Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Wallace Cordeiro dos Santos (UFMG)

Minicurrículo

    Jornalista. Mestre em Ciências da Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia, da Universidade Federal do Pará. Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Ficha do Trabalho

Título

    Metodologia da terra: uma análise territorializada de Zawxiperkwer Ka’a-Guardiões da Floresta (2019)

Resumo

    Este trabalho pretende trazer uma análise territorializada do documentário Zawxiperkwer Ka’a – Guardiões da Floresta (2019). A partir de uma pequena vivência na Terra Indígena Caru, no estado do Maranhão, pretendo trazer elementos presentes no território e apresentados por um dos cineastas do documentário, Jocy Guajajara

Resumo expandido

    Durante o período de 19 a 25 de novembro de 2024, eu estive na Aldeia Maçaranduba, na Terra Indígena (TI) Caru, na Amazônia Maranhense. O objetivo dessa viagem era o de se estar junto ao território para em conjunto com a comunidade fazermos uma análise sobre as imagens produzidas pelo povo Guajajara, em especial na linguagem cinematográfica. Esse gesto metodológico de ir ao território para acrescentar elementos afropindorâmicos (Santos, 2015) às nossas análises está sob a perspectiva de pensarmos uma comunicação intermundos (Oliveira, Figueroa, Altivo, 2021), onde propomos um encontro entre os saberes sintéticos da universidade e os saberes orgânicos do povo Guajajara (Santos, 2023). Nesse texto trabalharemos a partir de um dos documentários produzidos pelos cineastas guajajaras, Zawxiperkwer Ka’a – Guardiões da Floresta (2019), onde proponho uma análise imagética territorializada, ou uma análise guajajarizada.
    O documentário Zawxiperkwer Ka’a – Guardiões da Floresta (2019), é assinado por Jocy Guajajara e Milson Guajajara. A produção é resultado de um conjunto de oficinas de audiovisual ministradas pelo projeto Vídeo nas Aldeias (VNA), que faziam parte do plano de compensações pela expansão da Estrada de Ferro Carajás, da Vale (Oliveira, Santos, 2022). O documentário retrata a rotina de trabalho do grupo Guardiões da Floresta da TI Caru e entre outros acontecimentos, mostra a ação de grandes pecuaristas que pagam vaqueiros e peões para soltar o gado na TI Caru com o objetivo de fazer uso irregular das terras supostamente protegidas pelo Estado brasileiro.
    Naqueles dias de final de verão amazônico, conversei com Jocy Guajajara, um dos assinantes da direção do documentário, na base dos Guardiões da Floresta e ele me contou algumas questões sobre como foi o desenvolvimento e sobre algumas cenas, como o grande varal de carnes, a cena final em que os indígenas encaram vaqueiros invasores e desdobramentos. A conversa com Jocy Guajajara no seu território, traz elementos que somente uma análise territorializada das imagens poderia apresentar. São alguns desses elementos que pretendo apresentar nesta comunicação
    Penso ainda que a partir de uma análise territorializada das imagens, o povo Guajajara mostra uma contracolonização (Santos, 2015) da história, contada agora a partir da perspectiva dos seus modos de ser e viver. A ida ao território apresentou chaves que mudaram a perspectiva histórica do que eu estava realizando em relação ao trabalho com as imagens produzidas pelos Guajajara. Pois “é o território que situa, evoca e recorda, é a memória, os ancestrais, a consciência coletiva e as lutas de e para a vida, liberdade e humanidade.” (Walsh, Salazar, 2022, )
    Proponho, por fim, quero ressaltar a importância que o cinema têm ganhado não só entre a comunidade Guajajara, como em diversas outras comunidades indígenas espalhadas pelo país. A fiscalização, monitoramento e proteção territorial hoje são acompanhadas de celulares ou outros dispositivos que possam capturar imagens, que podem servir como provas contra aqueles que não respeitam e degradam os territórios indígenas.

Bibliografia

    OLIVEIRA, Luciana de. SANTOS, Rodrigo. Cinema Guajajara para descolonizar olhares sobre as relações entre povos indígenas e Amazônia no documentário Zawxiperkwer Ka’a/Guardiões da Floresta. Congreso ALAIC 2022, 2022, Buenos Aires. Memorias Congreso ALAIC 2022, 2022. v. 1
    OLIVEIRA, L. DE; FIGUEROA, J. V.; BÁRBARA REGINA ALTIVO. Pensar a comunicação intermundos: fóruns cosmopolíticos e diálogos interepistêmicos. Galáxia. Revista Interdisciplinar de Comunicação e Cultura, n. 46, 2021.
    SANTOS, Antônio Bispo dos. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora / Piseagrama. 112 p, 2023.
    SANTOS, Antônio Bispo dos. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília, INCTI/ UNB, 2015.
    WALSH, Catherine; SALAZAR, Juan García. Memória coletiva, escrita e Estado. Práticas pedagógicas de existência afroequatoriana. Trad. Carlos Eduardo Bao. Revista Em Tese, Florianópolis, v. 19, n. 01, p. 221­240, jan./jun., 2022