacionados a exploração no sistema capitalista.
O trabalho fabril é substituído pela artesania na fabricação de tijolos rudimentares em Chircales (1972), de Marta Rodríguez e Jorge Silva; mulheres tomando à frente da produção e dos cuidados com a casa e os filhos e enquanto retratam, o casal de documentaristas gera uma metodologia de fazer cinematográfico adaptada às condições sociopolíticas da América Latina, o que também o faz Sara Gómez em Cuba, com menos rigor documental mas entendendo a necessidade de ocupar as bordas da imagem com o real mesmo que encenado ou hibridizado em recursos ficcionais, que é o que executa com maestria em De Cierta Manera (1974), onde ela coloca um casal para passear pelas ruas de Havana, cruzar com personagens outros anônimos ou famosos, tecendo um panorama antropológico e cultural muito pujante sobre a vida na ilha naquela época. Goméz acabou falecendo durante o processo de produção e o filme foi completado por outro cineasta cubano, Tomás Gutiérrez Alea. Como a década de 70 está em curso, outra trabalhadora fabril, na casa dos 40 e poucos anos, quer ter um filho com seu namorado mas a partir da recusa dele, se encontra com uma jovem delinquente grávida, resolvendo cuidar dela e do bebê. A cineasta húngara, que ficou órfã na infância, sempre foi afeiçoada a personagens comuns, da classe trabalhadora, donas de casa ou estudantes. Adoção (1975), o filme em questão, trata de abandono, maternidade e sororidade, ecoando perfeitamente com as outras obras antes mencionadas.
Bibliografia
- Livros:
ÁLVARES, Maria Luzia Miranda; VERIANO, Pedro; Affonso, J.A. (Orgs.) A Crítica de Cinema em Belém. Falangola, 1986.
AVELLAR, JOSÉ CARLOS. A Ponte Clandestina: Teorias de Cinema na América Latina. EDUSP/Editora 34, 1995.
VERIANO, Pedro. Cinema no Tucupi. Secult, 1999.
BUARQUE DE HOLANDA, Heloísa. Quase Catálogo1. Rio de Janeiro, 1989. (periódico)
BOLTON, Lucy. Film and Female Consciousness, Edit.: Palgrave MacMillan; 2011ª edição, 2011.
HOLANDA, Karla (org.) Mulheres de Cinema. Numa Editora, 2019.
HOLANDA, Karla. CAVALCANTI TEDESCO, Marina (org.) Feminino e Plural: Mulheres no Cinema Brasileiro. Papirus Editora, 2017 (1ª edição)
LAURETIS, Teresa de. Alice Doesn T: Feminism, Semiotics, Cinema, Edit.: Indiana University Press; New ed edição (1984).
MULVEY, LAURA. Prazer Visual e Cinema Narrativo. In: XAVIER, Ismail (org.). A Experiência do Cinema (antologia). Editora Graal, 1983.
WHITE, PATRICIA. Women ‘s Cinema, World Cinema Projecting Contemporary Feminisms. Duke University Pre