Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Diego Blanco de Amorim (UFRJ)

Minicurrículo

    Graduado em Rádio & T.V; com mestrado em “Estéticas e tecnologias da comunicação”, ambos pela UFRJ. É diretor, roteirista e montador com doze anos de experiência no mercado audiovisual. Escreveu, editou e dirigiu alguns curtas-metragens de ficção, com destaque para: “Tempos de caça”, (2020) e ̈Quando as pedras dilatam ̈, (2019), exibidos em mais de vinte festivais nacionais e internacionais. Atua também como instrutor de cursos de cinema no projeto “Imagens em Movimento” e no SESC-R.J

Ficha do Trabalho

Título

    Reflexões sobre as temáticas anuais propostas pelo programa Cinéma, Cent Ans De Jeunesse no Brasil.

Eixo Temático

    ET 5 – ETAPAS DE CRIAÇÃO E PROCESSOS FORMATIVOS EM CINEMA E AUDIOVISUAL

Resumo

    Durante os últimos quinze anos o projeto Imagens em Movimento seguiu a linha pedagógica e o método elaborado pelo programa francês Cinéma, Cent Ans De Jeunesse (CCAJ), oferecendo oficinas de cinema em escolas públicas do Rio de Janeiro e em outros estados brasileiros. O intuito desse trabalho é levantar uma série de reflexões sobre esse modelo, focando nas escolhas temáticas anuais e sua aplicabilidade no contexto brasileiro.

Resumo expandido

    Nascido dentro da Cinemateca Francesa em 1995, o projeto Cinéma, Cent Ans De Jeunesse (CCAJ) foi concebido, desde o início, para ser um grupo de pesquisa inovador sobre cinema. Ele oferece segundo sua própria definição: “um experimento educacional de cinema que concilia o aguçamento da percepção com a experiência criativa. A cada ano, ele cria grupos de treinamento em escolas e ambientes extracurriculares onde os jovens têm a chance de trabalhar com profissionais de cinema regularmente”. Por trás dessa iniciativa está o professor, crítico e cineasta Alan Bergala que elaborou um método que permite que “grupos de jovens entre 6 e 18 anos em todo o mundo participem de uma experiência cinematográfica única, combinando a descoberta do cinema com uma abordagem rigorosa focada em uma questão diferente sobre cinema, escolhida a cada ano”.
    O Projeto Imagens em Movimento, em parceria com o CCAJ, inicia em 2010 a primeira tentativa brasileira de colocar em prática essa pedagogia no Rio de Janeiro. A iniciativa é posta aos desafios da práxis em colégios públicos no Rio, majoritariamente fora da zona sul carioca. Ao longo do tempo o projeto se expande para outros estados como Bahia, São Paulo e Espírito Santo. Desde 2014, participo do projeto como professor: foram mais de dez escolas, vinte e duas oficinas e dezenas de filmes realizados.
    Seguir o modelo proposto pelo projeto, alinhado com as diretrizes lançadas pelo CCAJ com seus temas e submetas anuais, suas regras do “jogo”, a curadoria dos trechos de filmes , as discussões teóricas, o contato com os outros colégios da rede foi e é um desafio constante. Colocar esse modelo em prática, com as adaptações necessárias à realidade da escola pública brasileira, durante essa década, me fez entrar em contato com suas limitações e virtudes num amálgama de desafios, dúvidas, surpresas, realizações e questionamentos.
    “Mostrar e esconder”, “As cores”, “O clima”, “ A sensação”, “O lugar e suas histórias”, “O jogo”, “Centrar e descentrar”, “Indivíduo, grupo e comunidade”, “Filmar o outro, o gesto documental”, são alguns dos temas desenvolvidos pela pedagogia do CCAJ. Voltar e recapitular essas experiências, organizar o material , mediar os temas para a realidade brasileira para meu futuro projeto de doutorado, suscitaram muitas perguntas e inquietações.
    No sentido prático, pretendo nesse trabalho apresentar algumas reflexões sobre esse modelo focando nas escolhas temáticas, levando em conta os resultados de inúmeras oficinas nos 15 anos do projeto, mas também nas reuniões pedagógicas dos professores no Brasil, nas inúmeras descrições das práticas compartilhadas pelo blog do projeto, nas reuniões internacionais com os outros professores.
    De um modo geral, também fazer uma espécie de arqueologia dos temas desde sua criação e propor uma reflexão sobre suas reverberações: Até que ponto eles funcionaram como dispositivo ou não? Quais são suas forças e fraquezas? Em que medida, elas conseguiram abrir um espaço para a criação e entendimento do cinema como arte pelos alunos? É possível algum método para avaliar a qualidade de cada tema? Em que medida as regras do jogo e diretrizes temáticas ajudam ou limitam o entendimento e a prática do cinema nas escolas?
    Além disso, qual o limite desse método em termos de continuidade, produção de mais temas, da continuação em si do projeto? É possível replicar essa experiência em outros formatos? Diante das escolhas de curadoria do CCAJ muitas vezes focada em uma perspectiva mais cânone do campo do cinema de arte, focada nas filmografias de autores e países de “primeiro mundo”, é possível forjar e organizar uma nova filmografia mais brasileira, latino americana, “terceiro mundista” para esses mesmos temas? Ou, numa perspectiva mais radical, antropofágica, é possível usar essa experiência e extrair dela o seu melhor para qualificar outros cursos/oficinas de cinema, não contidas nesse modelo? Inclusive no âmbito universitário?

Bibliografia

    BERGALA, Alain. A hipótese-cinema. Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD-LISE-FE/UFRJ, 2008.
    DILLON NUNES, Ana. Projet Images en Mouvement: rapport d’une expérience d’initiation au cinéma, mise en place dans les collèges publics de Rio de Janeiro, en partenariat avec le dispositif pédagogique Le Cinéma, cents ans de jeneusse. Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3, Paris, 2012.
    FRESQUET, Adriana (2013). Cinema e educação – Reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica Editora.
    MIGLIORIN, Cezar. Inevitavelmente cinema: educação, política e mafuá. 1a ed.- Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2015.
    NORTON, Maíra, Cinema Oficina: técnica e criatividade no ensino do audiovisual / Maíra Norton. – Niterói:Editora da UFF, 2013.
    PIPANO, Isaac, Isso que não se vê : pistas para uma pedagogia das imagens/Isaac Pipano; Cezar Migliorin, orientador. Niterói, 2019.