Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Heverton Souza Lima (UFRGS)

Minicurrículo

    Mestrando em Economia da Cultura pela UFRGS, com formação prévia em Economia (Unesp), Cinema (UFF) e mestrado em Cinema e TV pela ECA/USP. Áreas de interesse acadêmicos: economia criativa, mercado audiovisual e suas intersecções políticas. É professor da ESPM-SP e produtor executivo da Paideia Filmes, com obras exibidas em festivais internacionais e licenciadas para Mubi, Prime Video e Globoplay.

Ficha do Trabalho

Título

    Extrativismo simbólico e barreiras à entrada: o impacto das plataformas de streaming no audiovisual

Eixo Temático

    ET 2 – INTERMIDIALIDADES, TECNOLOGIAS E MATERIALIDADES FÍLMICAS E EPISTÊMICAS DO AUDIOVISUAL

Resumo

    A pesquisa investiga como plataformas de SVOD impõem barreiras contratuais, institucionais e simbólicas a pequenas produtoras brasileiras. A partir do modelo Estrutura–Conduta–Desempenho, analisa contratos, práticas curatoriais e efeitos sobre a sustentabilidade do setor independente, propondo uma leitura crítica do streaming como forma de extrativismo simbólico e de concentração de valor no campo audiovisual.

Resumo expandido

    A consolidação das plataformas digitais de vídeo sob demanda por assinatura (SVOD) redesenhou o campo audiovisual global, instaurando novas lógicas de circulação, apropriação e controle simbólico das obras. No Brasil, esse processo tem implicado a imposição de barreiras econômicas, institucionais e tecnológicas à inserção de produtoras independentes, sobretudo as de pequeno porte, nas cadeias de valor do streaming. Esta pesquisa, em andamento, investiga as relações entre plataformas como Netflix, Amazon Prime Video, Globoplay, Max e Disney+ e produtoras brasileiras classificadas nos níveis I, II e III pela ANCINE, com ênfase nos custos de transação e nos entraves contratuais que operam como formas contemporâneas de exclusão.

    Amparado no modelo Estrutura–Conduta–Desempenho (E–C–D), o estudo propõe uma releitura crítica dos conceitos de barreiras à entrada e custos de transação à luz das novas dinâmicas do audiovisual digital. Dialogando com autores da economia institucional (Coase, North, Langlois) e da crítica à concorrência (Robinson, Bain, Shaikh), a pesquisa parte da hipótese de que o mercado de SVOD opera como uma estrutura de governança cativa, na qual os produtores locais assumem riscos criativos e operacionais, mas são excluídos do controle sobre a circulação e a exploração de suas obras. Contratos padronizados de cessão integral (buy-out), exigências técnicas rígidas e ausência de transparência curatorial configuram um ambiente de baixa autonomia e alta assimetria, agravado pela falta de regulamentação nacional específica.

    A análise empírica mobiliza dados secundários de fontes como ANCINE, OCA, Filme B e BB Media, além de entrevistas e aplicação de questionário com produtoras filiadas à API. O foco recai sobre a presença e a natureza dos vínculos entre essas empresas e as plataformas, bem como os obstáculos enfrentados por produtoras que não acessaram o mercado de SVOD. Os resultados preliminares indicam alto grau de concentração simbólica e contratual, baixa recorrência nos vínculos e forte impacto sobre a sustentabilidade produtiva do setor independente.

    Ao investigar as barreiras visíveis e invisíveis que limitam o acesso ao streaming, o estudo contribui para o debate sobre políticas públicas, diversidade cultural e descentralização da produção audiovisual no Brasil. Além disso, ao compreender o streaming como forma contemporânea de extrativismo simbólico — que captura valor e visibilidade sem garantir autonomia ou retorno simbólico aos produtores locais —, a pesquisa dialoga diretamente com o tema proposto pela SOCINE 2025. Trata-se de uma reflexão crítica sobre a lógica de apropriação dominante que, assim como nas representações da Amazônia, transforma territórios criativos em reservas de imagem exploradas de fora para dentro, sem escuta nem reciprocidade.

Bibliografia

    ANCINE. Panorama do mercado de vídeo sob demanda no Brasil: 2022–2024. Brasília: ANCINE, 2024.
    ARONCHI, José Carlos. Set a zero: a queda das barreiras de entrada para os negócios audiovisuais. Revista GEMInIS, São Carlos, v. 8, n. 2, p. 1–15, 2017.
    BAIN, Joe S. Barriers to new competition. Cambridge: Harvard University Press, 1956.
    COASE, Ronald H. The nature of the firm. Economica, v. 4, n. 16, p. 386–405, 1937.
    NORTH, Douglass C. Institutions, institutional change and economic performance. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
    ROBINSON, Joan. The economics of imperfect competition. London: Macmillan, 1933.
    SHAIKH, Anwar. Capitalism: competition, conflict, crises. Oxford: Oxford University Press, 2016.
    BAIN, Joe S. Barriers to new competition. Cambridge: Harvard University Press, 1956.
    COASE, Ronald H. The nature of the firm. Economica, v. 4, n. 16, p. 386–405, 1937.
    NORTH, Douglass C. Institutions, institutional change and economic performance. Cambridge: Cambridge Un